Tradutora: Karin de Guise
No início dos anos 1990, alguns ambientalistas começaram a chamar a Colúmbia Britânica de “Brasil do Norte”. Isso foi feito de forma depreciativa com o intuito de comparar as práticas florestais na Colúmbia Britânica à destruição da floresta tropical no Brasil. Um grupo nosso, patrocinado pela Forest Alliance da Colúmbia Britânica, foi ao Brasil em uma missão de averiguação, para checar os fatos. Fomos guiados pelo Sr. Stuart Lang, presidente da Crestbrook Industries e fundador do projeto Alberta Pacific no norte de Alberta. Nascido na Nova Escócia, Stuart foi para o Brasil quando era um jovem engenheiro e passou 19 anos ajudando a construir as indústrias de celulose e papel. Ele ficou encarregado da instalação da fábrica de celulose de Jari, na Amazônia, projeto financiado originalmente por Ludwig, o excêntrico bilionário americano. A fábrica de celulose funcionou bem, mas as florestas plantadas falharam. Os novos proprietários brasileiros corrigiram isso e parece que o projeto Jari será finalmente um sucesso. De qualquer forma, aqui está o relatório que escrevi para a Forest Alliance quando retornamos. A principal mensagem é: não acredite no que você ouve na mídia sobre outros países, vá lá e veja por si mesmo!
Principais conclusões, impressões e observações
Não há base para o slogan “Brasil do Norte”. É um insulto imerecido a ambos, tanto à Colúmbia Britânica quanto ao Brasil e não faz nada para promover o entendimento ou o avanço no uso sustentável da terra em nenhum dos dois países.
- A Mata Atlântica ao longo da costa brasileira é o ecossistema mais ameaçado do Brasil. Apenas 4-7% da floresta nativa nessa área ainda existe após 400 anos de urbanização e agricultura, e os grupos conservacionistas não estão satisfeitos com os esforços do governo para proteger esses remanescentes do desenvolvimento.
- A floresta amazônica brasileira não corre risco de desmatamento extensivo. Apenas 5% da Amazônia foi desmatada e existe legislação para controlar o tipo de desenvolvimento que ocorreu há uma década ou mais.
- O Brasil está abordando as questões de uso da terra e silvicultura sustentável de maneira proativa e progressiva. Legislação e política estão em vigor para melhorar a restauração e proteção das florestas nativas.
- As práticas florestais no Brasil e na Colúmbia Britânica são muito diferentes. Existem várias áreas gerais onde a Colúmbia Britânica e o Brasil podem aprender um com o outro, como proteção da biodiversidade e planejamento do uso da terra.
- Deveria haver um intercâmbio muito maior de informações e experiência entre a Colúmbia Britânica e Brasil. Ambas as regiões possuem extensas florestas nativas e um interesse comum em silvicultura sustentável e questões comerciais envolvendo produtos florestais.
- O Brasil não é um grande exportador de madeiras tropicais, pois responde por apenas 1,4% do comércio internacional de madeiras tropicais. O fato da floresta amazônica ser muito maior do que qualquer outra floresta tropical torna sua posição comercial relativa ainda menor. O Canadá respondeu por 17,3% de todo o comércio de produtos florestais em 1991, segundo documentos da FAO
- Uma das principais diferenças entre a silvicultura no Brasil e na Colúmbia Britânica é que, no Brasil, a indústria de produtos de madeira sólida e a indústria de celulose e papel são completamente distintas. Na Colúmbia Britânica, a indústria de celulose e papel é baseada nos resíduos da indústria madeireira. No Brasil, a indústria madeireira é baseada em madeiras nativas tropicais, enquanto a indústria de celulose e papel depende de plantações de pinheiros exóticos e eucaliptos. As plantações de celulose são cultivadas em terras que já foram desmatadas para a agricultura.
- A plantação florestal é uma tecnologia comprovada no sul do Brasil e na costa atlântica. Na Amazônia, o plantio florestal está em um estágio mais recente em Jari, 450 quilômetros a noroeste da foz do rio Amazonas. Mas parece que o eucalipto será um sucesso no Jari, abrindo assim a possibilidade de mais plantações na região amazônica.
- Outra diferença importante entre a Colúmbia Britânica e o Brasil é que não existem terras florestais comerciais de propriedade pública no Brasil. Basicamente, todas as terras, exceto os parques, são de propriedade privada. Os proprietários de terras florestais devem apresentar um plano de uso da terra e receber permissão do governo para implementá-lo. Há mais controle estatal sobre o uso da terra privada no Brasil do que na Colúmbia Britânica onde há controle total sobre as terras públicas.
