Infelizmente de uns tempos para cá o primeiro ministro britânico Bóris Johnson, parece que esqueceu quais pautas foram essenciais para a sua vitória na última eleição em Dezembro de 2019.
As medidas de combate ao vírus chinês ou a ideologia de gênero dentro das escolas britânicas são exemplos práticos do quão afastado BoJo está de sua base eleitoral.
Por questão de justiça, devo dizer que até o momento a política exterior do secretário Dominic Raab tem sido no mínimo satisfatória, e neste quesito os eleitores conservadores estão satisfeitos.
Porém isso não basta, e o debate sobre o governo de BoJo está aberto.
Então caso você não siga a política britânica todos os dias a pergunta que vem é a seguinte: A oposição estaria tirando proveito? Estão prontos para voltar ao poder depois de 10 anos?
Resposta é não!
Explico: O debate acontece dentro de “ambientes” conservadores. Sem pudor algum, tudo aberto ao público em jornais conservadores ( sim os ingleses lêem mais jornais que os brasileiros) rádios e programas de TV.
Ou seja, toda a narrativa está sob controle dos conservadores, que mesmo expondo o fracasso BoJo, dominam o debate público em modo que o afegão médio sequer lembre que existe uma oposição.
Mas como?
Os conservadores britânicos debatem o conservadorismo como nós conhecemos hoje pelo menos desde 1790, quando Edmund Burke publicou sua famosa obra “Reflexões da revolução francesa”. Obviamente que nem sempre o nível cultural foi alto, mas 230 anos de debates serviram para que os conservadores de hoje tivessem ferramentas e dialética suficiente para que mesmo em tempos turbulentos mantivessem a narrativa.
Diariamente as rádios conservadoras abrem os microfones para que seus ouvintes façam perguntas e sejam ouvidos, e mais, para que a sua voz chegue até o parlamento. O principal líder político do país Nigel Farage, responde sem filtro algum as perguntas do público, críticas elas ou não.
Os jornais conservadores debatem entre eles, em uma guerra de capas e editoriais que não poupam BoJo mas defendem o conservadorismo ou seja criticam o governo mas os princípios permanecem intactos.
Com isso o debate entre os socialistas liberais se reduz em tentar de algum modo entrar no debate dos conservadores para aí sim quem sabe ampliar o debate em torno de suas pautas.
Reparem que eu não citei as redes sociais como campo de “batalha”. Talvez em um futuro não muito distante os ingleses irão começar a levantar #, mas no momento o que anda em alta mesmo é o debate e a audiência das rádios conservadoras.
Não é um fenômeno que o governo perca popularidade e consenso mas o seu partido continue forte? Quando o debate é feito em cima de fatos e argumentos o eleitor tem a clara noção que não é preciso buscar uma alternativa na oposição e que o próprio partido conservador tem mecanismos de auto limpeza. Theresa May que o diga.
E não, ninguém está trabalhando nos bastidores para retirar BoJo do número 10 de Downing St, pelo contrário, todo este esforço é para que ele aplique as pautas que o levaram até o poder, justamente esse poder que é “dividido” com as ruas que o elegeram, resumindo, democracia pura que ainda mais reforçada pelo sistema parlamentarista e com um poder moderar ativo da coroa.
Este artigo é dedicado ao meu amigo e companheiro de bancada Brás Oscar, foi ele quem me alertou sobre o debate conservador sadio e orgânico. Sem ele, esse artigo não teria sido escrito.
Ivan Kleber correspondente internacional PHVox direto do Reino Unido.
Excelente texto, Lord Ivan. É necessário que os conservadores monopolizem o debate. O primeiro passo para isso seria que eles começassem a ler mais e gastar menos tempo com tretinhas infantis no YouTube. Aliás, lateralmente estou escrevendo sobre isso, neste momento, aqui para este site. Sinceramente, é quase um pecado que um texto como esse tenha sido lido, até o momento, por 142 pessoas. Grande abraço, meu caro.
“Um país se faz com homens e livros”
Monteiro Lobato