A nossa dificuldade em compreender a missa tridentina não está no latim e nem na forma em que é celebra. A questão é que nós somos educados numa visão modernista e acostumados dessa maneira em tudo, o que é uma cilada, um grande engano! Porém, com o tempo vem as nossas descobertas ao conhecer a fé católica, a história da Igreja e a liturgia romana e com isto sentimos a necessidade de aprofundar. Realmente encontramos o sentido exato e a profundidade do Santo Sacrifício da Missa quando atingimos a essência, ou seja, a compreensão de que a Santa Missa é a renovação do Santo Sacrifício do Calvário.

Tudo isso encontramos na missa antiga do Papa São Pio V (tridentina) e, assim, compreendemos realmente a missa nova, do Papa São Paulo VI (paulina). Por isso, é importante conhecer a missa antiga para compreender verdadeiramente a missa nova, na sua essência.

A missa tridentina e a missa nova são uma só e mesma missa, celebração do sacramento da Eucaristia, como também, um só e mesmo rito (não são dois ritos) são duas formas do mesmo rito: o rito romano. A missa nova foi criada a partir da reforma litúrgica do Concilio Vaticano II, mas é claro, em latim e para celebrar voltada para o altar na parede, pois, tudo na Igreja é em latim e rezado voltado para Deus, ad Deum, ad orientem. A concessão para a língua de cada país, o vernáculo, veio depois da sua promulgação, como também a concessão para celebrar num altar voltado para o povo. Mas pode se celebrar a missa nova tanto em latim como em vernáculo, voltado para o altar ou para o povo.

Assim, a reforma litúrgica não foi feita porque não se gostava da missa antiga ou não se compreendia o latim, pelo contrário, os fiéis e o clero preferiram a missa antiga e amavam o latim, por isso, quando se deixou de ensinar o idioma nas escolas deveu-se a revolucionária destruição da educação, pois o latim ensina a raciocinar corretamente.

Desta forma, para dar a opção aos fiéis de uma missa moderna, pois nos anos sessenta iniciou-se forte revolução modernista relaxando os costumes e abandonando a virtude, agarrando-se a jargões prontos para definir uma nova visão de mundo, como por exemplo: “tudo o que é antigo não presta mais”, “reforma do mundo” ou “o mundo começa agora”, “estamos no pós-guerra”, “tudo mudou, agora tudo é diferente” e para a Igreja ser mais “atraente” ao mundo (que rejeitara a tradição religiosa e católica por achar démodé).

Assim, procurou-se com o Conc. Vat. II adequar-se ao mundo com seus ideais e ao ecumenismo com os protestantes, com uma celebração da missa que não destoasse do culto protestante e agradasse a mentalidade modernista visto que o mundo estava voltado para o homem e o culto protestante, na língua nativa e voltados para o povo, se conformava às novas modas de um mundo antropocentrista.

Nisso tudo, já nos anos sessenta e assim até hoje, desencadeou-se uma série de confusões na Igreja pois na tentativa de se conformar a Igreja e a missa ao mundo e ao ecumenismo criou-se tendências desastrosas na liturgia da missa que se resumem em duas grandes matizes de abusos litúrgicos: a tendência marxista, da luta de classes (ou comunista ou da teologia da libertação) em que a missa é apenas “a partilha do pão da justiça para luta pelos pobres oprimidos”. E a tendência pentecostal ou protestante em que a missa “é uma celebração comemorativa em que se celebra o ser humano, sua realidade social, seus sentimentos e sua cultura” e se “louva” a Deus com danças, aplausos e festa comemorando a fraternidade humana”. Dessa maneira proliferam-se as missas temáticas, como: missa dos trabalhadores, sertaneja, dos excluídos, afro, do palhaço, dos jovens, das crianças, dos pobres, dos motociclistas, da campanha da fraternidade, da esperança, da diversidade, crioula, da maconha etc.

Assim, entraram os improvisos, encenações, imodéstias, barulhos, som alto, batucadas, desrespeitos e todo o tipo de abusos litúrgicos, na exaltação do homem, do vício, da feiura, do ruído, das distorções e dissipações! Tudo isso se deve a uma ruptura e ao afastamento da tradição litúrgica católica na criação de uma missa adaptada ao mundo moderno que abandonou a Deus, a verdadeira fé e a Igreja.

Mas, se a missa nova é celebrada de acordo com os princípios da fé católica, das normas litúrgicas e na tradição do rito romano ela santifica porque é santa e, sendo a consagração valida é, por isso, a Santa Missa, a renovação do sacrifício do calvário. Porém, para se chegar a essa compreensão é necessário conhecer o rito romano, o que não se faz mais nos seminários (levados pelas ideias e tendências modernistas e subjetivistas) deixando de ensinar os candidatos ao sacerdócio de celebrar a Santa Missa, isso desde os anos sessenta para cá.

Com isso, tudo se encontra da maneira como notamos hoje: o caos! A Igreja, de per sí, teve boa intenção ao fazer a reforma litúrgica, mas, os efeitos foram desastrosos levando a uma crise de fé, liturgica moral e institucional que escapou de todo controle, apesar de tantos esforços a mentalidade modernista neutraliza qualquer investida.

Assim, a maneira de resgatar o verdadeiro sentido da Santa Missa é voltar a sua essência. Para isso foi providencial (um impulso de fé que é uma retomada atual motivada pelo Papa Bento XVI, com o conceito da “reforma da reforma”) a publicação de um documento, em forma de Moto próprio, intitulado Summorum Pontificum, em 2007, fazendo a “restituição” da missa tridentina na vida da Igreja, pois a mesma, nunca foi destituída, ab-rogada ou suprimida, apenas “proibida” tendenciosamente pelas investidas modernistas criando uma mentalidade de ruptura com a Tradição Católica e, pelo contrário, na realidade o missal tridentino foi reeditado pela Igreja, em 1962, pelo Papa São João XXIII, ano do início do Conc. Vat. II.

Dessa maneira é importante compreender esse tema “na linha da continuidade na Tradição Católica” e voltar a missa tridentina que nós dá a conhecer e aprofundar o mistério da renovação do Santo Sacrifício da Missa na sua essência, com os princípios doutrinais e litúrgicos inerentes, os princípios e as normas litúrgicas próprias do rito romano. Assim, se compreende a missa nova na sua reta ou ortodoxa doutrina na compreensão das suas rubricas e a forma correta de celebrar. Porém, tudo já estava e está lá na missa “antiga”.

Para quem quer participar da missa nova, com seus frutos espirituais e de santificação pessoal, com doutrina clara, com fé ardente e piedosa devoção é imprescindível conhecer a síntese perfeita no verdadeiro “tratado teológico-doutrinal da Eucaristia” traduzido em rito litúrgico e a sua insuperável riqueza espiritual do rito romano: a missa tridentina.