Objetivo da missão:
Nos últimos anos, o termo “Brasil do Norte” tem sido usado com frequência por alguns ambientalistas para descrever as práticas florestais no Canadá e particularmente na Colúmbia Britânica.
Imagens de incêndios e desmatamento na Bacia Amazônica foram comparadas com o corte raso das florestas tropicais costeiras da Colúmbia Britânica. Em geral, a comparação pretende ser negativa e insultuosa tanto para o Brasil quanto para a Colúmbia Britânica. Ambos são acusados de destruição do ecossistema pelas forças da necessidade e ganância humanas.
A Aliança Florestal da Colúmbia Britânica dedica-se a encontrar um equilíbrio entre a riqueza ambiental e econômica fornecida pelas florestas da região. Preocupa-nos que slogans como “Brasil do Norte” deem à nossa província uma má reputação imerecida tanto no país quanto no exterior. Pedidos de boicotes a nossos produtos florestais e publicidade negativa sobre nosso meio ambiente só podem prejudicar o comércio e o turismo, prejudicando nossa já frágil economia. A Forest Alliance decidiu ver por si mesma se havia alguma validade na comparação com o Brasil e se alguma das áreas havia sido justamente acusada.
Só uma visita de primeira mão ao Brasil poderia nos dar a base para julgar as acusações. Marcamos visitas a áreas representativas da região para nos reunirmos com setores da indústria, governo e ambientalistas.
O objetivo central da missão era examinar o uso da terra, a silvicultura, a proteção da natureza e as condições sociais e econômicas gerais do Brasil, a fim de fazer uma comparação objetiva entre a Colúmbia Britânica e o Brasil.
Os participantes:
- Jack Munro – Presidente, Forest Alliance – Vancouver
- Stuart Lang – Presidente e COO, Crestbrook Forest Industries Ltd. – Cranbrook
- Patrick Moore – Presidente, Comitê de Práticas Florestais da Alliance – Vancouver
- F.L.C. (Les) Reed – Consultor de Política Florestal e Diretor da Aliança – Vancouver
- Mike Morton – Diretor Executivo, Share B.C. – Ucluelet
- Terry Tate – Presidente, Comitê Save Our Jobs – Williams Lake
- Tom Tevlin – Diretor Executivo, Forest Alliance – Vancouver
- Cathy Groenewald – Gerente de Relações com a Mídia, Forest Alliance – Vancouver
É importante notar que Stuart Lang é um ex-residente do Brasil que passou quase 20 anos trabalhando em empreendimentos de celulose e silvicultura nas regiões costeiras e no sul do Brasil. Seus contatos no Brasil permitiram ao grupo ter acesso a representantes experientes e de alto nível do governo, agências ambientais e indústria, e forneceram ao grupo informações detalhadas sobre meio ambiente, silvicultura e uso da terra em uma ampla gama de questões do setor florestal.
A missão:
Um itinerário detalhado da Missão está anexado no Apêndice A.
A visita de 11 dias nos levou a oito dos 26 estados do Brasil nas regiões do Atlântico (litoral), sul e floresta amazônica. Nós viajamos pelos estados densamente povoados de São Paulo e Rio de Janeiro, pelas vastas fazendas do sul, pelas florestas plantadas do norte e sul, e pelas florestas nativas do sul, Mata Atlântica e Floresta Amazônica.
O grupo observou quatro das plantações brasileiras de eucalipto e pinheiro de manejo intensivo. As plantações de celulose do Brasil abrangem cerca de quatro milhões de hectares dos 850 milhões de hectares do Brasil (o Brasil tem cerca de nove vezes o tamanho da Colúmbia Britânica e quase o tamanho do Canadá). Essas plantações e as fábricas de celulose costumam ser responsáveis pela existência de comunidades inteiras, como Telêmaco Borba, no sul, que foi visitada pelo grupo. Outros 3 milhões de hectares têm árvores crescendo para a produção de carvão.
Reunimo-nos com representantes do governo, silvicultura, engenharia, pesquisa, grupos ambientais, fabricantes de máquinas industriais pesadas e organizações conservacionistas.
O grupo também visitou Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, (12.600 megawatts), bem como o Parque Nacional das Cataratas do Iguaçu e Brasília, capital do Brasil e sede de grande parte das operações governamentais.
A comparação entre a Colúmbia Britânica e Brasil
O ambiente
Geografia e clima:
O Brasil tem 850 milhões de hectares enquanto a Colúmbia Britânica possui 95 milhões de hectares; O Canadá tem 910 milhões de hectares.
