A idéia que se tem de um revolucionário é de uma pessoa livre e desimpedida, que não tem apego a nada e que acredita que o que existe pode ser mudado todo o tempo. Para ele, não existiria o sagrado, as tradições não mereceriam ser preservadas e a própria realidade estaria em constante mutação. Sua missão, portanto, consistiria em livrar-nos do peso do passado, em derrubar os ídolos que nos oprimem.
No entanto, ao analisarmos mais profundamente, vamos observar que essa liberdade, desapego e altruísmo do revolucionário não passam de vínculo e interesse.
Quem tudo muda não pode chegar a lugar algum e o revolucionário, ao mesmo tempo que destrói o que não gosta, faz um grande esforço para preservar suas próprias convicções. Ele não quer acabar com tudo, apenas com aquilo que não lhe agrada.
O revolucionário, se quer que seu mundo ideal, pelo qual ele tanto luta, realmente um dia aconteça, precisa manter-se fiel aos planos traçados por seus idealizadores. Sendo assim, ele acaba, diante de sua própria ideologia e de sua utopia, agindo da maneira mais conservadora possível.
Um plano revolucionário continua sendo um plano. Ele possui metas e processos que precisam ser respeitados. Exige fidelidade e proteção. Por isso, quem o deseja precisa ser, em relação ele, um conservador, lutando para preservá-lo diante daqueles que querem impedi-lo ou desvirtuá-lo.
Portanto, não se enganem: o revolucionário não é um mero destruidor; ele quer erigir outra coisa no lugar do que destrói; quer por abaixo o mundo presente, só para impor, da maneira mais rígida possível, o mundo perfeito que existe apenas na sua cabeça.
O revolucionário é um iconoclasta, mas somente dos ídolos alheios. Os seus mantêm-se perfeitamente de pé e continuam a ser adorados por ele.