Por Teresa Aranha,

Depois de receber mais uma ligação de uma instituição que abriga crianças com Síndrome de Down e me desculpar por não poder contribuir com um valor mais expressivo, me vi ao mesmo tempo estarrecida e aborrecida.

Recebo várias chamadas de instituições de caridade com fins variados com muita frequência, e ajudo uma delas com um pequeno valor mensal, e é o que ainda cabe no meu pequeno orçamento. E saber que tantas outras crianças, idosos e outros necessitados estão sem alimentos, material de higiene e tratamentos que necessitam e não poder ajudar mais é realmente terrível.

Esse mês o meu plano de saúde subiu para valores astronômicos e mesmo reduzindo benefícios, não consegui um valor menor, por causa da idade. Enfim, fiquei pensando que nada disso é justo, nem comigo, nem com os mais necessitados.

A verdade é que somos obrigados a pagar impostos caros para o Estado para que ele forneça serviços assistencialistas para os que precisam, e com isso temos menos dinheiro para pagar esses mesmos serviços para nós mesmos e nossa família, e ainda menos para praticar a caridade. E a cada dia, ficamos mais impotentes diante desses desafios.

Creio que muitas pessoas se sentem frustradas e também tristes com essa situação, pois um ser humano normal não quer apenas o seu próprio bem e sente empatia pelo próximo. Impossível permanecer indiferente diante do sofrimento do seu semelhante.

Desta feita muitos continuam ajudando, com doações, campanhas de arrecadação e trabalho voluntário, visando minimizar, dentro do possível, o sofrimento dessas pessoas. Mas também é muito evidente que essa mesma situação tem levado muitos outros a pensar e agir de modo reverso e a cooperar com o agravamento do problema.

Os que dizem, “Essa responsabilidade é do Estado e não preciso mais contribuir com Instituições de caridade”, e delegam com mais intensidade ao Estado a solução do problema cada vez que ele se agrava, estão, mesmo sem saber, colaborando com o crescimento de uma engrenagem que aumenta e consome cada vez mais impostos, e que, por consequência, também faz crescer o número de assistidos.

Sabemos que a maior parte do dinheiro do sistema assistencialista governamental é gasto para sustentar a burocracia que o coordena, ou melhor, para nutrir o quadro enorme de funcionários e parceiros que incha e parasita a máquina estatal.

E para sustentar mais e mais burocratas estatutários, empresas associadas e redes de distribuição, (sem contabilizar os frequentes desvios e fraudes), que vão fazer de tudo para se tornarem cada vez mais numerosos, maiores e mais necessários, a mão do Estado vai pesar ainda mais nas costas dos contribuintes.

E ainda, para quem realmente acha que a melhor forma de ajudar é contribuir para que o Estado cumpra um papel assistencialista, só peço que observem com mais atenção como esse Estado assistencialista tem modificado a consciência do homem, alterado seus mais elevados valores de vida e de solidariedade com o próximo, e para onde isso está nos levando.

Quando o Estado toma para si e de forma compulsória, através de tributos, a responsabilidade de assistir aos necessitados, e nós aceitamos isso de bom grado, ocorre uma inversão, a meu ver muito grave e perversa, no sentido de alterar o significado verdadeiro do que é assistência, caridade e compaixão que fazem parte da natureza humana, principalmente quando, ao mesmo tempo, acusa de falta de humanidade, de insensibilidade e de egoísmo, quem critica esse modelo estatal de “generosidade”,

Como se o fato de criticar um modelo estatal ineficiente e voraz, signifique apregoar o abandono de quem mais necessita de auxílio. Não. Não se trata disso. Muito ao contrário.

Trata-se de não mais poder escolher para onde e como esses recursos, serão destinados. Trata-se de aceitar também as prioridades e soluções estatais que muitas vezes são exatamente opostas ao conceito genuíno de compaixão, caridade e responsabilidade moral.

Um exemplo disso é o propósito de alguns governantes e congressistas de descriminalizar do aborto e a eutanásia, que já foi aprovado em muitos países.

Crianças com síndromes variadas, por exemplo, poderiam simplesmente “deixar de existir”, e velhinhos que não mais podem contribuir com o sustento da máquina estatal também podem ter “sua vida abreviada” e tudo isso só para evitar mais gastos, e por aí seguem-se uma quantidade de iniquidades e erros tão graves que podem fazer um estrago irreparável ao homem e a sociedade.

Mas, o pagador de impostos massacrado e oprimido pela “generosidade estatal”, talvez comece a olhar com outros olhos, a prática de assassinato de crianças e idosos, já que “teoricamente” aliviaria o bolso de quem paga tributos tão pesados, o que é além de devastador, totalmente enganoso, pois os tais burocratas, seus cargos e salários que foram criados para atendê-los se perpetuarão, agregando, substituindo e adicionando funções, sem jamais deixar de pesar sobre os contribuintes que os sustentam. Sem citar que não cabe a nós nem ao Estado o poder de vida e morte sobre os homens na terra.

O fortalecimento do monopólio da “generosidade” nas mãos do Estado também é resultado do encolhimento das instituições não governamentais, filantropas e religiosas que tão bem desempenharam seu papel, durante os séculos, e que hoje se veem ameaçadas de tributação por parte desses mesmos governantes e congressistas e abandonadas por muitos de seus doadores.

Enfim, meu objetivo é o de propor uma reflexão sobre o assunto, e não, não tenho soluções mágicas para esse drama social.

E o que eu poderia recomendar para quem consegue vislumbrar o destino temerário ao qual estamos sendo lenta e silenciosamente conduzidos é que doe. Doe, enquanto pode.

Nunca foi tão importante a caridade privada e individual, o auxílio ao próximo, e o fortalecimento de valores realmente humanos.

E nunca também, foi tão claro e verdadeiro que a caridade salva quem a recebe e quem a pratica.

Aos verdadeiros cristãos,gostaria de propor também a reflexão sobre algumas palavras do saudoso Dr Plínio Corrêa de Oliveira, um dos maiores pensadores católicos da atualidade,

“As verdadeiras obras de caridade não são somente as que se destinam ao alívio dos sofrimentos físicos, mas sim, e de um modo especial, as que curam as almas. ”
(leiam o artigo completo no site do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em 13 de novembro de 2017, sob o título “A Verdadeira Caridade” )