Disfarçado de uma elite purista, pragmática e técnica, o Partido Comunista Chinês configura-se como o maior establishment totalitário do século XXI.

Eric Voegelin (1901-1985), um dos maiores filósofos políticos do século XX, era enfático ao dizer: o gnosticismo é a substância da modernidade. É ponto pacífico que todos os regimes totalitários que resultaram no maior banho de sangue que a humanidade presenciou advieram de uma fonte em comum: a utopia do homem em acreditar piamente que podia tomar o lugar de Deus e auto divinizar-se no processo histórico-político. No palco da batalha entre Leviatã e Beemote pudemos assistir – e infelizmente participar delas — as cenas macabras da tragédia histórica e temporal na busca insaciável pelo poder.

Extraídas todas as esperanças do homem na vida eterna, fechando-se tanto as portas dos céus como as do inferno, sobra-nos o vazio existencial do humanismo, elevado às excelsas condições pelos revolucionários iluministas; um futuro grandioso e hipotético de que, séculos após os intentos, vemos que o resultado é uma roda gigante infernal e aflitiva de revoluções, decepções e desilusões sem fim.

Tal é o gnosticismo apontado veementemente por Eric Voegelin e seu conceito assertivo sobre a imanentização do eschaton: uma espécie de fé metastática num projeto político-ideológico que promete mundos e fundos para os seres humanos, o paraíso terrestre e um sentido histórico final, mas em que, na realidade prática, uma elite oligárquica detém os meios de domínio para subversão de toda uma civilização sob o pretexto de construir uma nova, supostamente perfeita e irretocável, sob os escombros dos cadáveres e almas condenadas.

Se para os antigos gnósticos o mundo físico – tempo, espaço e contingência — não passava de uma prisão criada pela “dualidade” da divindade (na espécie de um demiurgo, de cuja libertação viria através de um conhecimento – gnosis – irracional), na modernidade, o demiurgo transformou-se no Ocidente cristão, a civilização que deve ser derrubada custe o que custar para a “libertação” da prisão física e a consumação do “paraíso” gnóstico. Todo revolucionário necessita essencialmente de um pretexto para concretizar suas ações. Precisa de um inimigo – real ou imaginário – para fomentar (seja através da propaganda, domínio psicológico ou genocídio puro e simples) uma militância odiosa e predestinada à práxis para transformar o mundo.

Duas correntes heréticas antiqüíssimas ainda fazem parte do imaginário revolucionário: o gnosticismo – supracitado – e o panteísmo. Uma corrente otimista e outra pessimista. Uma espiritualista e a outra materialista. Uma prometendo a trazer a salvação por uma falsa espiritualidade e a outra pela técnica. Ambas formam uma dialética antropoteísta¹, o culto do Homem como princípio e fim de todas as coisas.

Entretanto, apenas a verdadeira Tradição Ocidental traz-nos uma coisa única!

Na societas medieval, por exemplo, havia uma distinção clara entre o poder temporal e a autoridade espiritual. O primeiro aspecto ordenava-se essencialmente ao segundo, por este ser a forma substancial daquele. Em outras palavras, o poder político seguia seu devido fim, o bem comum, em vista a levar a comunidade humana concreta também ao seu devido fim, isto é, a Bem-Aventurança eterna pelos Sacramentos e a vida cristã em geral no exemplo da Pessoa Divina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesse ínterim, temos a concepção de participação na estrutura da realidade enquanto tal e não uma absolutização pura e simples como presenciamos nos Impérios Orientais – desde a Antiguidade – e na ulterior secularização da modernidade política.

Tratando-se da China, desde o Confucionismo, não temos a mesma distinção observada na Pólis ocidental. O poder temporal e a autoridade espiritual confundem-se e mesclam-se na forma de um poder político absoluto. É como se a divindade estivesse diluída no tempo e no espaço na figura do Imperador ou na cúpula do Partido. Nesse sentido, não havendo nenhuma distinção entre os aspectos políticos, culturais, morais e espirituais, o modo chinês de atuar politicamente sempre será a busca – utópica como em todo regime revolucionário – de se expandir e se absolutizar.

