O Exército Brasileiro anunciou nesta segunda-feira, 29 de abril, uma decisão que promete reverberar além das fronteiras nacionais.

A empresa israelense Elbit Systems e suas subsidiárias brasileiras, Ares Aeroespacial e Defesa e AEL Sistema, emergiram como vencedoras de uma licitação internacional para fornecer 36 viaturas blindadas de combate de calibre 155 mm, conhecidas como obuseiros autopropulsados sobre rodas.

No entanto, essa escolha não passará despercebida pelos corredores de Brasília. A decisão cria tensões entre o exército, o Partido dos Trabalhadores e integrantes do governo Lula.

O embate não se limita apenas aos interesses nacionais. Questões ideológicas e geopolíticas também entram em jogo. Israel, atualmente está em conflito com o Hamas na Faixa de Gaza, e em bombardeios com o Irã, ambos os inimigos dos judeus estão alinhados com o governo Lula.

Em meio a isso, declarações do ex-presidente Lula sobre a situação em Gaza geraram atritos com o governo israelense. Em 18 de fevereiro de 2024, durante entrevista, na Etiópia, Lula comparou a ação de Israel em Gaza ao Holocausto, o genocídio promovido pelos nazistas durante a 2.ª Guerra Mundial, que ceifou a vida de 6 milhões de judeus. A reação do governo de Benjamin Netanyahu foi imediata: além de acusar o brasileiro de antissemitismo, exigiu uma retratação pública, que não ocorreu, fazendo o governo de Netanyahu declarar Lula persona non grata em Israel.

Porém, a relação entre Brasil e Israel vai além da esfera militar. As Forças Armadas e polícias brasileiras têm histórico de compra com empresas israelenses. Desde armamentos até sistemas de vigilância, Israel desempenha um papel importante na segurança nacional brasileira. A Marinha depende dos israelenses para manutenção preventiva e corretiva para as turbinas dos caças A4 Skyhawk. O Exército recentemente adquiriu mísseis anticarro Spike LR da Israelense Rafael, cuja entrega está atrasada devido ao conflito israelense com o Hamas.

Mas a decisão de escolher a Elbit Systems não é isenta de controvérsias. Com um alinhamento frágil ao governo PTista e com a forte cobrança às forças armadas por boa parte da população, a licitação para os obuseiros autopropulsados é apenas o mais recente capítulo dessa relação. Em 2023, o exército defendeu a venda de 400 unidades do blindado Guarani adapto para versões de ambulância para a Ucrânia, a operação renderia 3,5 bilhões de reais, porém foi vetada pelo Ministério das Relações Exteriores, e chancelado por Lula.

A esquerda petista já se mobiliza contra a compra, levantando preocupações sobre o financiamento indireto da guerra em Gaza. Recentemente José Genoíno declarou que comprar armas de Israel traria problemas com a militância social do governo, que não entenderia à medida que Israel está em Guerra na faixa de Gaza. Importante ressaltar que o governo de Lula não caracteriza o massacre de 07 de outubro de 2023 e o Hamas como terroristas.

Nas últimas semanas, as forças armadas brasileiras reclamaram publicamente do corte de investimento na Defesa por parte do governo Federal, o que dificultará ainda mais os desafios de licitações de compras internacionais, com barreiras ideológicas sendo um entrave para adquirir o melhor custo-benefício em material bélico.

Agora, a decisão está nas mãos do governo. Uma escolha que vai além do campo de batalha.