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Ambientalismo

A fé verde

Terminou no último dia 13 de dezembro a COP-28, encontro que buscou tratar em um encontro de líderes mundiais, a respeito as alterações climáticas do nosso planeta. Para muitos desses líderes, essas alterações climáticas podem ter consequências desastrosas para a Humanidade. Sabe-se que, quanto a esse tema, a comunidade científica mundial está dividida, ou seja, há muitos cientistas que defendem que as alterações climáticas que se têm verificado nos últimos tempos têm origem na ação humana, ou seja, têm uma causa antrópica. Mas há também muitos cientistas que defendem uma opinião contrária, dizendo que efetivamente estão havendo alterações climáticas cujos sintomas justificam-se de maneiras diversas, mas que nem sempre têm relação com a ação humana, particularmente no que se refere à queima de combustíveis fósseis, e são fenômenos da própria Natureza, do próprio Universo.

Obviamente, algum ambiente pode estar poluído, sujo, infectado, e então é o caso de invocar a ciência e a tecnologia para limpá-lo, e torná-lo novamente habitável; isso, contudo, não torna justo o movimento que tantas forças mundiais têm feito no sentido de calar os cientistas que são céticos quanto à culpa das ações humanas, e impor uma verdadeira agenda de compromissos escusos e a perseguição sistemática dos que têm opinião diferente. Além disso, esse “efeito estufa” que vem sendo violentamente criticado nos últimos tempos, é fundamental para a vida na Terra. Verifica-se, por exemplo, que, subindo de avião a mais ou menos 11 mil metros de altura – a chamada altitude de cruzeiro –, deparamo-nos com temperaturas baixíssimas, em torno de -50°C, o que significa que se não houvesse o efeito estufa em torno da Terra, o planeta teria uma temperatura semelhante em sua superfície, e seria inabitável. Do ponto de vista da teologia cristã, a Natureza foi criada perfeita por Deus, foi dotada com as todas as características necessárias para regular a vida como a conhecemos.

A teoria que se impõe na COP-28, e nos segmentos anteriores dessa “Conferência das Partes”, onde se discute – em um conjunto de 197 países – como mitigar os efeitos do “aquecimento global” – propõe o uso cada vez maior de energias alternativas (ditas “verdes”), mas – e aí é que começamos a trilhar caminhos ameaçadores para a fé cristã – traz outras preocupações ideológicas, que são um pano de fundo para a lógica de poder que envolve as grandes potências do mundo. Na realidade essas conferências não têm tido grandes efeitos, porque decisões políticas dessa natureza pressupõem consenso e pressupõem naturalmente uma base científica que suporte essas decisões, e o que se testemunha é que não há nem uma coisa nem outra como fruto de todos esses encontros. Assim, corre-se sempre o risco de fazer escolhas com base não na Ciência, mas em ideologias.

A Santa Sé participa de encontros sobre o clima desde 1992, por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula da Terra, que naquele ano foi realizada no Rio de Janeiro. De lá para cá, essa entidade de governo da Igreja Católica tem participado ativamente de reuniões e conferências internacionais sobre o clima e, neste ano de 2023, estava programada a participação inédita do Sumo Pontífice em uma conferência desse tipo, a COP-28, e um momento singular seria a sua participação na inauguração do chamado “Pavilhão da fé”, que pretendeu unir o humano e o espiritual, com representantes, comunidades e instituições religiosas em apoio à ação climática e aos objetivos delineados no “Acordo de Paris”, firmado em 2015. Ou seja, as religiões do mundo estavam sendo lideradas neste ano pelos muçulmanos – e, de fato, o Presidente da COP-28, Sultan Al Jaber, encontrou-se em outubro com o Papa Francisco, preparando a visita do Pontífice a Dubai para o citado encontro e a sua intervenção na inauguração desse Pavilhão da fé. Por fim, o Santo Padre, por ordens médicas, precisou cancelar a sua viagem prevista a Dubai para participar da COP-28. Foi enviado então o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, para representar a Santa Sé no evento.

Causa perplexidade a muitos católicos o alinhamento ideológico no qual o Papa Francisco se coloca através de seus documentos magisteriais, a maneira como esses documentos papais se enquadram nessa explicação antrópica das alterações climáticas, desde a Encíclica Laudato Si’ e, muito particularmente, através da Exortação Apostólica Laudate Deum. A questão que se impõe é: os recentes documentos da Igreja têm competência científica para orientar de maneira definitiva como um católico deve posicionar-se em relação às duas grandes correntes de análise climática da Era moderna? Estaríamos todos nós católicos na iminência de começar a professar uma “fé verde”? Há quem afirme que nestes domínios a competência maior é dos leigos, dos cientistas, e não do magistério eclesial.

Neste ponto, seria frutuoso deter-se sobre o pensamento de Karl Popper, um filósofo austríaco que se dedicou ao pensamento do racionalismo crítico. Popper é conhecido por suas contribuições para a filosofia da ciência, especialmente com sua “teoria da falseabilidade”. Segundo Popper, uma teoria científica é mais do que uma simples hipótese ou conjectura, é um conjunto de afirmações que podem ser comprovadas e refutadas mediante a observação e a experimentação. Popper também fez críticas à “indução”, que buscava comprovar teorias mediante a experiência decorrente da observação cuidadosa de uma série de eventos. Ele baseou essa ideia no trabalho do filósofo David Hume, que dizia que não é pelo fato de alguém ter visto apenas cisnes brancos que pode afirmar que somente existem cisnes brancos. Assim, as teorias que insistem em que as mudanças climáticas têm origem apenas antrópica podem e devem ser postas em causa por outras teorias que conseguem demonstrar que aquelas primeiras não se comprovam cientificamente de modo absoluto. A Igreja, colocando-se radicalmente ao lado de uma única teoria científica – neste caso a que defende a ação humana como causa principal, ou única, das alterações climáticas –, renunciando a priori a toda e qualquer outra teoria, está contribuindo não para que se chegue à verdade, mas para que se produza uma divisão da comunidade científica mundial, e coloca em uma situação muito delicada – e até de consciência – os cientistas que professam a fé católica e que discordam da origem unicamente antrópica das alterações climáticas.

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