A propaganda de guerra é uma arma extremamente eficaz. Existe um ditado que diz: “na guerra a primeira morte é a da verdade”, neste contexto, o que assistimos desde o início da guerra de agressão da Rússia na Ucrânia, de forma uníssona é que os Estado Unidos estão comandando a Ucrânia e principalmente a OTAN. Diferente desta narrativa, estamos desde 2021, aqui no PHVox, informando que, na verdade, existe um racha dentro da OTAN.

Nos últimos dias, na grande mídia brasileira, assim como na independente, foi alardeada a notícia que os EUA autorizaram o uso de armas americanas para ataques no território russo. Sim, esta notícia é verdadeira, todavia, este movimento foi realizado com muito custo e sob pressão, após mais uma vez Joe Biden deixar o governo americano isolado nas decisões.

Recentemente, publicamos um vídeo no canal PHVox no YouTube, explicando em detalhes os 3 blocos políticos distintos dentro da OTAN. Explicando de maneira resumida, no início da guerra na Ucrânia estes blocos eram divididos da seguinte forma: o primeiro e com maior poder político composto por Alemanha, França e Estados Unidos. O segundo composto pelo chamado Bucareste Nine, que falaremos mais a seguir e, por último, como um ente “independente” o Reino Unido, que durante todo o período atuou alinhado aos interesses do Bucareste Nine (nove países membros formados por ex-membros da União soviética ou estados vassalos).

Nos últimos meses, a França passou a destoar de seu bloco político na aliança militar e buscar cada vez mais apoio do Bucareste Nine, além de aumentar publicamente a retórica contra o regime de Vladimir Putin.

Nas últimas semanas, o exército russo iniciou uma ofensiva contra a região de Kharkiv, onde a sua principal vantagem estava no veto da OTAN à Ucrânia de usar as armas fornecidas para atacar o território russo, sendo o uso estritamente para defesa de seu território. Desta forma, o exército de Vladimir Putin passou a operar a sua artilharia atrás de sua linha de fronteira, o que estava levando à Ucrânia a pesadas baixas, perda de material bélico e território.

Diante da catástrofe anunciada, iniciou-se o processo dentre os países membros da OTAN para que este veto fosse derrubado, sendo a França, o principal operador deste processo. Emmanuel Macron disse que a Ucrânia é livre para usar suas armas de alta potência — que incluem versões francesas de Storm Shadows — para disparar sobre a fronteira.

A declaração de Macron, foi dada em meio a uma pressão interna na OTAN, para que na próxima reunião de cúpula, Volodomir Zelensky, Presidente da Ucrânia, evite pressionar os Estados Membros sobre um plano de adesão da Ucrânia com prazo efetivo. A principal argumentação dos contrários é justamente o temor de que a aliança possa ser arrastada para uma guerra contra a Rússia. Olaf Sholtz, Chanceller da Alemanha e a administração Biden, lideram este movimento contrário.

Segundo declaração de uma fonte no governo Biden, para o Jornal Britânico The Thelegraph, Há preocupações de que a questão da adesão da Ucrânia tenha dominado a cúpula do ano passado e criado rachas entre os Estados-membros. Um incidente semelhante em Washington jogaria a favor de Donald Trump sobre a relevância da aliança antes da eleição presidencial dos EUA, isto segundo a administração Biden.

Voltando à declaração de Macron, ela foi dada ao lado de Olaf Scholz, enquanto segurava um mapa que mostrava bases russas sendo usadas para atacar a Ucrânia nas últimas ofensivas.

Scholz foi mais cauteloso, mas concordou que a Ucrânia tem o direito, conforme o direito internacional, de usar equipamentos ocidentais para se defender de ataques lançados a partir de solo russo.

Isso deixa os EUA isolados, já que os parceiros ocidentais, incluindo o Reino Unido, quase todos relaxaram suas regras. As armas dos EUA são consideradas cruciais para deter os avanços, especialmente na fronteira norte, onde as tropas russas se concentram para novos ataques ao norte da segunda cidade de Kharkiv.

“Devemos permitir que [os ucranianos] neutralizem os locais militares de onde os mísseis são disparados, os locais militares de onde a Ucrânia é atacada”, disse Macron durante sua visita de Estado à Alemanha.

“Mas não devemos permitir que outros alvos na Rússia sejam atingidos e, obviamente, capacidades civis”, acrescentou. “O que mudou é que a Rússia adaptou um pouco suas práticas.

“Se dissermos [aos ucranianos], ‘vocês não têm o direito de chegar ao ponto a partir do qual os mísseis são disparados’, na verdade, estamos dizendo a eles ‘estamos entregando armas, mas vocês não podem se defender’.”

“A Ucrânia tem todas as oportunidades de fazê-lo, de acordo com o direito internacional. Temos que dizer isso claramente, está sob ataque e pode se defender”, disse Scholz, levantando a perspectiva de que o armamento alemão possa ser movido para perto da fronteira para ataques dentro da Rússia.

