Há quem fale que a religiosidade gera intolerância e violência, é impressionante a onda que temos hodiernamente para apagar valores cristãos, porém, a maior trégua militar já vista numa guerra foi justamente inspirada pelo espírito de celebração de Natal.
Em 28 de julho de 1914 teve início um dos conflitos mais sangrentos da história da humanidade, a primeira guerra mundial, conhecida também como A Grande Guerra. Além de todas as perdas humanas, este conflito desencadeou mudanças drásticas no pensamento de nossa civilização, muitas ideologias e organizações que nos deparamos influenciando seriamente nossas vidas foram iniciadas no final deste evento.
Em princípio, o conflito acabaria antes do natal do mesmo ano, porém, a guerra se estendeu até 11 de novembro de 1918.
Até então, as guerras no continente europeu raramente envolveram o período em que celebramos o nascimento de Jesus, na época, o Papa Bento XV havia emitido um pedido oficial para que um armistício temporário acontecesse no período do Natal, dizendo: “Que as armas possam cair em silêncio, ao menos na noite em que os anjos cantam”, porém o pedido foi ignorado pelos líderes envolvidos.
Após meses de combate, a guerra estava na fase de trincheiras, algumas delas tão próximas que um inimigo ouvia as conversas do outro. Entre as linhas de trincheiras inimigas havia uma região chamada “Terra de Ninguém” (no man’s land), a faixa de terreno devastada pela artilharia de ambos os lados, lugar em que poucos se arriscavam a frequentar. A vida nas trincheiras não era nada fácil, principalmente no inverno, em que o frio e a lama tornavam aquela situação totalmente insalubre e desumana. Muitos morriam de doenças causadas pelas condições a que eram submetidos.
Os apelos do Papa sobre uma trégua no Natal não foram atendidos, porém, isto não impediu que os soldados colocassem o espírito natalino acima de toda aquela triste situação, mesmo sem a autorização de oficiais. Na véspera de natal de 1914, no fronte de batalha ocidental , há relatos que a famosa trégua de natal começou na região de Ypres, na Bélgica, nos arredores do vilarejo de Saint Yvon. No lado alemão das trincheiras, soldados começaram a trazer pequenos pinheiros e decorá-los com velas acesas, em seguida iniciaram uma cantoria com músicas de Natal. Alguns destes relatos encontramos no livro A Sagração da Primavera de Modris Eksteins.
A música “Noite Feliz”, “Stille Nacht” – na versão em alemão – ressoou por entre aqueles campos de morte e foi correspondida com um “Silent Night” que vinha da trincheira britânica
Aos poucos, os soldados criaram coragem para ingressar na “terra de ninguém” até que o primeiro alemão cumprimentou o primeiro inglês. Presentes começaram a ser trocados, comida,tabaco, bebidas, quepes e botões de uniformes.
Ao circularem pela terra de ninguém, viram a quantidade de corpos empilhados, corpos de inimigos e companheiros de batalha. A trégua permitiu que estes corpos fossem enterrados com dignidade e uma missa bilíngue fosse realizada.
O mais inusitado ainda estava por acontecer, uma partida de futebol ocorreu na terra de ninguém. Aquele espaço que antes era local de morte teve seus momentos de entretenimento e alegria.
Embora o maior número de confraternizações tenha ocorrido ao longo das trincheiras britânicas e alemãs, há relatos de situações semelhantes entre trincheiras francesas e alemãs, russas e alemãs, austríacas e russas.
O espírito natalino confortou e apaziguou os corações naquele momento, encorajando os soldados a transcender aquela situação. No meio de tanta miséria, violência e tristeza, eles ergueram os olhos aos céus e trilharam um caminho de coragem, paz e alegria. É isto que Jesus nos inspira a fazer.
Quando vejo a propaganda anti-cristã que anda acontecendo mundialmente em nome da modernidade, da paz e do amor, eu me pergunto, ninguém se lembra deste grande exemplo? o que a humanidade está conquistando com isso?
Convido a todos para esta reflexão e para fazermos também a nossa trégua neste Natal, trégua no medo e na desesperança, afinal, Jesus veio justamente para nos salvar. Que a passagem do Natal preencha nossas vidas de sentido e esperança.
Um Feliz Natal!
Um belo texto.
Infelizmente só li ele agora, mas o exemplo desta trégua, acredito q vale para sempre.