Na última terça-feira, 07 de maio, ocorreu a aguardada audiência do Comitê de Foreign Affairs do Congresso americano. Que contou com a participação do jornalista brasileiro Paulo Figueiredo, o CEO da rede social Rumble, Chris Pavlovski e o jornalista americano Michael Shellenberger. A sessão trouxe diversos pontos de vistas importantes a serem analisados friamente e exige afastamento do calor do debate.

Em março deste ano, uma comitiva de dezenove parlamentares da oposição brasileira viajou para Washington nos EUA, para uma série de reuniões para tratar do tema da liberdade de expressão no Brasil. Na ocasião, a ação gerou diversas reações tanto à esquerda quanto à direita no Brasil. A comitiva brasileira, após uma manobra do partido Democrata foi impossibilitada de falarem no capitólio e realizaram uma coletiva do lado de fora do Capitólio americano.

Em meio ao descredito da opinião pública brasileira, os deputados Republicanos conseguiram avançar com o tema dentro do comitê de assuntos internacionais, que culminou com a publicação de diversos documentos, até então sigilosos no Brasil, para o público. Os documentos foram entregues pela administração do X, antigo Twitter, sob a autorização do dono da empresa, o bilionário Elon Musk.

No mesmo período foi marcada uma audiência pública com o tema: “Brasil: uma crise da democracia, liberdade e do Estado de direito?” para o último dia 07 de maio. A maior expectativa foi sobre a participação ou não de Elon Musk, que acabou não ocorrendo.

Os parlamentares americanos ouviram o jornalista americano que revelou em primeira mão o “Twitter Files Brasil”, Michael Sellenberger, Christopher Pavlovski, fundador e CEO da plataforma Rumble, o jornalista Paulo Figueiredo e Fábio de Sá e Silva, professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma, sendo este último a convite da bancada do partido democrata.

O chairman, congressista republicano Chris Smith, abriu falando da importância da liberdade de expressão no mundo, frisando não se tratar de disputa entre esquerda ou direita, mas sim de um direito fundamental. Ele agradeceu o esforço de Elon Musk por defender esta liberdade, mesmo constatando discordar do empresário em várias áreas, por ser um defensor dos sindicatos trabalhistas. Smith citou Cuba como exemplo de um regime que matou faz tempo a liberdade, e mostrou preocupação com os rumos do Brasil hoje.

O ponto alto da sessão ocorreu quando a republicana María Elvira Salazar fez crítica à atuação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, durante a audiência. Salazar exibiu foto de Moraes. Ela elencou dois fatos que comprovariam a censura imposta pelo magistrado contra políticos conservadores no Brasil: “Então tem dois fatos aqui que eu acho que podem me esclarecer quem é o senhor de Moraes:

1º fato: ele deu a ordem para derrubar um post que dizia que Lula da Silva apoiava Daniel Ortega, o ditador da Nicarágua. Por que os brasileiros não podem saber disso?

2º fato: ele deu uma hora para o Twitter derrubar posts de políticos conservadores ou eles receberiam US$ 30 mil. E se o e-mail chegasse trinta minutos depois? Eles teriam outros 30 minutos ou receberiam multa US$ 30 mil”.

Do lado democrata, houve uma clara intenção de desvirtuar o tema central da sessão, ao levar o debate para uma correlação dos acontecidos em 06 de janeiro de 2021 nos EUA com o 08 de janeiro ocorrido no Brasil. Além da falsa correlação, os deputados democratas tentaram a todo momento tolher os convidados republicanos de falar, aplicando perguntas e exigindo respostas como sim ou não. A principal técnica retórica aplicada foi o sofisma e a falsa equivalência, além do ad hominem que consiste em desqualificar as credenciais de seu opositor. O principal alvo foi o jornalista Paulo Figueiredo, que a todo custo foi enquadrado como um parente apoiador de ditadura que assassinava opositores, focando obviamente em seu parentesco com o ex-presidente do Brasil João Figueiredo.

Além deste ponto, falas do ex-presidente Bolsonaro direcionadas a minorias foram elencadas e perguntando a opinião de Paulo Figueiredo sobre sua concordância ou não nos temas. O jornalista brasileiro conseguiu posicionar-se bem nas questões o que diminuiu o ímpeto das perguntas. Os democratas também utilizaram o processo inverso com o Sr Fábio de Sá e Silva, exaltando suas credenciais como professor e cedendo a ele a possibilidade de estabelecer a narrativa de que no Brasil só existe democracia há 35 anos, desconsiderando completamente 500 anos de história do Brasil.

