Muito se discute sobre o que é ou não “belo” no tocante à arte. Alguns mais afetadinhos dizem: “se não é belo, não é arte”. Esquecem que existem categorias diferentes para o belo e, ainda, que a beleza tem um grau de subjetividade objetiva e psicológica. Filósofos e artistas tentaram definir o belo e o feio ao longo da história, nenhum deles o fez com precisão ou completude, alguns até foram contraditórios ou paradoxais em suas análises.

Tão errado quanto idealizar “arte” como apenas produções virtuosas é confundir “arte feia” com “o feio na arte”. Uma obra não deixa de ser artística por ser mal feita, ou feia (isso apenas a faz uma obra de arte ruim ou feia), assim como uma obra que contenha o feio não a torna feia. Há um inferno na Divina Comédia de Dante, onde pessoas gemem e gritam dia e noite, torturadas… há algo mais feio que isso? Obras no mundo inteiro retratam miséria, morte, pecado. A imagem de um Cristo crucificado, sangrando, perfurado por uma lança é terrível… mas pode conter uma beleza indescritível. Essa imagem não é feia por conter o feio. O “feio” é a beleza de tal obra. Aristóteles tinha a ideia de que o prazer proporcionado pela Arte vem da alegria de reconhecer o imitado (mímese), de contemplar coisas que a vida comum não nos permite admirar.

A arte imita a vida. E na vida há pecado, maldade, morte, crime, miséria, guerra. A arte seguirá retratando a vida, por mais cruel e feia que possa ser. Para Agostinho, a presença do mal e do feio na arte é legítima, para acentuar e valorizar o Belo e o Bem, através do contraste.

Da próxima vez que achar uma obra de arte feia, questione-se: é mesmo feio ou apenas não cabe no meu gosto pessoal? Estou fazendo uma suspenção de crença para avaliar a obra? É mesmo feio ou apenas mostra o lado feio da vida? É mesmo feio ou não tenho a capacidade de juízo suficiente para julgar?

[Referência: Iniciação à Estética, de Ariano Suassuna, capítulo 10 e 22.]

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