Em um movimento surpreendente, Nigel Farage, um dos principais rostos do Brexit, lançou a sua campanha para as eleições no Reino Unido, desafiando tanto o Partido trabalhista quanto o partido conservador.

Nigel Paul Farage é uma figura política polêmica e conhecida do cenário britânico. Foi um dos líderes mais influentes do Partido de Independência do Reino Unido (UKIP), de orientação conservadora e eurocética, desde 1998 e seu presidente de 2010 a 2015. É visto como um dos articuladores históricos da saída do Reino Unido da União Europeia, de 1999 a 2020, foi membro do Parlamento Europeu pelo distrito eleitoral de South East England.

Ficou muito conhecido no Brasil, anos atrás, pelo seu discurso de despedida do parlamento europeu:

Nigel Farage, é também um aliado próximo e amigo de Donald Trump, tendo apoiado publicamente sua campanha nas eleições de 2020, chegando a viajar para os Estados Unidos e subir no palanque eleitoral ao lado de Trump e discursas em seu favor em diversas ocasiões.

Uma das características que marcam a sua forma de fazer política, é a interação próxima com a população, principalmente nos tradicionais Pubs da Inglaterra. Em diversas ocasiões, Farage negou-se a lançar-se como candidato, porém, segundo ele mesmo na entrevista coletiva, diversos de seus apoiadores o cobraram pessoalmente, que ele não poderia ficar cobrando a classe política e não usar o seu potencial.

Um dos fatores que levou Farage a entrar na corrida eleitoral, foi o crescimento do número de eleitores insatisfeitos com o partido conservador e trabalhista. Isto pode ser analisado em dois cenários: no Facebook, após o início da campanha eleitoral britânica, dos 50 posts com maiores interações do eleitorado, 32 são posts do Reform Party, de Nigel Farage, sendo o Facebook conhecido por concentrar uma camada de idade mais avançada da população, em sua maioria eleitores do partido conservador. Por outro lado, diversas pesquisas apontam que entre os jovens, o número de eleitores que estão abandonando o partido trabalhista é considerável, mesmo não sendo maioria até o momento. O fator apontado como o principal motivo de “revolta” é o apoio do partido trabalhista ao Lockdown.

Segundo uma fonte que conversei no Reino Unido, existe a informação que Nigel Farage possui um aliado de peso nos bastidores de sua campanha, trata-se de Dominic Cummings.

Cummings é um estrategista político britânico que atuou como consultor sênior do primeiro-ministro Boris Johnson de 24 julho de 2019 13 de novembro de 2020. De 2007 a 2014, foi consultor especial de Michael Gove, desde quando este era Secretário de Estado da Educação do então primeiro-ministro David Cameron. De 2015 a 2016, Cummings dirigiu a campanha Vote Leave, pela saída do bloco europeu, durante o referendo de 2016 para o Brexit.

Farage confirmou que se candidatará como deputado em Clacton e assumirá o lugar de Richard Tice como líder do Reform Party em uma entrevista coletiva chocante na última segunda-feira.

Questionado sobre quais eram suas ambições para seu partido nas pesquisas, ele disse ao GB News: “Espero que dentro de uma semana estejamos iguais [em intenção de votos] aos conservadores, talvez à frente. E acho que isso é possível, e é possível porque não serão apenas os conservadores a trocar, serão os trabalhistas também.”

Farage disse que estará à frente do Reform Party pelos próximos cinco anos e que pretende liderar “uma revolta política”. Ele disse na coletiva de imprensa: “Sim, uma revolta, uma virada de costas para o status quo político. Não funciona. Nada neste país funciona mais. O serviço de saúde não funciona. As estradas não funcionam. Nenhum dos nossos serviços públicos está à altura. Estamos em declínio. Isso só será revertido com ousadia.” Ao anunciar que se candidataria como deputado, Farage disse que “milhões de pessoas” se sentiriam decepcionadas se ele não “liderasse de frente”.

Ele disse que tomou a decisão às 14h de domingo, dizendo na conferência: “Mudei de ideia. É permitido, você sabe. Nem sempre é um sinal de fraqueza, pode ser um sinal de força”. Em um vídeo publicado mais tarde no X, Farage declarou querer “tornar o Reino Unido grande novamente” ao dizer aos eleitores: “Estou de volta”. Em uma direta alusão ao lema de campanha de Donald Trump em 2016: Make America Great Again, traduzido como Faça a América Grande Novamente.