Naturalmente que em todo esse processo imanentista, a economia seria instrumentalizada nos interesses do quadro geral de dominação de poder do Partido (divindade diluída, segundo a crença). Toda negociação econômica internacional por parte da China virá com interesses gerais pela própria condição existencial do Comunismo Chinês.

Apenas na visão liberal deslumbrada e interesseira, como houvera nas ações exercidas pelo lobby neocon (com aquela pitada de infiltração comuno-soviética²) norte-americano envolvendo o Council On Foreign Relations – think-tank globalista criado em 1921 –, a Fundação Clinton, os Kissinger e um dos piores presidentes republicanos da história dos EUA, a saber, Richard Nixon¸ a China se submeteria à economia liberal e transformar-se-ia, nesse sonho também utópico, numa democracia liberal, laica e maçônica. Não deixa de ser uma ironia histórica que os autoproclamados liberais tenham financiado o monstro que os destruiria e submeteria às maiores humilhações históricas, levando consigo todos os países ocidentais que pareciam defender suas soberanias e democracias.

O novo coronavírus, mais uma peste advinda da China, mostrou que o vazio espiritual da modernidade ocidental é muito maior do que pensávamos. Nós fomos sujeitos aos mandos e desmandos do Partido Comunista Chinês em conjunto com a OMS, braço cientificista das Nações Unidas, governantes joguetes e pessoas desavisadas quanto ao estado de coisas. Como dito anteriormente, nenhuma ação chinesa internacional vem separada do quadro geral de estratégias e ações para dominação global, portanto, é práxis da grande cúpula sujeitar seus inimigos não somente à humilhação, mas seduzi-los com vantagens materiais tentadoras para que ajam nos meios determinados para que os Comandantes atinjam seus fins escusos.

A intenção determinada da China sempre será uma só: elevar seu poder ao máximo e racionalizar o mundo terrestre à sua imagem e semelhança. Das investidas econômicas às facilidades materiais, das tecnologias fabris à nanotecnologia pós-moderna, o que rege a orquestra macabra do Partido Comunista Chinês não é a virtude de levar outras nações ao bem comum, mas sujeitá-las e rebaixá-las, colocá-las de joelhos defronte à Cúpula na criação dessa nova civilização transumanista.

Aqui é preciso alertar nosso atento leitor!

O coronavírus não é um fim em si mesmo. Apesar da fatualidade do vírus, o desencadeamento de seus efeitos não se fecha na pura discussão médica e técnica. O que presenciamos foi uma engenharia comportamental em massa. O terrorismo medicinal sendo elevado ao seu patamar de mentira, descaso com a vida humana e ávida sanha pelo poder dos que comandam o processo inteiro.

Vimos: a ascensão da agenda abortista em nome do combate ao coronavírus, a ascensão da agenda gayzista em nome do combate ao coronavírus, a ascensão das ações dos ANTIFA e BLACK LIVE MATTER – movimentos financiados por milhões de dólares pelas Corporações globalistas como Open Society Foundation da família Soros, Fundação Ford, Fundação Bill e Melinda Gates, Fundações Rothschild, Clube Bilderberg, etc. – em nome do combate ao coronavírus e aos “opressores”, a ascensão da AGENDA 2030 da ONU e, por fim, a ascensão Imperial de uma Nova Constituição Global e de um Reset no mundo tal como estão propondo em DAVOS 2021.