O Brasil se estende ao longo da Linha do Equador na Amazônia e é totalmente tropical. O sul é subtropical. As áreas mais frias do Brasil equivalem ao norte da Flórida. Não há nenhuma área no Brasil semelhante à Colúmbia Britânica em termos de clima.
A maior parte da massa de terra brasileira é formada por colinas e planícies de baixa elevação. A maior parte da Colúmbia Britânica é montanhosa, com apenas uma fração da terra nos fundos dos vales adequada para a agricultura.
Florestas e silvicultura:
Pouco mais de 60% da Colúmbia Britânica é arborizada com o equilíbrio da terra em campos alpinos, nevados, pastagens e arbustos. Cerca de metade da área florestada, ou 27% da base total da terra, é considerada adequada e disponível para silvicultura comercial. Até o momento, menos da metade da floresta comercial ou 13% da base terrestre foi colhida pela indústria florestal. Praticamente toda a área colhida foi reflorestada com espécies nativas, seja por regeneração natural ou uma combinação de plantio e regeneração natural. Apenas uma pequena porcentagem da terra (3%) é ocupada por assentamentos humanos e agricultura.
Em contraste, o Brasil estava originalmente quase totalmente coberto por florestas e pastagens de savana. Durante os 450 anos de ocupação europeia, as florestas subtropicais do sul, incluindo a Mata Atlântica e as florestas de pinheiros Araucária, foram dizimadas para lenha, madeira e terras agrícolas. Apenas 4-7% da Mata Atlântica e 15% do total da Mata Sul permanecem em seu estado natural. Muito disso está em pequenos fragmentos e já foi cortado ou classificado para madeira no passado. A maior parte das terras do sul foi desmatada para a agricultura há muito tempo. Parte dessa área está fortemente degradada e erodida, especialmente ao longo da costa atlântica, onde grande parte da população está concentrada.
Em contraste com a floresta do sul, a floresta amazônica está em sua maior parte em seu estado natural com apenas 5%[1] tendo sido desmatada, de acordo com o IBAMA, a agência nacional responsável pela implementação de políticas de recursos sustentáveis. Novamente, a clareira era principalmente para agricultura e pastagem de gado. A extensão limitada do desmatamento na Amazônia é o fato mais mal compreendido sobre o uso da terra no Brasil. A legislação recente aumentou muito a proteção da floresta tropical e não há chance de que o desmatamento na escala que ocorreu no sul do Brasil se repita na Amazônia. Atualmente, o desmatamento foi drasticamente reduzido por uma legislação rígida.
O uso da terra da floresta primária na Colúmbia Britânica é para silvicultura comercial, seguida de reflorestamento com espécies nativas. Historicamente, o uso predominante da terra no Brasil era para a agricultura, onde as espécies nativas são totalmente deslocadas. Muitas das terras agrícolas eram originalmente pastagens ou floresta aberta do tipo savana. Cerca de 95% da floresta amazônica permanece em seu estado natural e simplesmente não é tão ameaçada como o resto do mundo foi levado a crer. Parte da terra desmatada para a agricultura nas últimas décadas já voltou às condições de floresta natural.
Dados esses fatos, como é possível que a Colúmbia Britânica e o Brasil pudessem ser tão intimamente comparados a ponto de chamar a Colúmbia Britânica de “Brasil do Norte”?
A primeira distorção dos fatos é o uso da palavra “desmatamento” para comparar a Colúmbia Britânica com o Brasil. Para apoiar a afirmação do “Brasil do Norte”, a Valhalla Society declarou que “corte raso é desmatamento, independentemente de novas árvores serem estabelecidas no local”. Essa declaração errônea forma a base de toda a comparação entre as duas regiões. Isso implica que uma área na Colúmbia Britânica que foi reflorestada com sucesso com espécies nativas é uma área “desmatada”. No Brasil, o desmatamento quase sempre está associado à agricultura ou ocupação humana. O Brasil tem muito desses dois empreendimentos no sul e muito pouco no norte. A Colúmbia Britânica teve muito pouco desmatamento para agricultura ou assentamento humano. Existem áreas localizadas, como o delta do rio Fraser, o condado do rio Peace e o vale de Okanagan, que foram afetados com maior intensidade.
A segunda falsa impressão criada pelo slogan “Brasil do Norte” é que tanto a floresta tropical amazônica quanto as florestas tropicais do litoral da Colúmbia Britânica estão ameaçadas de extinção e serão eliminadas se as tendências atuais continuarem. Como mencionado anteriormente, apenas 5% de toda a Amazônia brasileira foi convertida de seu estado natural. A maior parte desse desenvolvimento ocorreu nos Estados do Pará e Rondônia. Na floresta tropical central do estado do Amazonas, menos de 1% da área foi desmatada. O estado do Amazonas tem 156 milhões de hectares, uma área mais de uma vez e meia o tamanho da Colúmbia Britânica.
