Há muito tempo venho dizendo que o trabalho de análise política é feito com perguntas e estas perguntas devem ser pautadas em busca de fatos.
Com esta premissa posta, vamos a alguns pontos:
O BRICS é uma herança do governo revolucionário do Foro de SP, envolve o alinhamento entre países à época alinhados em uma mesma visão ideológica e não somente política. Gostem ou não, vantajoso ou não, o BRICS existe.
O Brasil é um país com importância central e única dentro do BRICS e o que acontece aqui, influencia diretamente os países do bloco.
Neste dia 09 de setembro de 2021, aconteceu reunião do BRICS, leia-se: Bolsonaro, Putin e Xi Jinping. Posto isto, é necessário agora entender alguns fatos ocorridos na geopolítica nos últimos doze meses:
Bolsonaro ficou isolado em sua agenda geopolítica, com a saída de Trump e Netanyahu dos EUA e Israel respectivamente. O enfraquecimento de posições de Boris Johnson no Reino Unido também é marcante. A saída do chanceler Ernesto Araujo do Itamaraty foi um fator pesado nas políticas externas do governo brasileiro, alie-se isso com a saída de Mike Pompeo do cargo de Secretário de Estado dos EUA e a perda de força de Dominic Raab no Reino Unido, isso devido a sua atuação na crise do Afeganistão.
Joe Biden, atual presidente dos EUA, não é um presidente confiável em nenhum aspecto para seus aliados, os países do Sudeste asiático estão demonstrando isso a cada dia. A questão ficou ainda mais latente após a crise da retirada de tropas do Afeganistão.
Desta forma, temos até aqui de forma clara a posição do governo brasileiro neste complexo jogo.
A tensão no mundo hoje é grande. Rússia e China formam neste momento aliança mais forte do que no período da Guerra Fria, isto segundo palavras do homem forte de Vladimir Putin e Ministro das relações exteriores da Rússia Sergey Lavrov. Segundo os dois países, as relações ultrapassam o campo político militar.
Desde que Trump deixou a casa Branca, a China iniciou uma ofensiva em vários países para recuperar o terreno perdido em negociações com a sua tecnologia 5G. Nos EUA contratou Tony Podesta, irmão de John Podesta, nome central do Partido das Sombras (entenda mais sobre aqui), para fazer o trabalho de lobista em Washington. No Brasil o mesmo foi feito, e o escolhido pelo partido comunista Chinês foi… Michel Temer.
Coincidência ou não, após a reunião do BRICS Michel Temer surge como o homem para apaziguar a profunda crise institucional que está deixando tudo nebuloso no Brasil, com um ponto importante a ressaltar: Até o momento que escrevo o embaixador da China no Brasil está em silêncio. Isto chama a atenção, pois este sempre intromete-se em temas que envolvam a política interna do Brasil, chegando até mesmo a “sugerir” o que o Parlamento brasileiro deve ou não fazer e sempre “compra” brigas com a administração do governo Bolsonaro.
Partidos como o PT, estão completamente insatisfeitos com o “entendimento momentâneo” entre os poderes no Brasil, mas não seria isto por motivos supranacionais? Vale ressaltar que recentemente a China abandou o apoio à Ciro Gomes e seu PDT como seu homem e partido forte no Brasil. Estaria o PT interessado neste apoio e este possível movimento geopolítico teria colocado água no chopp partido de Lula e seus partidos satélites?
Importante ressaltar: Não estou aqui dizendo que o governo brasileiro agora está junto com a Rússia e a China e fazem parte da mesma aliança. Muito menos de que o governo brasileiro se vendeu ou coisa do tipo.
Mesmo para China e Rússia, uma crise profunda no Brasil neste momento de escalada de poder da dupla na geopolítica não é interessante. Repito, nosso país é estratégico provedor de recursos para todos no mundo.
Entender estes pontos é extremamente importante quando olhamos para o BRICS no cenário atual. Ignorar a movimentação geopolítica e como o Brasil encaixa-se nela é um erro BRUTAL.
Não é possível reduzir à geopolítica a lutas polarizadas. Deixo aqui a máxima que utilizamos no PHVox: “A geopolítica, não é linear”.
Estes dados são somente para reflexão. Acredito que temos muito mais fatores internos a serem matizados e analisados em breve. Análise política é feita com perguntas e algumas estão postas, continuaremos em busca de respostas.
Paulo Henrique, teu artigo aborda com destreza o complexo entrelaçamento geopolítico da situação brasileira atual, mostrando muito bem como é difícil perceber o conjunto desses movimentos cambiantes. Penso que Temer é atualmente a principal “carta da China” em nosso país (os chineses devem ter percebido que ele tem muito mais consistência política que o verborrágico e instável Ciro Gomes). Como a tônica atual de Temer é o “apaziguamento”, o melhor é que o atual embaixador -polêmico, arrogante e odiado pelos bolsonaristas – contribua para isso com seu silêncio. Os chineses são mestres da ambiguidade, sabem jogar muito bem com todas as cartas e levam a sério o ditado árabe: “um machado de ouro penetra muito mais fundo que um de ferro”.
