É importante dizer que para compreender uma personalidade histórica, ou melhor, fatos históricos em geral, devemos fugir da visão anacrônica que tanto nos faz cometer injustiças. E do que se trata esta tal visão anacrônica? É a visão que se utiliza de conceitos, idéias e valores de uma determinada época para avaliar outro período bem distinto.
Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança, a princesa Isabel, nasceu no Paço Imperial no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1846 e faleceu no castelo D’Eu na França em 14 de novembro de 1921.
A princesa imperial do Brasil é conhecida principalmente por ter assinado a lei que proclamou a abolição da escravatura, a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, por este ato é chamada de “a redentora”.
D. Pedro II e sua esposa, a imperatriz Teresa Cristina das Duas Sicílias tiveram ao todo 4 filhos, pela ordem de nascimento: D. Afonso Pedro (1845-1847), D. Isabel (1846-1921), D. Pedro Afonso (1848-1850) e D. Leopoldina (1847-1871). Com o falecimento do primogênito D. Afonso Pedro em 1847, a princesa Isabel foi declarada herdeira presuntiva do império, porém, após o nascimento do terceiro filho, D. Afonso Pedro em 1848 a princesa deixa de ser herdeira para voltar a ser em 1850 com o falecimento de seu segundo irmão.
Como a herdeira presuntiva do Império do Brasil, ela recebeu o título de Princesa Imperial.
Em 15 de outubro de 1864 casou-se com o príncipe Gastão de Orléans , o Conde D´Eu e teve 4 filhos: D. Luisa Vitória (1874-1874) D. Pedro de Alcântara (1875-1940) D. Luis (1878-1920) D. Antonio Gastão (1881-1918).
Pela Constituição de 1824, os príncipes da Casa Imperial tinham direito a assento no senado, tão logo completassem 25 anos. Por esse critério, a Princesa Isabel foi a primeira senadora do Brasil.
A partir de 1870, D. Pedro II, quando se ausentava do Brasil, delega à filha as funções de chefe de Estado.
Pode-se dizer que a Princesa Isabel foi a segunda mulher a reger o Brasil, a primeira foi a sua avó D. Leopoldina que assumiu o cargo de regente enquanto D. Pedro I viajava, assinando inclusive o documento de separação do Brasil de Portugal em 1822.
Por três vezes que o imperador D. Pedro II esteve fora do Brasil, Isabel tornou-se princesa regente.
Na Primeira Regência, em 1871, a princesa regente sancionou a Lei do Ventre Livre. A lei foi promulgada em 28 de setembro do mesmo ano e resolvia que nenhuma criança nascida de escravas negras seria também escrava.
A Segunda Regência ocorreu entre 1876 e 1877.
Na Terceira Regência, transcorrida entre o fim de 1887 e o início de 1888, a princesa Isabel, aderiu explicitamente à causa abolicionista, passando a se envolver diretamente com protagonistas do assunto, tais como André Rebouças e Joaquim Nabuco. Nesse período, ela entrou em confronto direto com o Ministro Barão de Cotegipe, escravocrata, que foi obrigado a se demitir do posto. Foi nessa terceira estadia no poder que, em 13 de maio de 1888, a princesa assinou a Lei Áurea.
Com o golpe que resultou na proclamação da república em 15 de novembro de 1889, a princesa Isabel foi obrigada a deixar o país e foi morar em Paris nas propriedades de família do Conde D’Eu.
Há muitos relatos de que a princesa não foi preparada para assumir o governo do Brasil e que não tinha interesse em fazê-lo. No entanto, sua educação era muito mais ampla que as mulheres de sua época. D. Pedro definiu que a educação de suas filhas fosse igual a dos homens, porém que não se distanciasse da finalidade da educação das mulheres que era de prepará-las para o casamento e consequentemente para a maternidade.
A princesa Isabel estudou latim, francês, italiano, alemão, fotografia e inúmeras outras disciplinas. Tinha uma rotina de estudos muito rígida de cerca de oito horas e meia por dia, 6 dias na semana. Era estudiosa de botânica, colecionadora de orquídeas e se interessava por pintura
Junto a seu pai, Isabel promovia exposições hortícolas e agrícolas no passeio público de Petrópolis, lugar onde encontra-se o Palácio de Cristal.
Mesmo depois do exílio, a Princesa Isabel ainda se envolvia com várias atividades do Brasil, a construção da Catedral de Petrópolis foi uma delas.
Em 1920 foi concedida a autorização para a volta da família real ao Brasil, porém a saúde da princesa já era demasiadamente fraca, não conseguindo retornar a seu país. Faleceu no ano seguinte.
Em 2012, Antônio de Orleans e Bragança e o professor historiador Hermes Rodrigues Nery foram à sede da Arquidiocese do Rio de Janeiro e entregaram a carta que daria início ao processo de canonização da princesa Isabel.
A princesa Isabel foi uma mulher de seu tempo e é um clássico exemplo de que as mulheres podem ser o que quiserem, inclusive regentes, princesas, filhas, mães, esposas, pintoras, senadoras e santas.
Artigo de Flávia Brant especial para o PHVox