De acordo com todas as autoridades visitadas no Brasil, incluindo a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza, o Fundo Mundial para a Natureza, o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) e o Ministério do Meio Ambiente não há possibilidade de que a Amazônia seja fortemente desmatada em futuro próximo. Certamente, existem preocupações ambientais sobre os desenvolvimentos de mineração. O corte seletivo limitado é realizado para o mogno e outras espécies de alto valor na Bacia Amazônica. Mas a Amazônia não está desaparecendo e provavelmente está em maior segurança do que qualquer outra floresta tropical do planeta.
As florestas costeiras da Colúmbia Britânica cobrem uma área de 7,9 milhões de hectares em comparação com 358 milhões de hectares da Amazônia brasileira (o total da floresta amazônica é de 500 milhões de hectares).
Até o momento, cerca de 2,2 milhões de hectares da floresta costeira da Colúmbia Britânica foi usada para o plantio onde a colheita já se realizou e quase toda essa área foi reflorestada e voltou a crescer como floresta secundária que foi plantada ou regenerada naturalmente com espécies nativas. Outros 3 milhões de hectares dos 7,9 milhões de hectares são considerados não comerciais ou inacessíveis e não há planos de plantio e colheita nessas áreas. Cerca de 700.000 hectares estão em parques ou em áreas de estudo, aguardando a duplicação dos parques de 6% para 12%. Isso inclui algumas das melhores terras do antigo crescimento ao longo da costa oeste da Ilha de Vancouver. Os 2 milhões de hectares restantes de floresta costeira que são considerados comercialmente operacionais e disponíveis para colheita estão sendo plantados, colhidos e reflorestados a uma taxa de 50.000 hectares por ano. (Eram 46.000 hectares em 1991-92 e isso está diminuindo. Provavelmente cairá 15-20% em 2000, conforme mais terras são reservadas, cortes anuais permitidos são reduzidos e extração seletiva e desbaste comercial se tornam mais generalizados).
Portanto, a perspectiva para a floresta costeira da Colúmbia Britânica é que, no máximo, cerca de 4.200.000 hectares serão manejados como áreas florestais comerciais com espécies arbóreas nativas e que cerca de 3.700.000 hectares permanecerão em seu estado natural. É difícil imaginar que isso vá causar “colapso ecológico” ou “devastação”, como tem sido sugerido por alguns grupos ambientalistas.
A terceira, e talvez a mais dramática, distorção da compreensão do público foi o uso de filmes e fotos mostrando queimadas de florestas no Brasil e na Colúmbia Britânica. A inferência é que “a Amazônia está queimando” e que nunca mais voltará a crescer. A verdade é que a floresta tropical amazônica pode voltar a crescer tão facilmente e mais rapidamente do que a floresta tropical costeira da Colúmbia Britânica. Como exemplo, a rodovia Trans Brasília foi construída na década de 1970 para cruzar a Amazônia de leste a oeste. De acordo com as autoridades brasileiras, cerca de oito anos após a construção, a estrada foi tão fortemente impactada pela invasão da Amazônia que se tornou intransitável e assim permanece até hoje.
A queimada é usada no Brasil e na Colúmbia Britânica, mas por razões bem diferentes. No Brasil, as queimadas geralmente estão associadas à agricultura. Os canaviais costumam ser queimados. As pastagens são queimadas para conter a vegetação invasora. Os pequenos agricultores que praticam a agricultura itinerante queimam a vegetação para estabelecer suas safras. A maior parte dessas queimadas é feita regularmente nas mesmas terras ou em terras adjacentes, ano após ano. Atualmente, há poucas novas florestas naturais sendo derrubadas em grande escala.
Na Colúmbia Britânica, as queimadas geralmente estão associadas à silvicultura, e não à agricultura. Em geral, há muito menos queimadas hoje do que cinco ou dez anos atrás. Ainda é considerado necessário usar a queimada em algumas áreas para remover o excesso de detritos lenhosos, para controlar doenças nas árvores e para melhorar as pastagens para a vida selvagem e o gado.
Política de Uso da Terra Florestal no Brasil:
Nos últimos anos, o Brasil adotou uma série de reformas no uso da terra. Existem agora três regimes básicos no país que são projetados para proteger a floresta nativa enquanto permite algum desenvolvimento.
