Há menos de um mês para a mais importante eleição na Alemanha dos últimos 15 anos, foi ao ar o primeiro debate organizado pela emissora RTL, entre os candidatos à chanceler da Alemanha.

Detalhe: Apenas três candidatos participaram do debate. Armin Laschet (CDU), Annalena Baerbock (Alliance 90 / Partido Verde) e Olaf Scholz (SPD).

Os candidatos Christian Lindner (FDP) e Alice Weidl (AFD) não participaram do debate. A Emissora responsável pelo debate chamou os três primeiros colocados das recentes pesquisas, e aqui já fica a primeira pergunta: E se as pesquisas estiverem erradas? Dentro de um mês vamos descobrir a resposta nas urnas.

Mas porque colocar em discussão as pesquisas? Bom, segundo um levantamento realizado pela emissora Deutsche Welle, que analisou as postagens dos partidos nas redes sociais de 12 de junho a 15 de agosto, descobriu-se que uma das principais candidatas da AfD, Alice Weidel, era de longe a política de maior sucesso online.

Seus vídeos foram vistos cerca de 4,9 milhões de vezes em diferentes plataformas durante aquele período. E o número de comentários, curtidas e compartilhamentos superou o de outros políticos. Esse envolvimento é considerado moeda forte no mundo das redes sociais porque implica que os usuários se identificam com a postagem a tal ponto que desejam divulgá-la ainda mais.

Porém, nas pesquisas o AFD não passa de 11% enquanto o novo líder das pesquisas Olaf Scholz varia entre 23 e 24%. Qualquer semelhança com a recente eleição de Joe Biden nos EUA não é mera coincidência.

Com apenas três candidatos, o debate ficou limitado e a pauta das “mudanças climáticas” foi o tópico dominante. Como se a recuperação econômica e a crise cultural causadas principalmente pelas políticas de imigração de Angela Merkel não fossem prioridade.

E aí entra a senhora Merkel: Ela vem sendo acusada de não apoiar o candidato do seu partido Armin Laschet, que vem despencando nas pesquisas de opinião pública.

Aparentemente, a sede da CDU teve que insistir para que Merkel finalmente pudesse anunciar seu possível sucessor, e lembrando muito a campanha de José Serra no Brasil em 2002, quando Fernando Henrique Cardoso praticamente não fez campanha alguma para o candidato de seu próprio partido.

Hoje sabemos que Fernando Henrique Cardoso passou a faixa presidencial para Lula com muito gosto, quase comemorando a vitória do candidato do partido dos trabalhadores.

A situação na Alemanha de 2021 não é muito diferente, e Angela Merkel vê em Olaf Scholz do partido de esquerda SPD seu natural sucessor, aquele que pode avançar com suas políticas e preservar o seu legado. Também pudera, Scholz é o atual ministro das finanças da Alemanha.

Sim, caro leitor, no melhor estilo do “teatro das tesouras” made in Alemanha, os dois principais partidos políticos do país (CDU e SPD) que “rivalizaram” por décadas estão no governo juntos desde 2018.

A novidade seria o apoio disfarçado à candidatura de Annalena Baerbock do partido verde.

Merkel, não ficaria nem um pouco frustrada se a líder da próxima coalizão fosse justamente Annalena.

O partido verde vem crescendo e ganhando consenso principalmente nas grandes cidades e espera-se que saia como o grande vitorioso na capital Berlim.

Não bastasse a falta de apoio ao candidato do seu partido, a cada aparição pública, Merkel aproveita a oportunidade para ressaltar a importância da pauta climática, ponto forte do partido verde, e de como o seu governo ficou “devendo” neste quesito.

A verdade por trás deste movimento político é que a senhora Merkel identifica em uma possível coalizão SPD/Partido Verde a implementação da agenda 2030 na Alemanha.

Enquanto países do leste europeu e os conservadores britânicos (não o partido, mas os eleitores) demonstram uma certa resistência a agenda 2030, a Alemanha estaria pronta para liderar o continente e assim, largar na frente e quem sabe alcançar a tão sonhada agenda 2030 lá por 2025/2026, tornando-se um exemplo a ser seguido.

O compromisso com a agenda 2030, vai além de qualquer compromisso com o partido político, ideologia ou patriotismo. Assim como Klaus Schwab, ela sabe que a janela de oportunidade é curta. De quebra ela garantiria por pelo menos mais 5 anos, pessoas no poder que apoiam a União Europeia.

No desespero, o candidato Armin Laschet nesta segunda-feira apresentou um plano para combater as “mudanças climáticas” como uma tentativa de buscar votos de eleitores do partido verde.

Os tópicos centrais devem estar conectados com as mentes, disse Laschet na segunda-feira em Berlim. A equipe climática consiste nos membros da CDU do Bundestag Andreas Jung e Thomas Heilmann, bem como no presidente estadual da Junge Union Bremen, Wiebke Winter.

Os quatro políticos da CDU apresentaram um plano de 15 pontos na coletiva de imprensa. Trata-se de utilizar a “transição energética como motor da proteção do clima e de novos empregos”, enfatizou Laschet. A expansão das energias renováveis ​​deve ser acelerada.

Desta maneira, com três dos seis partidos debatendo em torno às questões climáticas, o eleitor alemão, que está preocupado com o seu emprego, bem-estar da sua família, atento aos distúrbios culturais provocados pela imigração descontrolada dentre outras pautas fica esquecido, deixado de lado. Alguma semelhança com o Brasil?

E baseado neste eleitor que está impedido de participar do debate, é que está o questionamento das pesquisas. Ali reside uma fatia grande do eleitorado que é silenciada e a AFD pode captar muitos votos.

Obviamente, a “velha mídia” assustada com o passado recente (BREXIT, Trump e Bolsonaro) evita dar notícias ou espaço para a AFD, talvez aí se explique o grande engajamento do partido nas redes sociais, na falta de atenção da “velha mídia” o eleitor de forma orgânica estaria procurando saber mais sobre o plano de governo da AFD.

É impressionante como na eleição da principal potência dentro da União Europeia, o debate ficou preso à pauta climática. Mas conforme antecipado pelo PHVox, passada a pandemia fica evidente que este tema seria resgatado, pois se trata de um problema global que exige uma solução global e órgãos globais. Aliás, meu caro leitor, você já ouviu falar em Nova Ordem Mundial?

 

Este artigo é dedicado ao professor Fábio Blanco. Em nossas conversas ele ajudou para que eu pudesse ver uma ligação entre o Fernando Henrique Cardoso de 2002 e a Angela Merkel de 2021.