Seguindo a cartilha de regimes autoritários históricos, Daniel Ortega, ditador da Nicarágua, aliado e amigo pessoal de Lula da Silva, acaba de lançar as bases para iniciar uma dinastia sandinista que pretende se perpetuar no país centro americano.

Ditaduras e autocracias com direcionamentos dinásticos não é uma novidade, o poder é passado para membros da família geração após geração, sendo o maior exemplo a Coréia do Norte com a dinastia Kim. Todavia, existem os casos em que este processo é distribuído nos altos cargos da esfera de poder, criando assim uma oligarquia dinástica, onde um grupo de famílias toma e controla o Estado, alterando a liderança. Um exemplo deste modelo é na atual Rússia, aonde grande parte dos dirigentes do país são ex-membros da KGB e seus filhos estão assumindo as posições dos pais ou sendo preparados para isto.

A Nicarágua, país pouco comentado no noticiário político, está passando por um processo destes. Mas antes, precisamos entender a importância da Nicarágua para a América Latina e como o que acontece lá, impacta no Brasil e demais vizinhos há pelo menos 40 anos.

Em 1979, uma guerra civil tomava conta da Nicarágua, de um lado a ditadura Sormoza dominava o país com uma ditadura dinástica desde os anos 1930, do outro lado, uma guerrilha marxista, inspirada no Mártir Augusto Calderón Sandino, cujo nome é Frente Sandinista de Libertação Nacional. O movimento foi apoiado, dirigido e financiado por Fidel Castro, então ditador cubano.

Daniel Ortega ficou no poder de 1979 até 1990. Um dos pontos-chave para a tomada do poder, foi a instrumentalização da Igreja Católica através da Teologia da Libertação. Fato tão marcando que, durante os anos 1980, Fidel Castro declarou que a Teologia da Libertação era mais importante para a revolução na América latina do que o próprio Marxismo. De fato, os teólogos da libertação realizaram a noite sandinista em São Paulo em fevereiro de 1980, com a presença de diversos clérigos, representantes do recém fundado Partido dos Trabalhadores e do próprio Daniel Ortega.

Neste evento, foi fundada as bases do que seria, 10 anos depois, o Foro de São Paulo. Foi também neste evento que Dom Evaristo Arns deu o aval para uma comitiva viajar até a Nicarágua no meio daquele ano para as comemorações de um ano da tomada pelo poder dos Sandinistas. Nesta comitiva estava ninguém mais, ninguém menos que Luiz Inácio Lula da Silva, ocasião onde ele conhecera pessoalmente Fidel Castro. Fato confirmado pelo próprio Lula no debate presidencial de 2022: “Eu senti muito orgulho de no dia 19 de julho de 1980 ir participar da comemoração do aniversário da Revolução Sandinista que derrubou um ditador chamado Somoza, de 30 anos”.

De volta ao poder, através das urnas em 2007, Daniel Ortega nunca mais largou o cargo e transformou o país em uma ditadura. Porém, agora classificando a própria Igreja Católica como inimiga e perseguindo até mesmo os revolucionários de batina que traíram a Santa Igreja e sua doutrina.

Nos últimos anos, Ortega tem cada vez mais aproximando sua ditadura do Eixo do Caos, composto por Rússia, China, Irã e Coréia do Norte. Nos últimos meses, apontamos aqui mesmo no PHVox, no programa Análise da Semana, como China e Rússia estão preparando a Nicarágua para tornar-se o polo central das ações revolucionárias no continente.

Daniel Ortega, porém, sabe que ele não viverá para sempre, afinal já está com 78 anos e começa a preparar as bases de sucessão. A imagem de quem governará a Nicarágua na ausência do sandinista Daniel Ortega não é mais um mistério. Seu primogênito, que leva o mesmo nome, quase sempre com rosto sério, será seu herdeiro político e potencial sucessor na presidência do país centro-americano.

A promoção do personagem de 44 anos ao cargo já começou. Apesar de não aparecer normalmente diante das câmeras, atua como coordenador de mídia do Conselho de Comunicação e Cidadania desde 2007. A preferência por Daniel Edmundo Ortega como sucessor do pai é estratégica, considerando que ele está à frente da máquina midiática a serviço do regime há mais de uma década. Ninguém sabe o que dizer e como fazer como ele para ganhar capital político.

O perfil discreto deste filho de Ortega, em comparação com seus outros três irmãos Camila, Juan Carlos e Laureano, foi deixado para trás há dois anos, após sua graduação como sociólogo na Universidade Centro-Americana (UCA), a mesma que seu pai confiscou após sua formatura. Desde então, sua presença em fóruns internacionais e a assinatura de acordos sobre temas de comunicação são visíveis e apontam para sua promoção como sucessor de Ortega, especialmente após ser fotografado no monumento ao ditador soviético Stalin, um dos maiores perpetradores de genocídio da história.

É tudo calculado de maneira estratégica, considerando que o jovem serve de elo com a Rússia e a China. Esse é seu principal trabalho como funcionário público de alto nível do regime sandinista ao lado da administração do Canal 4.

Com os dois papéis em cima, ele consolida relações e pactos com a agência de notícias russa Sputnik. Fá-lo com a promessa de promover “as conquistas da fraternidade” que Moscou e Nicarágua tecem. Para cumprir, assinou um memorando de cooperação com o chefe da direção internacional da Sputnik, Vasily Pushkov.

Ortega unge seu filho Daniel como sucessor político, mas também como promotor da ideologia esquerdista e nacionalista para fazer negócios. Um de seus objetivos é forjar alianças econômicas com a Coreia do Norte. Em recente encontro com o embaixador na Rússia, Sin Hong-Chol, ele expressou o “interesse” do país em colocar café, ouro bruto, carne bovina e produtos agrícolas no mercado daquela nação asiática.

A pressão para projetar o sandinismo dentro e fora do país é severa depois que o irmão do ditador nicaraguense, o general Humberto Ortega, disse publicamente que Daniel Ortega não tem sucessores e que sua morte desencadearia “caos e anarquia” na Nicarágua.

“Sem o Daniel, acho muito difícil haver dois ou três que se juntam. Muito menos um em particular, e mais difícil na família. Crianças que não tiveram o acúmulo de uma luta política. Nem mesmo (o ditador Anastácio) Somoza conseguiu estabelecer seu filho”, disse Humberto Ortega ao Infobae.

Abrindo a boca para dizer que tem o soldado há uma semana cumprindo “prisão domiciliar” por “traição”. O presidente o privou de sua liberdade por dar uma medalha a um adido militar dos EUA há 32 anos, quando liderava as Forças Armadas, mas a imposição da medida é apenas uma represália pelas declarações.

Ortega o puniu por expor o impacto da eliminação da substituição nas fileiras militares a cada quatro anos, para as quais a liderança do Exército não é “reeleita” em seus cargos há 17 anos.

O ditador pune as críticas enquanto recompensa a lealdade de sua prole. Embora a lei proíba a nomeação de familiares de funcionários para cargos públicos, seus oito filhos que residem no país centro-americano ocupam cargos como conselheiros presidenciais, com salários de pelo menos US$ 3.800 por mês, quando o salário-mínimo mensal é de US$ 230 no país.

Seu primogênito obedece a qualquer ordem. Na verdade, até seu filho, que nasceu em 2013, se chama Sandino, em homenagem a Augusto Calderón Sandino, líder dos militantes da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).