A Mata Atlântica é o ecossistema mais ameaçado do Brasil. Originalmente, era uma estreita faixa costeira de floresta tropical fechada com uma riqueza de espécies semelhante à da floresta amazônica. Apenas 4-7% da Mata Atlântica permanece em seu estado natural devido ao desmatamento para ocupação humana e agricultura. O governo aprovou uma legislação que proíbe qualquer desenvolvimento adicional nas áreas florestais remanescentes. O World Wildlife Fund, Brasil, não acredita que a legislação esteja sendo totalmente cumprida e considera que a Mata Atlântica continua em perigo.
A floresta do interior do sul cobre uma área muito maior do que a Mata Atlântica. Esta área também foi sujeita a extenso desmatamento para a agricultura, de forma que apenas cerca de 15% da floresta original permanece. Na floresta do sul, os proprietários de terras são obrigados a reservar 20% de sua área de terra como reservas naturais. Isso deve incluir a proteção das margens dos riachos, bem como quaisquer áreas de importância ecológica. Todos os proprietários privados devem apresentar um plano de manejo mostrando onde as áreas de reserva estão localizadas. Nenhuma floresta nativa pode ser cortada sem permissão do governo. Embora seja teoricamente possível cortar a floresta natural se esta cobrir mais de 20% da terra, isso não é provável que ocorra, dado o fato de que muito poucas áreas têm tanta floresta remanescente. Na prática, a aplicação da regra dos 20% resultará em uma área maior de terra sendo restaurada à natureza.
A maior área do Brasil é a região amazônica – mais de três vezes e meia o tamanho da Colúmbia Britânica. Mais de 350 milhões de hectares da floresta amazônica estão no Brasil. Até cerca de 1960 não havia desmatamento extensivo da floresta amazônica. A partir da década de 1960 e se estendendo até a década de 1980, o governo construiu estradas e incentivou o povoamento na Amazônia, principalmente nos Estados do Acre, Pará e Rondônia, como parte de um Programa de Integração Nacional para integrar a enorme região Norte ao restante do Brasil e fornecer um escoamento para os quase 100 milhões de pessoas que vivem no sul. Isso resultou em um aumento dramático no desmatamento para a pecuária e agricultura de subsistência.
Em decorrência da preocupação, tanto internacional quanto nacional, de que se checasse a taxa de desmatamento na Amazônia, os subsídios ao desenvolvimento foram eliminados em meados da década de 1980. Não há grandes projetos de construção de estradas em andamento e as tendências mostram que as pessoas estão voltando para centros urbanos como Belém e Manaus.
Não importa como os dados sejam interpretados, há um amplo consenso entre governo, indústria e ambientalistas de que a floresta amazônica continuará a ser protegida em futuro próximo.
A legislação permite que no máximo 50% da Amazônia em terras privadas seja desenvolvida. No entanto, as agências governamentais acreditam que se todas as terras adequadas para agricultura itinerante fossem desmatadas, no máximo apenas 20% da Amazônia seria desmatada. Isso se deve às grandes zonas ribeirinhas (áreas ribeirinhas que cobrem 35% da Bacia Amazônica) que devem ser protegidas e vastas áreas úmidas associadas às inundações anuais na Bacia. Mesmo esse máximo de 20% não ocorrerá em um futuro próximo, devido às dificuldades de acesso, população escassa, afastamento e políticas governamentais.
Avanços na silvicultura sustentável no Brasil:
Um dos aspectos mais interessantes da missão foi a introdução dos participantes à silvicultura sustentável conforme ela está evoluindo no Brasil. Após séculos tratando as florestas como ilimitadas, várias empresas brasileiras foram pioneiras em um novo modelo de produção de madeira, protegendo a ecologia natural.
A indústria florestal brasileira é estruturalmente muito diferente da Colúmbia Britânica. No Brasil, a indústria madeireira não é muito grande e é caracterizada por inúmeras pequenas serrarias. A indústria madeireira é baseada em madeiras de lei nativas, agora predominantemente da região amazônica. Até poucos anos atrás, a indústria era totalmente extrativista e havia pouco controle legislativo. Agora a indústria deve replantar árvores nativas e a fiscalização está se tornando muito mais eficaz.
É crescente o número de pesquisas, muitas delas por meio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, voltadas ao desenvolvimento da silvicultura sustentável nas matas nativas da Amazônia. Tem havido considerável sucesso na propagação de espécies arbóreas nativas em viveiros para plantio em florestas nativas.
A indústria brasileira de celulose e papel é diferente à da Colúmbia Britânica porque não é baseada nos resíduos da serração. No Brasil, plantações florestais foram estabelecidas para abastecer as fábricas de celulose diretamente com espécies exóticas de rápido crescimento de pinus e, cada vez mais, de eucalipto. A área de floresta necessária para sustentar uma fábrica de celulose no Brasil é muito menor do que na Colúmbia Britânica devido às taxas de crescimento muito mais altas das árvores.
