Quando patinhos nascem, com a eclosão dos ovos, é comum que a mamãe pato esteja próxima do ninho. Os patinhos olham e a reconhecem como “mãe”, passam a segui-la e imitar seus comportamentos. Daí não são patos, apenas, mas agem como patos e são guiados por um ser da mesma espécie. Esse processo foi chamado de “Imprinting” — Cunhagem ou Estampagem — por Konrad Zacharias Lorenz, zoólogo, etólogo e ornitólogo austríaco. [1]

Acontece, contudo, por motivos vários de ventura, da mamãe pato não estar por perto no momento da eclosão dos ovos. O cérebro dos patinhos, bem como de tantos outros animais, não têm robustez suficiente para reconhecerem a pata mãe, associando esta função à primeira coisa ou ser relativamente grande e móvel que vejam, podendo ser uma pessoa, um cão ou mesmo uma caixa de papelão movida ao vento.

Tem muito patinho fazendo “quá quá” para cachorro por aí. Inclusive, pelas forças analogantes, em nosso cenário político mais recente, ocorre o imprinting ideológico. Com o Conservadorismo — na figura de intelectuais, partidos, políticos, imprensa e demais instituições — ausente das proximidades do “ninho político” por um bom tempo, nasceram os patinhos — gente conservadora por natureza, como os patos, que são patos por natureza —, com deficiência filial, e ao primeiro movimento de qualquer coisa ou gente: Quá, quá!

Olha um juiz prendendo bandido: Quá, quá! Reserva moral da nação! Observem, um policial que não gosta de ladrão: Quá, quá! Paladino protetor! Vejam, é um militar patriota: Quá, quá! Herói! Contemplem, é um jornalista falando obviedades: Quá, quá! Influencie-me! Papai… mamãe… governem-nos, eduquem-nos… Quá, quá!

E recebem como resposta: Au, au! E os seguem, e os imitam: Quá, quá! Só sabem dizer quá, quá! É da natureza dos patos. Por falta de referências da mesma “espécie”, vão ao encontro caloroso até de caixas de papelão que o vento leve. Alguns percebem o engano e conseguem salvar-se da anomalia de estampagem, outros, passam um tempo comportando-se como a caixa. São os homens-caixa. Entram na mesma, na mãe postiça, e ficam a pensar: Quá, quá!

É, também, como que algo semelhante à pareidolia, mas crônica e psicótica: olham uma nuvem em formato de cadeira… até aí tudo bem, todos sentimos tal fenômeno, mas daí a tentar sentar-se na nuvem são outros quinhentos. Tem gente que sorri de volta para reboco de parede caindo, em formato de sorriso. Haja psicologia para o Brasil. Há espaço para analogias de qualquer categoria, que behaviorismo algum pode prever o comportamento de certo, e gestaltismo não sabe da forma total, se é que exista. O Brasil é uma insânia sã. É o doido que não rasga dinheiro. É um desatinado, que não sabe quem é, querendo encontrar-se no outro. É o maluco bem intencionado, querendo sentar numa cadeira de nuvens e ser feliz, sorrindo para as paredes, ainda que caindo os rebocos.

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Notas

[1] Em 1973, Konrad Lorenz foi agraciado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina, por seus estudos sobre o comportamento animal, a etologia.