Membros do Partido Conservador “fazer exatamente o que Keir Starmer, líder trabalhista, quer que ele faça”. Porém, o próprio Farage admite que não tem a pretensão de sair como primeiro-ministro das eleições, mas ganhar musculatura para vencer as eleições de 2029 e, assim, tornar-se primeiro-ministro. Apesar do ceticismo no Partido Conservador, Nigel Farage acredita que o seu partido pode sair como o segundo colocado nestas eleições, sendo o responsável pela criação do gabinete das sombras, movimento da política britânica, onde o principal partido de oposição monta todas as pastas do governo e está pronto para o caso de precisar assumir o poder. É comum, por parte da mídia, quando reformas ou medidas importantes são tomadas pelo governo, o líder da oposição ser consultado pela mídia para saber qual seria a posição do seu gabinete se estivesse no poder.

Três dos principais doadores conservadores não apoiarão a campanha eleitoral geral do partido, depois que pesquisas privadas mostraram que os conservadores estão a caminho da derrota. O trio não identificado concluiu que mais dinheiro não ajudará os conservadores a preservar sua maioria, informou o Financial Times.

Os doadores, que coletivamente doaram mais de £ 5 milhões ao partido, encomendaram uma pesquisa motivada por preocupações em torno da veracidade das alegações da campanha conservadora de que as perspectivas do partido eram melhores do que as pesquisas públicas sugeriam. Um quarto doador estaria considerando suas opções.

O Partido Trabalhista está confortavelmente à frente nas pesquisas e tem uma vantagem de cerca de 20 pontos. Dados da pesquisa privada, que se acredita ter custado mais de £ 15.000 para a comissão, voltaram na semana passada mostrando que o Partido Trabalhista estava no caminho certo para uma “avalanche ao estilo de Tony Blair”, de acordo com pessoas familiarizadas com os resultados.

Anúncios de políticas conservadoras, como o plano de Rishi Sunak de reintroduzir o serviço nacional, não conseguiram reforçar o voto conservador.

No Reino Unido, são eleitos 650 parlamentares, sendo necessário 326 para formar a maioria e assim indicar o primeiro-ministro. Farage, declarou que está disposto a sentar com Partido Conservador e montar um gabinete de coalizão entre os dois partidos para garantir o governo. Neste cenário, a grande incógnita seria em torno de qual seria o nome do primeiro-ministro, que possivelmente viria do partido conservador. Todavia, esta possibilidade hoje é considerada muito difícil de acontecer, tamanha a probabilidade de vitória com maioria ampla do partido trabalhista.

Os próximos dias geram uma apreensão grande na política britânica, principalmente no partido conservador, pois se espera que muitos deputados e candidatos declarem que irão concorrer às eleições pelo partido Reform UK, ao lado de Nigel Farage.

Do lado trabalhista, Farage e o Reform Party acreditam que podem tirar uma fatia considerável de votos do chamado Red Wall, ou muro vermelho, composto principalmente pelas cidades de Liverpool e Birmingham.

Farage insiste que ainda passará um tempo nos EUA, mesmo se for eleito deputado por Clacton

Nigel Farage insistiu que ainda passará algum tempo nos Estados Unidos apoiando Donald Trump nas eleições americanas, mesmo que ele seja eleito deputado.

O líder do Reform UK havia dito originalmente que não se candidataria às eleições gerais e, em vez disso, se concentraria no que estava acontecendo na política dos EUA ao lado de apoiar Richard Tice.

Questionado se seus planos de apoiar Trump nos EUA mudaram, ele disse ao GB News: “Eu disse que faria minha parte na campanha eleitoral geral e depois passaria mais tempo nos EUA. Claramente, se eu for eleito, não poderei passar a quantidade de tempo na América que antes, mas ainda o farei. Então, é tudo uma questão de proporção.”

Independente do que irá acontecer nos próximos dias, o que podemos afirmar de fato é: Nigel Farage acaba de jogar uma bomba no cenário político britânico.