A grande produção de conteúdo na internet trouxe-nos tamanha variedade em termos de entretenimento e aprendizado em potencial. Livros, peças teatrais, espetáculos e cursos chegam a muito mais pessoas que num passado não tão distante. Com uma mídia (meio) mais acessível e abrangente vem uma maior capacidade de influência massificada, tanto que assim chamam os novos produtores de conteúdo: influenciadores.
Para o mal ou para o bem é o que realmente são, por mais brega e genérico que seja o termo, por mais imbecis que sejam as influências. Dentre os influenciadores estão humoristas e comediantes, praticantes da milenar arte poética de fazer pessoas rirem. O interessante do humor e da comédia é que, por princípio, a sua influência deve ser oposta, pois tal arte dente a imitar (mímese) e representar os mais reprováveis comportamentos da humanidade, desencorajando e constrangendo a imitação de tais hábitos.
Aristóteles nos diz em sua Arte Poética:
“A comédia é, como já dissemos, imitação de maus costumes, mas não de todos os vícios; ela só imita aquela parte do ignominioso que é o ridículo”
Em sua Defesa da Poesia Sir Philip Sidney esclarece: “[…] a comédia é uma imitação dos nossos erros comuns, os quais o cômico representa da maneira mais ridícula e desprezível que se possa imaginar a fim de sustar qualquer desejo que um espectador possa ter de cometê-los”.
“Troça e simplesmente troça, para que tudo caia no ridículo”, dizia nosso Lima Barreto. Mas parece que as novas gerações não compreendem bem o papel da comédia, pois aquilo que deveria ser reprovado é justamente o que está a ser aprovado. Como estão todos os valores invertidos, o que deveria ser ridículo é louvado. A admiração e veneração pelo comediante ou humorista permite que haja a influência direta no comportamento representado pelo artista influenciador. Sobretudo dos comediantes de stand-up, pois não representam personagens, mas a si mesmos, supostamente, com todo o exagero e fingimento próprio da comédia.
E isso leva ao fenômeno da inversão de valores, que seria cômico se não fosse trágico. Ao rirem do influenciador num “personagem” maconheiro, mulherengo, sexualizado, boca-suja, intemperante, desrespeitoso e toda sorte de vícios, não passam a reprovar os comportamentos, mas a admira-los e verem de modo normalizado, descolado, engraçadinho no melhor sentido (o que não é).
Deixar-se influenciar por comediantes dessa forma é uma completa imbecilidade, além da inversão de valores supramencionada. Rir de ignominias não quer dizer jamais que as mesmas sejam agradáveis, mas sim motivo de vergonha, de insensatez, de ridicularização.
Por não falar-se mais em certo ou errado, o instinto será sempre em imitar o que agrada aos humores. O relativismo moral fará com que a civilização caia rendida, à míngua, decadente, impotente, imbecilizada… morrendo de dar gargalhadas.