“Os homens inventam novos ideais porque não ousam tentar os velhos ideais. Eles olham à frente com entusiasmo, porque eles temem olhar para trás” G.K. Chesterton – ´O que há de errado com o mundo´.

Introdução:

A presença do índio na retórica e no cerne da narrativa revolucionária ganha um novo folego com o movimento positivista. O que foi implementado no campo da política com o golpe militar de 1889, fruto de anos de militância acadêmica de um pequeno grupo de intelectuais, havia de ter também a sua própria arquitetura, sua própria poesia, sua própria literatura, sua própria história, refundando o Brasil por meio de leis, decretos e subsídios generosos. A figura do índio entra neste contexto como à prova de uma civilização em declínio, que precisa de um Estado forte para protege-la e resguarda-la; e que é a representação para às elites ilustradas do que seria o povo humilde, pobre, o brasileiro original.

Os chamados ´movimentos culturais de vanguarda´, às tendencias que despontaram nos saraus europeus do final do século XIX e princípio do XX, parnasianismo, futurismo, modernismo, a medida que vão sendo importados, vão no Brasil adotar também uma temática indígena, recuperando a mesma justificativa revolucionária do ´bom selvagem´, de um nativo inimputável e bom por natureza e que será ´corrompido´ pela sociedade, pela civilização. Com o tempo, no Brasil, tais tendencias viraram estilos canônicos e seus divulgadores, autores, entusiastas, acabaram por tornar-se o grande referencial da cultura brasileira do período. Nomes como Mario de Andrade e Oswald de Andrade nas letras; Victor Brecheret e Tarsila do Amaral nas artes plásticas; e posteriormente, Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi na arquitetura. Também nomes não tão conhecidos hoje em dia, mas que foram os verdadeiros dínamos que alimentaram o movimento de dinheiro e sentido político, especialmente Graça Aranha (diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras) e Paulo Prado (Da família Prado, uma das grandes fortunas paulistas da época).

Para apreciar um pouco o impacto da Semana de Arte Moderna no Brasil, dela saem o conceito de nacionalismo que ainda é presente no repertório político tanto de esquerda quanto de direita, o retorno à língua tupi, hiper valorização de uma natureza que nos coloca em ´berço esplêndido´, a procura e valorização de uma identidade exótica e a identificação do índio como sendo o Povo Brasileiro.  A necessidade de um movimento artístico para preencher a lacuna deixada pelos Positivistas é tratada por José Murilo De carvalho, diz ele:  ´no meu entender, os ortodoxos introduziram no Brasil o messianismo dos intelectuais e dos militares. Depois da Proclamação da República, estes dois atores políticos se atribuíram a missão de salvar o Brasil, mesmo apesar dos brasileiros. Trata-se aqui de uma consequência direta da ideia de vanguardismo enraizada em todos os bolchevismos. ´[1] A Ortodoxia Positivista no Brasil ou o bolchevismo de classe média, título de um revelador do artigo, tinha naquele momento o poder político, mas não uma ´cultura´.

Antecedentes de uma revolução cultural:

`Dos quatro séculos de existência do Brasil, três absolutamente não tem importância …Quando se entra na literatura propriamente dita, acham-se durante os três primeiros séculos pregadores sacros, alguns raros poetas e cronistas. ´ Medeiros e Albuquerque – Discurso na sessão solene da Academia Brasileira de Letras em comemoração ao primeiro centenário da independência do Brasil. 1922

Oswald de Andrade, depois de um tempo na Europa, aporta no Brasil em 1912 trazendo o que ele achava ser o pináculo da cultura da época. O Futurismo, que havia sido promulgado por meio de um manifesto em 1909, publicado no jornal Francês Le Figarro pelo Italiano Fillippo Tommaso Marinetti (1876-1944) era recente, mas não era novidade no Brasil. Já em 1910, em um artigo no Jornal do Brasil, Carlos de Laet dá o alerta, usando do seu peculiar tom de irreverencia, para a realidade do vanguardismo futurista no Brasil:

´No sentir do iconoclasta Marinetti, uma das condições para a marcha triunfal da humanidade é só olhar para frente. Nada de retrospectivas inúteis e até prejudiciais O homem que se esteja fazendo sairá errado pelo que foi. Para progredir é preciso deslembrar, ou antes ignorar fundamentalmente o que tenha sido.´ E segue o mestre dizendo que o Brasil daquele tempo, 1910, já seguia tal receita, já praticava o Futurismo de forma ativa. Usando vários exemplos, entre eles –  ´ A catequese: eis um capítulo longamente desenvolvido em nossa História. Nenhum país do mundo tem fatos que se assemelhem, de longe sequer, às maravilhas operadas pelo Anchieta, Nóbrega e por seus companheiros. ´[2]…´Um povo que se embevecesse da História, que cultivasse a tradição, que amasse o passado, folgaria de relembrar esses feitos e tentaria continua-lo pela catequese católica, única eficaz para a redução do gentio, em toda parte do mundo. Mas o marinetismo já entre nós tinha adeptos antes de brotar o Sr. Marinetti. O que se procura fazer em catequese é o que nunca até hoje se tinha feito. Uma repartição leiga, e marinética também, há de vir aos bosques atrair aos silvícolas, pregando-lhes, ao invés do Evangelho, os relatórios da Agricultura. É sistema novo e completamente divorciado da Historia.´

O Futurismo advogava , além do divoórcio com a tradição e o uso da arte como instrumento de combate social, um culto para a técnica , a velocidade, a violencia , um ufanismo da época do ´aço e do cimento´que forjaria a criação de um novo espírito, um novo homem. Lugar comum em todos os movimentos revolucionários. Para tal Marinetti pensou não só no alimento cultural, que o grupo Futurista proveria, mas no própia arte culinária. Marinetti lançaria em 1930 o seu ´A Cozinha Futurista´ que propunha ser não só um simples livro de receitas culinárias mas sobretudo fazer da comida também uma experiència estética.

Buscando também, é claro, consequencias no campo da política, Graça Aranha, o líder do movimento deixa claro em seu discurso de recepção quando da primeira visita de Marinetti ao Brasil em 1926:

 ´´ “Se [o modernismo] foi somente uma renovação estética para desta resultar alguns poemas, algumas músicas, algumas obras plásticas, foi muito restrito e de fôlego curto este movimento. (…) Se o modernismo brasileiro é uma verdadeira força, que vá para diante. Renove toda a mentalidade brasileira. Estenda a sua ação aos costumes, ao direito, à cooperação das classes, à filosofia, à politica. Um pensamento novo, atividade nova”. Salvo engano, Aranha está propondo para o modernismo o modelo de politização do futurismo, que, a partir de 1924, com a publicação de “Futurismo e Fascismo”, passou a identificar-se sempre mais com o regime de Mussolini. Curiosamente, trata-se do padrão adotado durante o governo de Getúlio Vargas. E não é tudo, pois o livro-arma reserva outra surpresa. Três personalidades são representadas mediante ilustrações. Na página 33, um belo desenho de Giacomo Balla expressa o dinamismo de Marinetti. Na página 97, num esboço de traços rígidos, encontra-se o perfil de Mussolini. Entretanto entre o agitador futurista e o líder fascista aparece, na página 65, a caricatura de Graça Aranha, decididamente transformado em companheiro do líder futurista.´´ [3]

 

Segundo Oto Maria Carpeaux, a influência Futurista junto aos modernistas brasileiros de 1920 limitava-se aos seus slogans mais que da sua arte propriamente dita. Já, para alguns críticos, às vanguardas são em essência os seus slogans. E segue Carpeaux dizendo que ´…houve, muito compreensivelmente, a consequência do exagero; não só no movimento verde-amarelo e na Antropofagia de Oswald. O modernismo, que fora antinacionalista, redescobriu o Brasil ao preço de criar um novo nacionalismo literário e artístico, que continua até hoje, sendo a parte menos recomendável da herança.´[1]