Algumas plantações de eucalipto onde a ciência da clonagem (propagação vegetativa) é altamente avançada estão se aproximando de uma produção de 50 metros cúbicos por hectare por ano, em comparação com 2-5 metros cúbicos por hectare por ano na maioria das florestas da Colúmbia Britânica. O eucalipto geralmente atinge a idade de colheita aos 7 anos para uso nas fábricas de celulose brasileiras, em comparação com 60-120 anos para as toras de madeira na Colúmbia Britânica.
O grupo Forest Alliance visitou quatro projetos de celulose e papel que estão na vanguarda da incorporação de florestas plantadas com restauração e proteção de mata nativa em seus arredores. Agora é prática criar um mosaico de floresta natural dentro das plantações. Em geral, as plantações são estabelecidas em terrenos mais elevados com a floresta nativa ocupando as zonas ribeirinhas, encostas íngremes e áreas de importância ecológica. A floresta nativa ocupa 20-35% da paisagem de cada empresa e fornece um depósito de biodiversidade em meio às plantações. Pássaros e insetos da mata nativa ajudam a conter as pragas e as plantas nativas invadem as plantações, tornando-as mais biodiversas.
A opinião do WWF, IBAMA, FBCN e outras fontes independentes é que esse tipo de manejo intensivo, combinado com a restauração e proteção da natureza, é um passo na direção certa, embora melhorias possam ser feitas.
Social – Comparação Econômica
História:
A plantação florestal é uma indústria relativamente nova no Brasil. Tudo começou em grande escala no início dos anos 1970. A extração de produtos de mogno para exportação remonta a 1917. Grande parte da área costeira foi desmatada nos últimos 200 anos para café e outras safras agrícolas, bem como para pastagem de gado doméstico. Na época, as árvores eram consideradas mais um obstáculo do que um benefício, e a terra desmatada valia mais do que áreas florestadas. Até dez anos atrás, a Klabin, no estado do Paraná, era a única produtora de papel de jornal do Brasil.
Um desafio que o Brasil enfrenta é como comercializar suas muitas espécies de madeira de lei tropical para o mundo. A maior parte da colheita na floresta amazônica é apenas para madeira de mogno, que compreende apenas uma fração da floresta. Se um mercado fosse encontrado para as mais de 150 espécies comercialmente viáveis que crescem na Amazônia, o governo acredita que um melhor manejo florestal poderia ser alcançado. Em contraste, a Colúmbia Britânica encontrou mercados para praticamente todas as espécies nativas que crescem nesta província, e pouco resta após a colheita.
À parte, os produtos de madeira não são um material de construção residencial popular no Brasil. As casas de madeira são consideradas inferiores às casas de tijolo, uma vez que o tijolo implica permanência e riqueza. A madeira parece ser amplamente utilizada para acabamento e mobília de interiores no Brasil. Isso é o oposto da Colúmbia Britânica, onde a madeira é o material de construção preferido das novas casas.
Na Colúmbia Britânica, a silvicultura para exportação começou há mais de 100 anos e continua a ser um dos principais contribuintes (27,6% de nosso PIB) para nossa balança comercial. O setor florestal contribui com apenas 3% do PIB do Brasil.
Nos últimos 35 anos, o Brasil viveu uma explosão demográfica e de crescimento econômico. Atualmente, é a oitava ou nona economia do mundo, e a população quase dobrou de cerca de 90 milhões em 1958 para 150 milhões na década de 1990. Nas décadas de 1960 e 1970, o governo incentivou parte da população a se mudar para a bacia amazônica, em grande parte subdesenvolvida. Em parte, isso foi uma tentativa de aliviar a pobreza entre os cidadãos sem terra. Criou-se Brasília, a capital, construiu-se estradas e ofereceu-se incentivos fiscais para quem quisesse se mudar. Segundo todos os relatos, essa iniciativa não foi totalmente bem-sucedida. Os agricultores não tinham as ferramentas e a experiência necessárias, e o desenvolvimento da Amazônia não é fácil. Muitas estradas e fazendas foram rapidamente invadidas pela selva invasora. No início da década de 1980, o programa foi suspenso e as pessoas retornaram em grande número aos centros urbanos do norte e do sul.
