Prelúdio
0:59 – Countdown
Tudo pronto, contagem regressiva iniciada. Em menos, ou pouco mais, de um minuto serei massacrada, provavelmente assassinada num evento esportivo. Numa luta de MMA. Meu oponente… – Vão tomar nos olhos dos seus cus, ok. Recuso chamar um homem, um galalau de 146kgs, que sequer teve a decência de operar para mudar de sexo, de mulher. É e será, sempre, um homem, não importa quantas Cortes, Advogados, Médicos e demais lacaios digam o contrário.
Uma mulher de 56kgs vai enfrentar um brutamontes com quase três vezes o seu peso. Pior que tudo isso, sob os aplausos de uma multidão ensandecida que grita: “morte aos racistas, morte aos negacionistas, viva a ciência…”
0:58 – Deixei de ser preta, tornei-me algo pior que um branco racista
Sim, sou chamada de racista. – Como assim, racista? Porra?! Vocês estão loucos? Teve um negócio para o qual nunca me dei conta, afinal sou Atleta, não Jurista ou qualquer outra profissão dos mandriões e verdugos do sistema. – Não, não são palavras minhas. Mandrião e Verdugo são palavras que meu Advogado usou na Corte quando defendeu meu caso.
Não sei, sinceramente, o que significam, deixaram os juízes irritados ao ponto de determinarem a sua exclusão sumária, imediata e sem direito a recurso dos quadros da Associação de Advogados.
Se eu fiquei irritada com ele? Claro que sim!! Será que usar duas palavras de forma inadvertida valeriam sua carreira e, provavelmente, minha vida?!
(Ainda no momento 0:58’’)
Mas é claro que sim. Embora tenha ficado irritada e, quiçá – outra palavra que aprendi com ele –, frustrada, percebo que todo o julgamento fora, em si, uma farsa. A luta aconteceria e o Advogado seria caçado, sim, o cedilha é proposital, ok, pois não se limitaram a tirar dele o seu sustento, seu direito a um trabalho digno. Foi muito, mas muito pior…
Não tenho certeza, mas o boato é que ele teria sido mandado aos Campos de Clarificação da Mente e Melhor Entendimento do Combate ao Nazi-Fascismo. Não se impressionem com o nome. Eram prisões onde os condenados (ainda que não houvesse previsão legal alguma desses supostos crimes) eram colocados para trabalhar e torturados até a morte. Na entrada da prisão, dos poucos que lá estiveram e saíram vivos para contar, havia a seguinte frase:
O TRABALHO LIBERTA
Arbeit macht frei
工作自由
Não, não há graça em praticar um estelionato se eu não puder esfregar na cara da vítima que ela está sendo enganada. Existe o prazer intelectual de mostrar-se tão inteligente, tão esperto, a ponto de aplicar a trampa sob as ventas da vítima.
Ele, que tinha o hábito, irritante a alguns, de contar sempre as mesmas histórias, eu achava engraçadinho, falava bastante sobre isso. Exemplificava dizendo que num processo em que trabalhara, uma vida atrás, no qual o advogado do defensor criou uma testemunha inexistente e deu, como endereço para a mesma, o de uma casa que tinha na praia.
(Mesmo após robustas provas do registro imobiliário local, o juiz negou-se a condená-lo pela fraude sob o auspicioso/coringa argumento de que o advogado em questão o fazia em razão de relevante valor moral ou social.)
0:56’’.89
Relevante valor moral ou social: leia-se, termo indeterminado apto a justificar toda e qualquer barbaridade, inclusive uma mulher de 56kgs ser espancada, em rede mundial, por um HOMEM de 146.
0:56’’.76
Tem este outro caso que ele gostava de contar. Tinha um Perito Judicial corrupto que prestava serviços a narcotraficantes. Certa vez, aconteceu de um narcotraficante pedir empréstimo a um Banco Público e o gerente da agência negar.
Como resposta, o marginal em questão mandou colocar fogo no filho do gerente e transmitir no YouTube. Esse vídeo já tem mais de 0,5 bilhão de visualizações.
Ocorre que a marca, o refinamento intelectual do perito para o caso, foi colocar no Atestado de Óbito a causa mortis:
AFOGAMENTO
Com um importante e crucial detalhe: qualquer um que conteste um laudo pericial homologado pelas mais Altas Cortes de Justiça pode ser condenado por Fake News.
Por outra, mesmo que meio bilhão de pessoas tenham visto o vídeo com uma criança sendo queimada viva, se você afirmar, num documento judicial que aquela criança não morreu afogada você pode ser preso e ter seus direitos civis revogados.
– Direito Civis, esta palavra tornou-se uma piada de péssimo gosto. – Que caralho de direito civil é esse onde eu não posso me expressar livremente????
0:56’’.41 – Disclaimer importante
A palavra narcotraficante tornou-se politicamente incorreta, ok. Seu uso pode gerar as piores consequências legais possíveis. O correto agora é dizer: Comerciante de substâncias relaxantes, estimulantes, revigorantes, outrora injustamente discriminados por setores ultraconservadores, regressistas e nazifascistas da sociedade.
Claro que se o nome mudou e o tipo penal deixou de existir, algum tipo de ação afirmativa teria que ser usada. Hoje, todos, absolutamente todos cidadãos, tem que usar uma dose segura, a variar de acordo com sua idade/condição física, de crack, cocaína, heroína, metanfetamina, maconha, dentre outras.
Não! Crianças, mesmo os recém-nascidos, e idosos não estão isentos.
(Notas deste autor: Este conto, ainda não concluído – obviamente –, se passa no mesmo Universo de “O dia em que Ayrton Senna não morreu na Tamburello”? A resposta é: provavelmente sim, mas não tenho certeza. O que posso garantir é que, seguramente, estarão no mesmo livro. Algum de vocês poderia pensar: “Papini, você exagerou na hipérbole. Nunca que teremos uma luta entre um homem de 150 quilos contra uma mulher de 60”. – Sério mesmo que você acha que exagerei? Certeza. Qual parte dos eventos dos últimos 4 anos você não acompanhou? Já temos no MMA um lutador, um caminhoneiro (Fallon Fox), sendo pago para espancar mulheres no ringue. Remédios experimentais estão sendo inoculados em crianças. Pesquisadores e (de)formadores de opinião, sob a nobilíssima causa de combater o aquecimento global, estão a propor as mais cruéis dietas a que nós, os escravos, deveremos nos impor. De carne humana a fezes. Isso mesmo, há pesquisadores sugerindo que comamos carne humana, outros, que incluamos “merda” temperada em nossos cardápios. Meus pequenos gafanhotos, minha preocupação não se o texto é ou não exagerado; minha preocupação, com efeito, diz respeito a eu estar escrevendo uma profecia. Parte mais importante desta Nota: Esses contos integrarão, não necessariamente no mesmo Universo Ficcional (mas, provavelmente sim), um livro de contos que prefiro chamar de “Ficção Profética” ao invés de “Ficção Distópica”.