Se não soubermos viver juntos, iremos morrer sozinhos; ou, A Autofagia da Direita

Começo a coluna desta semana citando Jack Shephard[1] do épico seriado LOST. Aliás, essa frase de Jack vale para outros problemas internos que vejo, o tempo todo, na New Right.

 

O Brasil passou perto, mas muito perto, de não virar uma Venezuela. Quer dizer, ainda corremos esse risco. Já cansei de falar em minhas lives que tenho amigos naquele país que eram ricos e hoje sobrevivem devido à caridade de amigos, dentro os quais me incluo.

 

Não esqueçamos que Bolsonaro venceu Haddad no segundo turno, em 2018, por 11milhões de votos. Um Portugal, dos meus queridos amigos Ivan e Sepúlveda, país pelo qual Paulo Araújo e eu somos apaixonados (foi lá que fiz meu mestrado e estou fazendo meu doutoramento[2]), foi o que nos separou de termos virado uma Venezuela.

 

Ah, Paulo, mas o Brasil jamais viraria uma Venezuela. Foi isso que me disse, certa vez, um Advogado, que também está no YouTube, que até não muito tempo atrás se declarava conservador raiz; bem, o tempo se encarregou de desmascará-lo. Quem sabe de quem estou falando, sabe;  quem não sabe…, bem, não sou dado a fofocas, ok. Isso pra mim é coisa de menininha.

 

Voltemos, achar que pela potência de nossa economia não poderíamos ver nossa economia colapsar, tal como aconteceu na Venezuela e está acontecendo – neste momento – na Argentina, é puro wishful thinking, uma espécie de otimismo lastreado mais em suposições e desejos, do que em fatos.

 

O Brasil corria (e ainda corre) o risco de tornar-se uma Venezuela, basta vermos a política do confronto, afrontando todo o Ordenamento Jurídico vigente, estabelecida pela Suprema Corte contra a Presidência da República.

 

Você acha mesmo que não corremos o risco de virar uma Venezuela?

 

Think again!

 

Aliás, a Argentina, para quem não sabe, na década de 40 do Século XX, até o início do Governo Peron, era o 5º país mais rico do mundo. Rico como um Argentino, era uma expressão que europeus usavam para descrever pessoas prósperas.

 

Tudo isso, mais uma vez, remete à urgente necessidade de nos organizarmos e darmos maior visibilidade àqueles que estão, do nosso lado da trincheira. Dizer que Bolsonaro foi eleito por causa de Fulano, ou por causa de um canal específico do YouTube é cascata, ok. Mas, inegavelmente, eles fizeram parte do processo.

 

Essa propagação de ideias conservadoras e (por que não) liberais[3], fez parte do processo que alijou a esquerda do Poder. Mas, processo, meus caros, é marcha, é movimento permanente. Não podemos parar, não podemos esmorecer. Aqueles que fazem o mal e que lutam por um mundo pior, e mais miserável, não tiram um dia de folga sequer; não podemos nos dar a esse luxo.

 

Urge que apoiemos os canais e autores conservadores, de todas as formas que pudermos, a mais simples e eficaz delas é gratuita: basta curtir um texto, um vídeo, compartilhá-lo. Costumo dizer em alguns vídeos do meu canal. “Ninguém perderá a mão por curtir um vídeo e compartilhá-lo”.

 

Mais que isso, é imperioso que cessem os movimentos autofágicos da Direita. Certos YouTubers de Direita, supostamente conservadores, preocupam-se muito mais em atacar outros YouTubers, grandes canais que, gostemos ou não, são parte relevante da chegada da Direita ao Poder, do que em atacar a esquerda.

 

Não estou falando de uma ou outra crítica pontual. Crítica pontual, todos a merecem. Certamente eu mereço várias. Só um homem passou por esse mundo imerecedor de críticas, ok. Estou falando de “formadores de opinião” que gastam mais de 90% do seu tempo em suas lives (já fiz essa contagem, ok) atacando outros formadores de opinião.

 

Será que não entenderam que temos problemas mais graves a ser resolvido? Será que não entenderam que tivemos um deputado preso por falar? Será que não entenderam que um jornalista foi preso ilegalmente e hoje está aleijado, com o aval do Supremo? Será que não entenderam que há canais sendo limados do YouTube?

 

Será que esse bando de gente retardada não entende que o momento é de união, não de fazer um concurso para ver quem é mais conservador?

 

Ah, a propósito, esse fenômeno, essa briga autofágica na Direita aconteceu sabem onde? Ganha um doce quem acertar? Voilà….acertou quem disse Venezuela!

 

Para piorar a assimetria da guerra política que vivemos, a Esquerda aprendeu com a Direita e a Direita não aprendeu nada com a Esquerda.

 

Até os anos 80 início dos anos 90, a esquerda era purista e autofágica. Militantes trotskista e stalinistas se matavam aqui no Brasil [já houve briga no CRUSP – Alojamento Universitário da USP, onde dois estudantes da FFLCH – fefeleche  –, durante a briga, se jogaram contra uma parede de gesso que caiu junto com os dois do 5 andar do prédio].

 

A esquerda aprendeu a ser pragmática e focar no ponto que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. A esquerda aprendeu isso com a Direita, que nos anos 80, não tinha esse onanismo ideológico.

 

Já a Direita desaprendeu o valor do pragmatismo e quer, antes de se unir para derrotar o inimigo comum, fazer um processo de autopurificação, para apenas deixar em suas hostes os cavaleiros puros e justos.

Caminho perfeito para a reeleição de Lula em 2022.

 

Parabéns aos envolvidos!

 

[1] Personagem de LOST, para mim a melhor série televisiva de todos os tempos, interpretado por Matthew Fox. Aliás, como seria a série LOST, se filmada hoje. Certamente teria um, ou alguns personagens trans. Certamente, também, Michael Dawson, o personagem fraco, sem caráter, covarde da série não seria interpretado por um negro (Harold Perrineau Jr.). Detalhe, Michael (que executou covardemente Ana Lucia Cortez, interpretada por Michelle Rodriguez) não era necessariamente o vilão da série; era apenas um fraco. Ah, LOST também tinha, principalmente no grupo conhecido como “The Others” (isto é, nos vilões da trama), personagens homossexuais. Ocorre que esse não era o mote da série e a preferência sexual desses personagens era irrelevante à trama e apenas en passant era mencionada. Olha que interessante, amigos-leitores, LOST hoje, seguramente, seria considerada uma série fascista/politicamente incorreta. A trama lida com valores caros ao conservadorismo (temos um ex-viciado que luta contra o vício, casos de redenção – praticamente para todos os personagens –, a épica luta do Bem contra o Mal), penso que caberia uma live extra com Paulo Henrique, Ivan, Guillermo, et al, para falarmos sobre. Gostaram da ideia?! Pressionem, comentem aqui na página.

[2] Em Portugal, “doutorado” é o título; “doutoramento”, por sua vez, é o curso.

[3] Nem todo liberal é abortista, apoiador do NOVO e Prudente & Sophisticado, ok!