Publicado em 09 de janeiro de 2011, Jornal Inconfidência, Belo Horizonte, MG
Um povo que pede à liberdade mais do que ela mesma, nasceu para ser escravo — Alexis de Tocqueville, O Antigo Regime e a Revolução
Os trabalhadores argentinos nasceram animais de rebanho, e morrerão como tais. Para governá-los basta dar-lhes comida, trabalho e leis para rebanhos que eles se manterão na fila para o abate — Juán Domingo Perón
Terminei o último artigo afirmando que ‘os brasileiros não têm experiência, e conseqüentemente noção, do verdadeiro significado de liberdade individual, vivendo desde sempre sob o tacão português e depois de governos autoritários, iludidos por uma falsa sensação de proteção’.
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Se o povo não tem experiência de liberdade, mas de viver como um rebanho acreditando que a limitada liberdade e autonomia de que goza são dádivas concedidas pelos governantes — os quais, se as dão, podem retirá-las a qualquer momento — um movimento conservador no Brasil conservará o quê? A noção de ser gado de rebanho troteando a chicotadas dos estancieiros (ontem de Lisboa, hoje de Brasília) que reconhecem como seus donos? Sempre gritando por liberdade, mas esperando realmente alguma migalha de forragem que lhes caiba como sobra da farra dos governantes? Que aceita o despautério de reajustes milionários mirabolantes auto-concedidos pela classe governante — dos três poderes — babando de prazer com as migalhas que lhes concedem em nome de um salário de fome chamado mínimo?
Mas aqui esta não é uma Nova Classe, é a velha classe dominante comemorada com júbilo por uma história contada pelos colonizadores.
Comemora-se com entusiasmo a vinda para cá de um reizinho fujão — o único rei europeu que não liderou seu povo contras as tropas napoleônicas — como se esta fuga fosse de uma inteligência enorme e não apenas covardia!
Comemora-se a “abertura dos portos às nações amigas”, concedida por força da imposição britânica e não um direito natural de nosso país arrancado a ferro e fogo no campo de batalha, se necessário fosse.
Comemora-se a fundação de uma instituição que até hoje atazana nossa vida, um banco constituído de “príncipes da República”, que controla os antigos cofres coloniais.
Comemora-se uma “independência” (sic) fajuta, pelas mãos de um príncipe da potência colonial cujos únicos interesses eram as amantes, os bordéis e a morte de seu pai para voltar para a Metrópole como rei. E mais uma vez isto é tido como uma enorme esperteza dos brasileiros que não verteram seu sangue pela liberdade, aceitando uma ignomínia sem par na história dos povos deste planeta!
Desde então continuamos governados pela mesma corja aproveitadora que de tão velha já fede de ranço, mas é aceita com um falso estoicismo, que na realidade não passa de regozijo sadomasoquista, onde todos esperam “chegar lá”, isto é, fazer parte da mesma podridão.
Não estará nestes primórdios da nossa história a origem do famoso “jeitinho brasileiro”, uma atitude hipócrita perante a vida que nos faz aceitar qualquer imundície como se fosse inteligência? Que nos permite desrespeitar qualquer lei porque “ninguém mais respeita, e eu não serei um babaca enquanto os espertos fazem o que bem entendem e se dão bem”? Que nos faz ter uma das mais corruptas e imundas classes políticas de toda a história, criticadas pelos que querem apenas lá “chegar para se dar bem”?
O que este povo tem a conservar? Mesmo sendo contra o aborto, as drogas e a farsa do “casamento” gay, aceitarão facilmente que sejam instituídos, desde que lhe caiam à boca faminta umas quantas migalhas de “dereitos omanos” e possam dizer: “sou contra, mas o que é que eu posso fazer, se “eles” querem assim? “Eles” sendo um eufemismo para “aqueles que gostaríamos de ser”.
Perguntaram-me ironicamente quais são os princípios da República. Não sei de outros, mas bastam-me os seguintes: “Acreditamos serem verdades evidentes por si mesmas que todos os homens nascem iguais e são dotados pelo Criador com certos Direitos inalienáveis, entre os quais a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”.
Se estes são direitos naturais, concedidos por Deus a priori, não podem ser objeto de discussão entre os homens, mas, ao mesmo tempo, torna-os responsáveis únicos e exclusivos por defendê-los.