A questão do ataque a alvos em solo russo se tornou importante nas últimas semanas, depois que Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, disse que suas forças não conseguiram atingir as tropas russas enquanto esperavam na fronteira antes de lançar uma nova ofensiva na região de Kharkiv, no nordeste do país.

“Nós, e isso é um fato, não podemos arriscar o apoio de nossos parceiros – é por isso que não estamos usando as armas de nossos parceiros para atacar o território russo. É por isso que estamos pedindo: por favor, nos dê permissão para fazer isso”, disse Zelensky em visita à Bélgica na terça-feira.

Os militares de Kiev usaram repetidamente armas ocidentais, como os lançadores de foguetes Himars, fornecidos pelos EUA, para atingir grupos de soldados russos em território ocupado.

Mísseis de cruzeiro Storm Shadow doados pelo Reino Unido e França foram usados para atacar depósitos de munição e combustível destinados a apoiar as ações ofensivas da Rússia.

Mas um embargo americano a esses ataques em solo russo tornou mais fácil para a Rússia lançar ataques de longo alcance de dentro de suas fronteiras.

Apesar da crescente pressão sobre Washington para permitir ataques com armas fornecidas pelos EUA contra alvos militares dentro da Rússia, houve poucos sinais de movimento.

“A nossa posição não mudou nesta fase. Não encorajamos nem permitimos o uso de armas fornecidas pelos EUA para atacar o solo russo”, disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, após o anúncio franco-alemão.

A oposição dos EUA provocou um debate renovado sobre até onde os apoiadores ocidentais de Kiev devem ir ao permitir o uso autônomo de armas doadas.

Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, pediu uma reconsideração dos limites impostos a certas armas, sem se referir diretamente aos americanos.

A principal autoridade da aliança ocidental argumentou que as restrições “amarram as mãos dos ucranianos pelas costas”.

Dois dias após a declaração da Casa Branca, no dia 30 de maio, Joe Biden cedeu à pressão internacional para permitir que a Ucrânia use armas americanas para atacar o território russo, depois que o chefe da Otan disse que “chegou a hora” de derrubar a proibição.

Os EUA deram permissão a Kiev para usar suas armas para atacar a Rússia com o propósito limitado de defender Kharkiv, de acordo com duas autoridades americanas.

As autoridades não identificadas insistiram que a política dos EUA que impede a Ucrânia de usar mísseis de longo alcance fornecidos pelos EUA para atacar dentro da Rússia não mudou.

“O presidente recentemente instruiu sua equipe a garantir que a Ucrânia seja capaz de usar armas dos EUA para fins de contra-fogo em Kharkiv, para que a Ucrânia possa revidar as forças russas que os atingem ou se preparam para atingi-los”, disse uma autoridade dos EUA ao Portal Politico.

O Secretário-geral da Otan elogiou o Reino Unido por liderar o caminho ao permitir que a Ucrânia use armas ocidentais para atacar alvos militares dentro da Rússia: “Isso não é novidade. Os aliados há muitos anos, ou desde que esta guerra começou em 2022, aceitam que suas armas sejam usadas também para ataques contra alvos legítimos dentro da Rússia. Por exemplo, o Reino Unido forneceu mísseis de cruzeiro Storm Shadow por um longo tempo sem quaisquer restrições”.

Stoltenberg insistiu na sexta-feira que os temores de uma escalada eram infundados, dado o fracasso da Rússia em dar seguimento à sua retórica: “Sempre foi o caso por muito tempo que toda vez que os aliados da Otan estão fornecendo apoio à Ucrânia, o presidente Putin está tentando nos ameaçar para não fazer isso”, disse ele.

“No dia da invasão, ele fez um discurso em que ameaçou todos os países que iriam dar algum apoio à Ucrânia, que isso era perigoso e que teria consequências. É a Rússia que se intensificou ao invadir outro país, e a Rússia escalou na semana passada abrindo uma nova frente, onde eles estão atingindo a Ucrânia de dentro da Rússia. É claro que assumir que a Ucrânia não deve revidar não é de forma alguma razoável, porque a Ucrânia deve ser capaz de defender seu território”.

Mais de 10 aliados da Otan já vocalizaram seu apoio ao uso de armas ocidentais em alvos militares dentro da Rússia, incluindo França, Holanda, Estados Bálticos, Polônia, República Tcheca, Finlândia e Suécia.

Este é mais um revés na política externa da administração Biden, que nas últimas semanas pressionou o Reino Unido a não censurar ou pressionar o governo do Irã acerca de seu programa nuclear, e também, como não conseguiu fazer o governo de Israel seguir suas disposições de linha vermelha que não deveria ser ultrapassada na faixa de Gaza.