Desde o advento da antiga Dinastia Rothschild após as guerras napoleônicas até a consumação das Nações Unidas nos anos 40 e a criação do Clube Bilderberg em 1954 na Holanda, com ampla participação de sociedades secretas esotéricas, a intenção é unificar o mundo num único projeto global, subvertendo todas as culturas locais em detrimento de um multiculturalismo imposto, com uma falsa espiritualidade gnóstica como mito fundador. Apesar de todas as falhas naturais dessas Utopias, o movimento revolucionário parece ter aberto sua última porta: utilizar-se do monstro chinês o quanto possa para trazer à luz sua nova tentativa de criar um Império³ — O Império Transumanista.

Nanotecnologia, biotecnologia, 5G, espionagem em massa, humanidade híbrida e uma discussão ética interminável sustentam a nova – ou nem tanto assim – tentação das elites. A dita necessidade de uma constituição global em conjunto com um relativismo moral estratosférico baliza esse novo investimento (sempre com aquele verniz técnico-positivista). Para o leitor que se debruçou no estudo histórico, “não há nada novo debaixo do sol”. Em todas as proposições e discussões da ética transumanista encontramos aquele velho racionalismo-iluminista dos Enciclopedistas e seu subjetivismo utópico. Entretanto, o que interessa não é o ideal formalmente declarado, mas a ação concreta no campo dos fatos.

No Brasil, a implantação das vontades desordenadas do Partido Comunista Chinês encontra um terreno fértil no juspositivismo-tecnicista da alta cúpula das nossas Forças Armadas. Alguns Generais – incluindo o sr. Vice-Presidente da República – realmente parecem acreditar que há um “casamento” entre China e Brasil no que concerne às boas práticas da diplomacia internacional. O que é risível numa nova perspectiva atual diante de toda movimentação globalista de domínio e subversão.

Todas as promessas revolucionárias, como apontado, são falsas em si mesmas. São devaneios mentais de pessoas que fogem da realidade para viverem no Jardim das Delícias, numa espécie de hedonismo moderno em que no mero mundo dos prazeres materiais acreditam encontrar a redenção. Portanto, no campo das ações reais, mesmo com essa nova tentativa sendo bem diferente do banho de sangue do século XX – com comunismo, nacional-socialismo e fascismo –, o que será consumado é a desilusão, a destruição, a desgraça, a dissolução de valores, o engano e também a morte. Almas perdidas de muitos militantes que realmente acreditam estar encontrando um sentido histórico na participação da práxis revolucionária. Mas, como nos lembra muito bem o já citado Eric Voegelin, se não sabemos quando a história irá acabar – até mesmo Cristo disse que somente Deus-Pai sabe – não há razoabilidade em falarmos de um sentido da história. Senão o que permanecerá para além da História é a Alma Individual Imortal.

Para que o leitor não se esqueça: o fator China e o globalismo em geral não formam uma mera ideologia (como feminismo, gayzismo, liberalismo, etc), mas a tentativa de construir uma nova civilização sob os escombros do Ocidente e da Igreja de Cristo. É uma batalha que, ao mesmo tempo que parece abstratíssima, acontece exatamente dentro do senso comum, isto é, em cada mente humana e em cada lar. O fenômeno globalista seduz almas à perdição. Manipula mentes à perdição. Leva nossos jovens para um mundo paralelo e imaginário prometendo a consolação no número do coletivo que participam, mas não mais em suas famílias concretas. Por fim, é uma batalha que enfrentaremos muito mais em âmbito micro que em âmbito macro. Diferentemente dos revolucionários, nossa intenção não é “salvar o mundo” ou “criar um novo mundo”, mas, como dizia o eterno Santo Tomás de Aquino, é fazer o melhor que podemos aos outros: leva-los à Verdade.

Daniel Ferraz é um proeminente estudioso do movimento revolucionário global e da tradição da Santa Igreja Católica. É apresentador no Canal Daniel Ferraz no youtube.

 

¹ – Ver o livro – Antropoteísmo – A religião do Homem (Orlando Fedeli)
² – Ver o livro – A Traição Americana – (Diana West)
³ – Ver o livro – O Jardim das Aflições – (Olavo de Carvalho) e o livro Falsa Aurora – (Lee Penn)