Na noite deste domingo (26) o atual presidente da Tunísia, Kaïs Saïed (63) fechou o parlamento e demitiu o primeiro-ministro Hichem Mechichi (47) que tem o apoio do Ennahda, o maior partido no parlamento que se autodenomina “Democrata Muçulmano”, e assim assumiu o poder no país com apoio das forças armadas.
Há vários dias milhares de pessoas protestavam contra o atual governo, o motivo dos protestos são principalmente por conta da crise econômica que assola o país desde o início da pandemia, o turismo, uma das principais atividades econômicas do país foi atingida pela diminuição de turistas desde março de 2020.
A “velha mídia” ocidental tenta cravar a narrativa que as pessoas estão protestando porque faltam vacinas mas como podemos observar em artigo publicado pela BESA já em março deste ano às ruas estavam tomadas por pessoas insatisfeitas com a crise econômica que assola o país.
https://besacenter.org/tunisia-kais-saied-jews/
Na manhã desta segunda-feira (26) a polícia invadiu e fechou a sede da rede de televisão Al Jazeera que é acusada de ser ligada ao Ennahda.
O presidente Saïed, que é considerado um perito constitucional, disse que suas ações são legítimas segundo a constituição do país, argumentando que o artigo 80 permitiu-lhe suspender o parlamento e suspender a imunidade para deputados em face de “perigo iminente”.
Muitas pessoas foram enganadas pela hipocrisia, traição e roubo dos direitos do povo”, disse ele.
Imed Ayadi, um membro do Ennahda, comparou Saïed ao presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi, que depôs Mohamed Morsi da Irmandade Muçulmana em 2013. “Saïed é um novo Sisi que quer reunir toda a autoridade para si … Vamos permanecer até o golpe contra a revolução”, disse ele.
Quem é Kaïs Saïed, o candidato a ditador?
5º presidente da Tunísia, assumiu o cargo em 23 de outubro de 2019. Kais Saïed é um ex-professor de direito constitucional que concorreu como independente nas eleições presidenciais da Tunísia de 2019 e foi eleito 5º presidente da Tunísia em 13 de outubro de 2019.
Foi professor na Universidade de Tunis, aposentando-se em 2018. Ele atuou como Secretário-Geral da Associação Tunisiana de Direito Constitucional entre 1990 e 1995 e é vice-presidente da organização desde 1995. Saied também atuou como Reitor do Departamento Jurídico da Universidade de Sousse, como perito jurídico da Liga Árabe e do Instituto Árabe de Direitos Humanos. Saied também foi membro do comitê de especialistas que foi convidado a apresentar comentários ao projeto de Constituição da Tunísia em 2014
Devido à sua atuação no judiciário ele ganhou a alcunha de “Robocop” e fez do combate à corrupção um dos seus pilares na política.
Definido como um conservador por conta de suas posições contra a ideologia de gênero e forte religiosidade, é meu dever alertar o caro leitor que ele é considerado conservador dentro dos padrões islâmicos de visão de mundo.
Sobre Israel, chegou a declarar recentemente:
A normalização com o Estado judeu deveria ser considerada alta traição”
e acrescentou
Estamos em estado de guerra com Israel”
Outono árabe
Dos vários países que foram impactados pela “primavera árabe” (Líbia, Egito, Síria e Tunísia dentre outros) a Tunísia era o único que passava por uma transição de um regime ditatorial para um regime democrático nos moldes ocidentais.
Desde a queda do ditador Ben Ali, o país passou por reformas estruturais importantes, incluindo uma nova constituição escrita em 2014.
O golpe deste domingo coloca um fim ao sonho de verão de adolescente do senhor Barack Hussein Obama e os fatos se impõem por si só.
Justamente o homem imparcial, culto, e combatente fervoroso contra a corrupção foi quem rompeu com a tentativa de se impor uma democracia estável no mundo muçulmano.
Logo ele, um “independente” e como anda de moda porque não uma “terceira via” tunisiana levou o exército para dentro do parlamento e que pode dar espaço à uma islamização do país parecida com os moldes do atual regime iraniano.
As consequências ainda são imprevisíveis, a Tunísia faz fronteira com a Líbia, que abriga forças russas e turcas e já é instável por si só, e agora existe o temor que este movimento na Tunísia possa “contaminar” outros países da região, como Algéria e principalmente o Marrocos que abriga um movimento separatista no Sahara ocidental.
É possível que tenhamos mais uma crise humanitária forçando milhares de pessoas a caírem no mar em direção ao continente europeu, para o deleite das ONGs de George Soros e cia, agravando ainda mais a situação já precária da imigração descontrolada no velho continente.
O fechamento da televisão “al Jazeera” não pode passar despercebido e expõe a divisão interna do mundo muçulmano, principalmente entre os países que “normalizaram” as relações com Israel e os demais que se recusam a abrir negociações com Israel.
O início da “primavera árabe “em 2011 foi devido à prisão e morte de vendedor de frutas em Túnis, capital da Tunísia e pode terminar 10 anos depois com o fechamento do parlamento do único país que se dispôs a levar a democracia a sério.