A vida é complexa. Ainda que existam leis que a sustentem e fenômenos que se repitam, ainda que exista uma essência nas coisas, a maneira como tudo isso se relaciona permite uma infinidade de combinações que tornam tudo muito imprevisível.
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Essa imprevisibilidade é insuportável para o ser humano, pois nada lhe incomoda mais do que a sensação de insegurança que a incerteza sobre o amanhã lhe proporciona. Se ele não consegue garantir que seus planos, sonhos e vontades se concretizarão, parece que tudo se perde.
Para afastar o imprevisível, os homens simplesmente costumam negá-lo, e um dos procedimentos mais comuns, para isso, é criar esquemas mentais que expliquem a realidade, simplificando-a, apagando sua complexidade e colocando cada coisa em um lugar que lhe seria próprio. Tornam, então, tudo mensurável, e, como consequência, previsível. Agora, sim, podem se sentir em paz, seguros de que a vida foi domesticada por eles.
No entanto, as incongruências e contradições da realidade, invariavelmente, fazem aparecer seu aspecto selvagem e desmontam o equilíbrio ilusório, desmascarando-o, mostrando-o insustentável. É de se esperar, diante disso, que, finalmente, as pessoas aceitem a vida como ela é, em seu caráter incerto. Porém, a reação delas oscila entre apegar-se ainda mais às fantasias esquemáticas ou desenvolver um sentimento de absurdo, de falta de sentido. Ficam entre o fortalecimento da quimera e o mergulho no desespero.
De nossa parte, se não quisermos afundar nem na racionalização nem na frustração precisamos abandonar a necessidade de previsibilidade e acostumarmo-nos com a imponderabilidade da existência.
Na verdade, o melhor que podemos fazer é aprender a lidar com a vida não como se seguíssemos por uma estrada bem pavimentada e sinalizada ─ por isso, tediosa e triste ─, mas como em uma aventura, que tem na aleatoriedade o seu verdadeiro sentido e prazer.