Nenhum ser vivente que já passou ou passa pela Terra, existe sem gerar algum tipo de impacto na Natureza. Com o homem não é diferente. Os mais variados aparatos mecânico-energéticos inventados para melhorar nosso estilo de vida traz consigo consequências variadas no meio ambiente. Nesse sentido, cabe então buscar aquele que gera o menor dano ambiental. Seriam os parques eólicos uma boa solução como “energia limpa” para substituir aquelas que usam combustível fóssil como matéria prima?

Se a análise dos impactos negativos for honesta e abrangente a resposta clara é, não. Porém, boa tarde delas são simplesmente ignoradas quando o assunto é o combate às energias não renováveis.

De fato, a energia eólica é uma energia que não utiliza combustível fóssil (daí que vem o termo “energia limpa”), mas para muitos ativistas climáticos isso basta para defender sua utilização, não importando se os efeitos colaterais cheguem a ser proporcionalmente maiores do que os seus equivalentes não renováveis.

A energia eólica já é a segunda maior matriz energética do país (com 10,8% de participação), perdendo apenas para a hidroelétrica (54%). Desde 2021, o Brasil ocupa a posição de 6º colocado no ranking de capacidade total instalada de energia eólica em solo, segundo dado anual divulgado pelo Conselho Global de Energia Eólica – GWEC. Um salto! Em 2012, éramos o 15º colocado e em 2020 chegamos em 7º, para subir mais uma colocação no ano passado1.

Considerando que somos um país tropical, não parece um mal negócio utilizar esse tipo de recurso em nosso país. Diga isso para quem mora próximo dessas gigantescas usinas ou lida com a flora e fauna local.

Imagine um ventilador. Ele se utiliza da energia elétrica para fazer suas hélices girarem e produzir vento. Será que o contrário poderia acontecer? Seria possível criar um aparato mecânico que utiliza a força do vento para produzir energia elétrica? A resposta é sim! Essa é uma unidade de energia eólica, ou mais conhecida como aerogerador. A diferença principal é que um motor elétrico consegue produzir alta rotação nas hélices ao passo que o vento, não. Para compensar essa defasagem é colocado um conjunto de engrenagem no eixo que conecta as hélices com o motor elétrico que multiplicam a baixa rotação dessas grandes hélices em alta rotação no motor, conforme mostra a figura abaixo.

 

Figura 1: Esquema simplificado de um aero gerador. O vento provoca baixa rotação nas pás e para compensar é instalado uma caixa multiplicadora (ou multiplicador em verde na figura) para aumentar a rotação que entra no motor. Note o tamanho de uma pessoa comum (do lado do transformador em amarelo) demonstrando a proporção do equipamento em relação a nós. Figura retirada de http://www2.secti.ba.gov.br/atlasWEB/tecnologia_p2.html.

 

Quem possui ventilador em casa sabe que mesmo aqueles aparelhos mais silenciosos não são isentos de ruído. Agora imagine o ruído gerado por um aero gerador, que é cerca de 240 vezes o tamanho desse ventilador comum. Multiplique isso por dezenas ou até centenas desses aero geradores numa mesma região. O problema é tão grande, que não somente as pessoas que moram em volta como toda a vegetação e os animais, além do solo, são drasticamente afetados2.

Os moradores que vivem próximos às usinas constantemente reclamam de problemas depressivos e de audição provocados pela falta de sossego devido ao alto e constante ruído das engrenagens dos aero geradores em funcionamento. As vibrações provocadas pelos gigantescos aparelhos e o vapor de ar quente que são desviados para o solo, causam erosões e faz rachar as residências próximas, provocando constantes manutenções nas casas a fim de evitar desabamentos.

Existem essencialmente dois tipos de ruídos provocados pelo aero gerador; o ruído mecânico e o aerodinâmico. O mecânico se dá pelas engrenagens e há um grande esforço para reduzi-lo a fim de gerar o menor incômodo possível em quem vive próximo e até na própria estrutura. O problema é que eles não podem ser eliminados e mesmo o menor ruído provoca não somente sons altos que prejudicam a audição das pessoas e animais, bem como vibrações no solo que o torna suscetível à erosões3.

Já o ruído aerodinâmico se dá pela própria existência das pás e embora ela também possa ser reduzida, a sua eliminação completa é simplesmente impossível. Tais efeitos são significativos na fauna e na flora local. Estressados pelo ruído e degradação do solo, os animais reduzem suas crias, as plantas diminuem sua geração de frutos e o solo local se torna infértil.

As promessas de geração de emprego e aumentos da renda local, na prática, só existem para persuadir os moradores a assinar contratos que permitam a instalação dessas grandes usinas naquelas regiões. De fato, alguns parques chegam a contratar cerca de 600 trabalhadores em sua construção, mas esse número reduz para menos de 50 quando eles entram em funcionamento3,4.

Outro problema é que eles só podem funcionar sob arrendamento, ou seja, numa área de propriedade privada, cujo dono recebe um valor mensal por cada gerador instalado. Isso significa que regiões que outrora eram de uso comum passam a ter seu acesso negado, o que provoca grandes desvios de transeuntes por quem outrora tinha acesso livre naquela região e que, além de não poderem mais entrar, não podem mais tirar seu sustento dos recursos ali existentes.

Não é raro encontrar insatisfação e arrependimento por parte dos moradores por terem aceitado a instalação desses equipamentos em sua vizinhança. Isso quando eles não são simplesmente enganados com falsas promessas de progresso e omissão ao não informar corretamente sobre os efeitos colaterais provocado pela presença daqueles equipamentos.

Sabemos que todo sistema de geração de energia possui suas limitações e geram impactos onde eles são instalados. O problema é que esses impactos simplesmente não são considerados por quem defende esse tipo de recurso energético. Com a alegação de ser uma energia limpa, uma variedade gigantesca de problemas é geralmente resumida ao relato do prejuízo provocado pela morte das aves migratórias atingidas pelas pás dos aero geradores, como se tudo que já foi citado aqui não tivesse igual relevância de prejuízo no contexto local, que justificasse sua menção como um problema grave em si mesmo. Esses e muitos outros danos provocados pela energia eólica são simplesmente “jogados para debaixo do tapete” e ignorados pelos defensores da “energia limpa”, deixando os moradores e a região local pagando o alto preço por um progresso, cujos benefícios eles simplesmente não presenciam ou não desfrutam.

 

Referência

1 Brasil sobe posição em ranking global de produção de energia eólica:

Brasil sobe posição em ranking global de produção de energia eólica

2 A Armadilha da Energia Eólica – Os impactos desses grandes empreendimentos em Pernambuco: https://www.youtube.com/watch?v=IeQ2UA_3v_8

3 Energia Eólica – Injustiças Ambientais nos Territórios de Pesca Artesanal: https://www.youtube.com/watch?v=PRdfdTzsBFs

4 Dia Mundial do Vento: conheça os prós e contras da energia eólica: https://www.youtube.com/watch?v=KcGTgYkNWKk