Propriedade da terra:
Exceto pela esparsamente povoada Amazônia, a maior parte do Brasil é propriedade privada. Os proprietários de terras privadas estão sujeitos às regras e regulamentações governamentais relativas à preservação e ao manejo florestal. Na Amazônia, os proprietários de terras podem cortar árvores em até 50% de suas propriedades muito limitadas e as zonas ribeirinhas devem ser protegidas. No Sul, 20% deve ser preservado. (Veja florestas e silvicultura)
Na Colúmbia Britânica, quase tudo é terreno público – apenas uma pequena parte pertence a proprietários privados. Regulamentações governamentais não controlam atividades em terras privadas na Colúmbia Britânica da mesma maneira como fazem no Brasil.
Embora exista uma enorme lacuna entre os 100 milhões de brasileiros que vivem um estilo de vida europeu e os 50 milhões que vivem em situação de pobreza comparativa, o Brasil não deve ser considerado um país em desenvolvimento. Possui tecnologia e ciência pelo menos iguais às do Canadá e construiu alguns dos maiores geradores de energia e complexos industriais do mundo. Além disso, ao contrário da Colúmbia Britânica, grande parte de sua economia pode ser considerada doméstica. Televisores, automóveis, equipamentos industriais – incluindo a maioria das máquinas da indústria florestal – e produtos agrícolas, desde o café ao cacau, são produzidos e vendidos no Brasil. A inflação no Brasil foi reduzida, embora ainda seja estimada em 1% / dia, em comparação com 3-4% / ano na Colúmbia Britânica.
A maior parte da população está concentrada nas regiões sul e costeira do Brasil. Só na cidade de São Paulo, polo industrial do país, moram 18 milhões de pessoas. O Rio reivindica outros 10 milhões. Essas duas regiões metropolitanas contêm mais pessoas do que todo o Canadá. Colonizadas por volta de 1550, essas regiões do Brasil foram virtualmente despojadas de árvores originais, cultivadas e colonizadas.
O Canadá, que é maior que o Brasil em 60 milhões de hectares, tem uma população de apenas 27 milhões. As diferenças em nosso Produto Interno Bruto per capita também são gritantes. Em 1990, o PIB per capita no Brasil era de 1.980 (US $), enquanto no Canadá era de 21.813 (US $), mais de dez vezes o do Brasil.
Emprego:
Na Colúmbia Britânica, a indústria florestal é responsável por cerca de um em cada cinco empregos, enquanto no Brasil, desempenha um papel relativamente insignificante, empregando cerca de um em 500 a 1000 pessoas. Apenas 1,4% do comércio internacional de madeira tropical vem do Brasil.
Existem grandes diferenças entre a Colúmbia Britânica e o Brasil relativos à força de trabalho nas principais empresas visitadas. Champion, Klabin, Jari e Aracruz oferecem alimentação, assistência médica e odontológica no local, transporte, educação em forma de escolas e bolsas universitárias, recreação e moradia subsidiada para alguns ou todos os seus trabalhadores. Os salários são geralmente baixos para os padrões da Colúmbia Britânica (um técnico qualificado ganha $ 800- $ 1200 / mês mais benefícios na Voith), mas altos para os padrões brasileiros.
É importante notar que esse modelo provavelmente não funcionaria na Colúmbia Britânica ou no Canadá, pois as negociações trabalhistas provaram que os trabalhadores preferem ganhar um salário mais alto e gastar seus ganhos como quiserem.
Um dos benefícios mais interessantes para a comunidade foi um centro de fitoterapia na Klabin. Cerca de 10.000 residentes locais têm acesso a medicamentos vegetais naturais de baixo custo do laboratório da Klabin para tratar de tudo, desde queimaduras solares até indigestão. Os cientistas afirmam que os remédios à base de ervas colhidos de plantas nativas produzem poucos efeitos colaterais e são preferidos pelos trabalhadores aos produtos farmacêuticos de marca, que podem custar duas a três vezes mais.
Apêndice A
Itinerário Detalhado
Estados visitados:
Pará, Paraná, Amapá, Goiás, Amazonas, Rio, São Paulo, Espírito Santo
13 de outubro – quarta-feira – São Paulo
Manhã: Jaakko Poyry Engineering
Apresentação sobre a história e o estado atual da indústria florestal brasileira pela Jaakko Poyry Engineering, uma das maiores empresas de engenharia do mundo.
- Carlos A. Farinha E Silva, Diretor, Divisão Energia, Celulose e Papel
- Walter Sales Jacob, Gerente do Depto. Florestal
- Jose Mathias Frings, Gerente de Projetos
Tarde: Voith Industrial Equipment
Apresentação da Voith, fabricante de máquinas industriais pesadas com faturamento anual de US $ 200-300 milhões.
