Precisamos aprender a viver com o vírus”

Com esta frase, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson anunciou na segunda-feira o fim das medidas restritivas no combate à pandemia de Covid-19 na Inglaterra, a partir do próximo dia 19. Reparam que a medida vale somente para a Inglaterra, uma vez que os demais países do Reino Unido (Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales) têm autonomia para decidir como e quando encerrar as medidas.

Boa parte do comércio já reabriu na Inglaterra, mas com capacidade reduzida, além de uma série de restrições que deverão ser retiradas, entre elas estão:

*Fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados.

*Bares e restaurantes poderão funcionar com 100% de sua capacidade.

*Estádios de futebol e shows estão liberados para o público também.

*Fim do distanciamento social.

Basicamente volta tudo como era antes da pandemia.

Mas mais importante ainda foi a decisão do governo de voltar atrás e não impor o assim chamado PASSAPORTE SANITÁRIO. As pessoas não terão que provar nada, nem teste negativo nem que tomaram uma ou duas doses da vacina.

Sinceramente tal decisão não deveria nem ser comemorada, mas dando uma rápida olhada nos vizinhos ingleses da União Europeia, foi uma grande vitória. Desde 01/07 nos países membros da União Europeia entrou em vigor o passaporte sanitário, até para você tomar um cafezinho ou cortar os cabelos.

Mas o que teria feito Boris Johnson mudar de ideia?

Precisamos destacar dois pontos.

A economia da Inglaterra está muito próxima de colapsar e mais alguns meses nesta situação, seria um dano irreversível para uma ou duas gerações de ingleses.

E o segundo ponto fica por conta das ruas.

Por vários fins de semana, milhares de pessoas saíram às ruas da capital Londres para protestar contra as medidas autoritárias no e a ideia de um passaporte sanitário. No maior deles em março quase 1 milhão de pessoas foram às ruas, no último alguns dias atrás foram 500 mil pessoas. Destaca-se também que as pessoas deixaram de protestar somente no fim de semana e vários outros protestos foram registrados durante a semana (eu mesmo estive em alguns deles).

Com uma economia em frangalhos e 500 mil pessoas no quintal de sua casa protestando (literalmente) Boris Johnson foi obrigado a tomar uma decisão política, sim a decisão foi política e não científica. Algumas horas antes do anúncio a sua equipe de cientistas tentaram (e ainda tentam) convencer Boris Johnson que era melhor esperar e observar como a variante delta irá reagir nas próximas semanas.

A média de casos diários devido à variante delta chegou a 20 mil casos diários e nas próximas semanas deve chegar a 50 mil casos diários, mesmo com mais de 80% da população vacinada com a primeira dose. O número de internações, porém é relativamente baixo- 350 por dia- segundo o site do governo.

https://coronavirus.data.gov.uk/details/healthcare

Eis que voltamos ao início deste artigo. É preciso aprender a viver com o vírus.

Boris também declarou “Se não abriremos agora, então quando? No inverno?”

O seu novo secretário da saúde, Sajid Javid anunciou que o número de casos pode chegar a 100 mil por dia em meados de Agosto, mas que o governo não pretende recuar de 1cm em sua estratégia.

Reações da oposição:

O líder do partido trabalhista (esquerda) Keith Starmer minutos após o anúncio de Boris Johnson, criticou a decisão e que segundo ele a “prudência” era a linha indicada.

Os prefeitos das cidades de Londres e Manchester (ambos do partido trabalhista de esquerda) disseram estar preocupados e que estudam maneiras de impor o uso obrigatório de máscaras, e assim iniciar uma guerra com o governo central, tal e qual aconteceu no Brasil em 2020.

De fato não existem garantias que o plano será colocado em prática, o anúncio oficial deve acontecer na próxima segunda-feira (12) e mesmo entre os otimistas, ninguém comemora. Desde o início da pandemia, Boris Johnson foi muito instável e mudou de ideia várias vezes. Os grupos que organizam os protestos estão monitorando e caso Boris mude de ideia novamente a probabilidade de 500 mil pessoas saírem às ruas novamente é grande e eu serei uma delas.