20 de maio 2011
No último encontro dos articulistas do Jornal Inconfidência, no Rio de Janeiro, assistimos a uma brilhante apresentação do Cel. Manuel Soriano Neto sobre Estratégias de Defesa das Fronteiras Brasileiras, abordando as fronteiras terrestre, marítima e aérea. Há poucos dias tivemos a oportunidade de assistir na TV Bandeirante à entrevista do Gen. Augusto Heleno Pereira com especial ênfase na fronteira da Amazônia e as enormes dificuldades de patrulhar tão extenso território – são 11.000 km só de fronteira na selva com uma quantidade incontável de rios, riachos e igarapés – com o orçamento apertado das FFAA brasileiras.
Na minha intervenção naquela memorável reunião pus ênfase no fato de que, por mais que se possam defender eficientemente essas fronteiras físicas, há outra fronteira, invisível aos olhos de quem não estudou a matéria, mas que é tão ou mais importante: aquela que, na falta de um termo melhor, denomino genericamente fronteira ideológica. Não me refiro ao conceito hegeliano de ideologia, mas à infiltração muitas vezes subliminar, de ideias que minam não somente o conceito de nacionalidade, como também as crenças religiosas, os valores pátrios e as tradições nacionais, a moral e os costumes, a linguagem – enfim, tudo o que mantém nosso país uno e indivisível.
Não há espaço para abordar todas as fronteiras num único artigo. Limitar-me-ei, portanto, a uma delas, a mais palpitante na atualidade, deixando as demais para as próximas edições.
A FRONTEIRA LINGUÍSTICA
Não tomem quartéis, tomem escolas e universidades, não ataquem blindados, ataquem ideias — Antonio Gramsci
Um dos fundamentos que nos une é a língua. Na Espanha, um país de várias etnias e identidades regionais que se preparava para conquistas além mar, Elio Antonio de Nebrija, professor da Universidade de Salamanca, redigiu a primeira gramática européia em língua vulgar em 1492 – a Grammatica castellana – e a dedicou a Isabel de Castilla, a Católica. Como esta não entendeu sua utilidade, Nebrija esclareceu: “Majestade, a língua é o instrumento do Império”, se referindo ao idioma como sinal de identidade que facilitaria a unificação política da Espanha e de suas futuras conquistas naquele mesmo ano. Três anos depois redigiu o primeiro dicionário espanhol. Os primeiros sinais de que este país está em risco de desaparecer como unidade nacional foi a adoção do catalán como língua oficial da Catalunha e a retirada do Espanhol do currículo oficial. Mais modestamente o mesmo está ocorrendo na Galícia.
O Brasil, assim como Estados Unidos e Canadá, teve a felicidade de adotar uma única língua com gramática unificada, absorvendo a linguagem nativa. (No caso do Canadá, bilíngue, isto é verdadeiro internamente para ambas as regiões, de fala inglesa ou francesa). Os nomes de Estados Paraná e de várias cidades brasileiras, assim como, no Canadá e EUA, Dakota, Saskatchewan, são exemplares.
O que se pretende fazer oficialmente em nosso País com a nova “gramática” que elimina a norma culta e a substitui não somente por regionalismos como oficializa erros grosseiros de linguagem com base na eliminação de “preconceitos”? O que é a Gramática senão uma série imensa de pré-conceitos para a fala e a escrita – a regência, a conjugação, a concordância? Entre as funções da palavra talvez a mais importante seja a definição de algum conceito. E o que é a unidade da língua senão o fato de todos os que a falam entenderem este conceito com clareza?
A obra de Rondon e dos primeiros indigenistas, civilizando os índios e ensinando-os o português, tornando-os, portanto, brasileiros, foi da maior importância para a unificação da Pátria. Hoje, como atesta o General Heleno, os índios integrados às FFAA têm uma função importantíssima, pois conhecem a selva amazônica como ninguém.
Não é coincidência que simultaneamente com os ataques às fronteiras físicas por partes de ONGs estrangeiras que se valem do entreguismo de brasileiros ‘defensores do meio ambiente’, o Ministério da Educação una-se ao do Meio Ambiente, ao da Justiça para, numa ação integrada, cumprir a missão de imbecilizar nossas crianças e adolescentes, os futuros professores, através da destruição da nossa língua.
É um plano integrado seguindo as orientações de Gramsci [1]. Estão transformando a Gramática numa ‘gramscimática’, a Novilíngua do esquema de poder – ou pudê – revolucionário. Não é burrice nem inocência: é pura má-fé revolucionária.
Notas
[1] Abordarei num próximo artigo as noções de Gramsci sobre a linguagem hegemônica. Ver Gramsci e o Estado, Christine Buci-Glucksman, Ed. Paz e Terra, 1980. Para as contribuições da Escola de Frankfurt ao tema: O Marxismo Ocidental, José Guilherme Merquior, Nova Fronteira, 1986.