- Kurt Brandauer, Vice-Presidente Executivo, Membro do Conselho de Administração – Divisão de Máquinas de Papel
- Kurt Pappe, Vice-Presidente Executivo, Membro do Conselho de Administração – Divisão de Manufatura
- Dr. Walter von Kalm, Diretor Superintendente
Tarde:
Discussão no jantar com:
- Sr. Carlos Aquiar, Presidente, Aracruz Celulose SA
- Sr. Valentin I Suchek, Presidente, Alby Eletroquimica SA
14 de outubro – quinta-feira – Mogi Guacu
Champion Paper e Celulose Ltda.
Tour pela fábrica de celulose e plantação, florestas clonais e semeadas de eucaliptos e pinheiros.
- Pieter W. Prange, Gerente de Divisão, Aquisição de Madeira
- Benedito Vanderlei Madruga, Gerente de Divisão Papermaking & Finishing
- José Demetrius Vieira, Supervisor de Meio Ambiente, Florestal (Chamflora Agricola Ltda)
- Luiz Carlos Rehder, Assistente, Divisão de Papel e Acabamento
- Guido Nelson Prudencio Cespedes, Gerente de Desenvolvimento e Controle de Processos
Noite: Klabin Fabricadora de Papel e Celulose SA
Apresentação das atividades da Klabin no estado do Paraná.
15 de outubro – sexta-feira – Klabin
Passeio pelo viveiro da Klabin, planta fitoquímica, plantações e vila construída pela empresa.
- Cleo de Assis, Diretora Superintendente
- Josmar Verillo, Diretor Administrativo
- Eng. Moacyr Fantini Junior, Biotecnologia, Gerencia de Pesquisa Florestal
- Eng. Raul Mario Speltz, Diretor Florestal
- Loana Aparecida Pereira da Silva Johansson, Farmacêutica Industrial e Bioquímica
- Eng. Guaracy G. Azevedo, Lab. Testes Físicos
- Francisco Cesar Razzolini, Chefe DPPE – MP’s 1,2,3
16 de outubro – sábado – Cataratas do Iguaçu
Visita a Foz do Iguaçu, Parque Nacional do Iguaçu e Usina de Itaipu, que é a maior do mundo com 12.600 megawatts.
17 de outubro – domingo – Rio de Janeiro
Reunião com funcionários florestais, governamentais e conservacionistas.
- Axel Schmidt Grael, Engenheiro Florestal, Presidente do IEF / RJ, Governo do Estado do Rio de Janeiro
- Nuno de Faria L.P. de Linde P e Cunha e Silva, Gerente Ambiental da Aracruz Celulose SA
- Jairo Costa, Presidente, Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza
- Ana Fonseco, Diretora Executiva, Fundação Brasileira Para a Conservação da Natureza
18 de outubro – segunda-feira – Vitória
Tour pela Aracruz Celulose SA, incluindo visitas aos seus extensos laboratórios de pesquisa, fábrica e viveiro de eucalipto e pinus.
- Eng. Walter Lidio Nunes, Gerente de Operações Industriais
- Nuno de Faria L.P. de Linde P e Cunha e Silva, Gerente Ambiental da Aracruz Celulose SA
- Renato Gueron, Gerente de Área – Engenharia
- Lineu Siqueira Junior, Gerente de Recursos Ambientais
- Dr. Ergilio Claudio-da-Silva, Jr., Gerente – Tecnologia Industrial
- Luiz Soresini, Diretor Florestal
19 de outubro – terça – Brasília
Visita ao IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, órgão de fiscalização e fiscalização do setor florestal do governo federal.
- Paulo Alcen Grieges, Eng. Flor., Diretor do Departamento de Comercializações
- João C. Nedel, Dep. Recursos Florestais
Tarde:
Reunião com World Wildlife Fund – Brasil
Eduardo Martins, Coordenador do programa Brasil
Visita a Monte Dourado e JARI – uma operação florestal e Cadum nas margens do Amazonas no rio Jari.
- Marcel D. Batsleer, Presidente, JARI Celulose SA (anteriormente Companhia Florestal Monte Dourado)
- Eng. Lineu Henrique Wadouski, Diretor Florestal
- Luiz Claudio F. Castro, Coordenador de Meio Ambiente
21 de outubro – quinta-feira – Manaus
Reunião com o INPA, agência de pesquisa responsável pelo mapeamento por satélite da floresta amazônica.
22 de outubro – sexta-feira – Manaus
Passeio de barco pelo Rio Negro e Amazonas. Caminhada pela floresta amazônica. Um final adequado para uma viagem fantástica
[1] Documentado em 5%. Algumas fontes não documentadas estimam que 5 a 10% foram convertidos.