No capítulo do Brics, penso que o Brasil deveria, com a devida discrição, executar uma consistente política de aproximação da Índia. Seria ótimo estabelecer com esse gigante amplos acordos, por exemplo, para venda de soja. Seria um golpe de mestre no sentido de enfraquecer a pressão chinesa, sempre chantageando com a compra da nossa soja.
Por último, uma volta de Trump à Casa Branca – algo improvável mas não impossível – colocaria de novo a potência americana em cena mudando substancialmente o quadro para o Brasil, uma vez que Trump, pela ampla afinidade com Bolsonaro, imediatamente definiria o Brasil como um aliado preferencial.
Um abraço.
Excelente análise. Tudo faz muito sentido Uma pergunta: sendo Michel Temer carta da China ( com uma atuação sempre ambígua muito ao gosto chinês) e aparecendo agora no cenário como interlocutor entre o presidente e o STF(Alexandre) não será esse um risco para que Bolsonaro seja forçado a aceitar condições como 5G da China?(MT sendo escolado não velha política não dá ponto sem nó!)
Vejo que a China é risco para o Brasil com o 5G. Fiquemos atentos, Michel Temer é um Lobista de interesse próprio, e não para o País.
Sim, um risco. Aliás, um alto risco. Digamos, um “pedágio” que Temer sem dúvida tentará cobrar pela mediação entre Bolsonaro e o STF. E a esse risco se acrescenta outro: o de que alguém, seja no STF, seja no Congresso, não cumpra cláusulas do acordo (agora mesmo está circulando a notícia, já carimbada como fake news, de que o Fachin teria negado o habeas corpus para o Zé Trovão). Terá Bolsonaro errado ao concretizar o acordo? Como ele mesmo disse, pelos “frutos” saberemos. De qualquer modo, na guerra e na política, não é possível vencer sem correr riscos.
Se o lado de lá não cumprir o acordado (claro, buscando esconder a trapaça), não sobrará outra alternativa senão a adoção de uma linha de ação realmente contundente. Nesse caso, acredito que o presidente ainda terá um apoio popular esmagador.
A meu ver, há uma premissa falsa que torna a análise equivocada. A Rússia de Putin não é aliada de Pequim!! Muito pelo contrário. Por ora fico por aqui.
Apresente sua tese, pois no texto a premissa é dada com fato que o comprova. Caso necessite tenho muitas horas de análises e exposições sobre o tema.
Analise muito interessante.
Quanto ao acordão, sem dúvidas foi uma manobra arriscada do Bolsonaro, por rifar seu apoio popular em algo que a oposição e a mídia farão de tudo para melar. Mas se deste acordo vier uma solução para a volatilidade no preço dos combustíveis, o dano na base de apoio será mitigado em alguns meses.
Em relação ao embaixador Xing-Ling, não duvido que esteja mexendo os pauzinhos para assegurar o sucesso do acordo, sendo de interesse da China não haver uma escalada nas tensões aqui, visto que mais instabilidade no Brasil atrairá certamente os abutres da União Europeia e o Governo Biden. Os Chineses sabem que o Bolsonaro é um problema que terão até 2023, e que é possível chegar em algum entendimento com nosso atual Presidente, se necessário.
A longo prazo não creio que a China queira o Brasil como seu principal fornecedor de commodities agrícolas e minerais, tanto é que estão agressivamente se inserindo na Africa subsaariana, cujo potencial agrícola pode reduzir drasticamente sua dependência em relação ao Brasil. Neste sentido é interessante que o nosso governo busque acordos comerciais com a Índia, que promete ser o carro chefe do crescimento mundial nos próximos anos e que também possui uma gigantesca população a alimentar.
Seguindo a linha de raciocínio acima, plenamente coerente, os meus questionamentos ficam:
Não estará no momento de ações, além da aliança comercial com Índia, cujo caminho me parece interessante, também algum endurecimento maior com China, que pode ser de forma “comercial:?
Ex. Rever contratos dos últimos anos com Compra de vários pontos e serviços estratégicos, e, impor limites e até eventual alteração contratual aonde possa o governo ter participação ativa!?
Não sei se é possível, mas portos, cooperativas de alimentação, empresas de energia e comunicação
Só serem válidos com “supervisão” plena Federal!?
Ótimo artigo
Nós brasileiros temos um triste histórico de falta de conhecimento ou aprofundamento político. Precisamos e muito desse tipo de aula abrangente e elucidativa. Eu só via o problema chinês como um governo paralelo e mesmo sabendo da presença do Rússia na Venezuela estava dando pouca atenção pois o chinês de Brasília me tirava o sono e agora somando todas essas informações… Precisamos intensificar nossas orações.que a Virgem Rainha do Santo Rosário venha em nosso socorro.