Diversos jornalistas e veículos independentes frisaram a importância da audiência, como o jornalista Rodrigo Constantino escreveu em sua coluna na Gazeta do Povo: “Foi uma audiência reveladora da situação lamentável que temos no Brasil hoje, onde o Estado de Direito foi substituído por um estado de exceção”.

Todavia, também quero trazer uma análise importante sobre o outro lado da moeda, que diz muito respeito à questão política interna dos Estados Unidos. Durante a cobertura da sessão para o Brasil, fui convidado pela Epoch Times para comentar minhas impressões da sessão. Dentre os pontos, quero trazer a vocês uma situação que não foi tão favorável à comitiva brasileira.

O início da sessão contou com uma certa aglomeração na entrada do local da sessão, porém, no auditório, a maior presença foi de representantes da direita brasileira, como deputados, ex-deputados e jornalistas. No entanto, do lado americano, apenas seis deputados participaram, sendo que somente dois permaneceram o tempo todo na audiência: o republicano Chris Smith, presidente do subcomitê de Saúde Global, Direitos Humanos Globais e Organizações Internacionais, no qual o evento foi realizado, e a democrata Susan Wild, o principal nome do partido no órgão.

Mesmo sendo minoria no comitê, mais representantes democratas participaram do que republicanos, sendo a presidente da bancada brasileira, Sydney Kamlager-Dove quem adotou a postura mais incisiva, construindo a versão dos ataques de 8 de janeiro e de que teorias conspiratórias são a verdadeira ameaça à democracia no Brasil.

Isto reflete um grave problema que venho chamando a atenção e dentro do partido republicano, que está em uma verdadeira guerra civil. O partido Republicano hoje detém a presidência da câmara dos Deputados, porém não conseguem formar uma coesão de ação no capitólio, o que vem minando a liderança à frente da casa. O principal embate é entorno das políticas externas, com uma ala atenta aos perigos da guerra desenvolvida no leste europeu entre Rússia e Ucrânia e no oriente médio entre Israel e Hamas. A outra ala, encabeçada pelo movimento MAGA, de alegados ferrenhos apoiadores do ex-presidente Donald Trump, dando atenção total a questão da fronteira sul e a imigração ilegal.

Obviamente, ambas as partes possuem razão nas pautas que defendem, porém, a ala que coloca a questão da fronteira em primeiro lugar, majoritariamente trabalha suas argumentações baseadas em falsas narrativas e desinformações russas quanto aos reais motivos da guerra na Ucrânia. A situação tornou-se tão crítica que impactou em um atraso de 6 meses na liberação da ajuda econômica e humanitária para parceiros americanos como Ucrânia, Israel e Taiwan. A situação gerou tanto desgaste no partido que o ex-presidente Donald Trump foi obrigado a intervir, orientando a bancada republicana a apoiar a liberação das verbas, principalmente para a Ucrânia. Trump, tomara ciência da gravidade, após receber em sua residência na Flórida o presidente da Polônia Andrei Duda para uma reunião, em que lhe foi apresentado o profundo risco para parceiros políticos de Trump na Europa.

Mas a situação no partido é tão preocupante, que a ala do movimento MAGA (Make America Great Again), slogan de campanha de Trump nas eleições de 2016, rebelou-se contra o ex-presidente e, em um movimento liderado pela deputada da Flórida, Marjorie Taylor Greene, votaram contra a liberação do pacote, no final mais de cem deputados republicanos foram contra a orientação do partido e de Trump, a maioria da bancada. Infelizmente, qual seria o próximo passo desta bancada, classificar Trump como RINO? Que é um apelido que significa: Republicano somente no nome.

Esta situação, acabou refletida na sessão, que apresenta uma grande oportunidade de buscar diversas ligações de think tanks, empresas de terceiro setor e articulação de narrativa internacional para perseguição política também ao partido republicano. Porém, a cegueira que tomou muitos deputados do movimento MAGA, parece que se transformou também em surdez. Os democratas, por outro lado, estavam amplamente coordenados, com dados, narrativa e jargões afiados e alinhados com a esquerda brasileira, para os recortes precisos nos principais jornais da grande mídia brasileira.