Futurismo à Paulista – A semana de arte moderna de 1922

´Por este povo já gafado do germe da decadência começou a ser colonizado o Brasil. Frutificam esplendidamente os fortes troncos que primeiro chegaram à nova terra. Mais tarde só escapam à degenerescência de além-mar os grupos étnicos segregados e apurados por uma mestiçagem apropriada. Foi o caso de Piratininga em que o Caminho do Mar preparou e facilitou para a formação do mameluco esse ´´centro de isolamento´´, da teoria de Moritz Wagner` Paulo Prado – Paulística (1928)

A famosa Semana de Arte Moderna, que se deu no Teatro Municipal de São Paulo[1] entre os dias 13 a 17 de fevereiro de 1922, desde então, abala retroativamente a cultura brasileira. Um movimento que tinha um caráter antiacadêmico, acabou por tornar-se progressivamente um cânone graças em muito a sua apropriação e culto pela Universidade de São Paulo. Com destaque para os nomes de Mario e Oswald de Andrade (que apesar do sobrenome comum, não tinham laços familiares).

O fato é que com todas as mudanças na conjuntura política e econômica na virada do século XIX para o XX, São Paulo ganha uma relevância financeira que, na visão da elite da época, não tinha relação direta com quaisquer herança ou tradição cultural. O conhecimento era visto como uma comoditie, como algo que pode ser comprado, comercializado e, especialmente moldado artificialmente. O que em muito explica o paradoxo de a Semana de Arte Moderna, um marco revolucionário, independente, ´anti Establisment ´ ter sido financiado inteiramente pelo dinheiro do próprio Establisment.

´Enquanto a arte moderna na Europa, principalmente na França, teve que abrir seus espaços à margem dos salões oficiais – pensemos na batalha do Impressionismo – , no Brasil essa mesma arte ingressa pela via oficial e conduzida pela mão do poder. Essa inversão de situações faz pensar: revela, antes de mais nada, um esforço de modernização de um poder já assentado, mas que quer mais do que isso. Já não basta, para o café, a hegemonia num país subordinado, de extração colonial: trata-se agora de realizar uma emancipação ampla que deve necessariamente passar pelo vestíbulo da emancipação expressional. Nesse sentido, a arte moderna, pelo seu caráter renovador, teria algo a sugerir, pela sua vocação insurrecional, às mentalidades satisfeitas com os mestres do passado – na expressão de Mario de Andrade. A arte moderna servia, e muito para separar São Paulo do resto do Brasil e, ao separar, estabelecer uma hierarquia.´[2]

A narrativa de que São Paulo é uma vítima do Brasil, de ser uma locomotiva dinâmica que com sua força puxa a todos os outros estados da federação, permeia todo o pensamento Modernista e é um tem especialmente presente na obra de Mario de Andrade. Como fala Carlos Berriel no seu livro sobre Paulo Prado:

´A ideia de separação de São Paulo do resto do Brasil mobilizava parte expressiva da intelectualidade paulista da época. Mario de Andrade, que com Paulo Prado e Âlcantara Machado dirigiu a Revista Nova, publicação abertamente pró-separação opinava que havia ´´de fato uma divisão intransponível por enquanto entra S. Paulo e o Brasil. É que são duas civilizações diversas. O Brasil é uma …não chega a ser bem uma civilização, é uma precariedade, em grande parte de caráter equatorial. S. Paulo é uma civilização europeia cristã, com mentalidade, o clima a internacionalidade, os recursos de uma civilização europeia cristã.[…] S. Paulo estraga o Brasil, o Brasil estraga S. Paulo. São Paulo é uma grandeza já e seria muito mais grandioso se não fosse estragado pelo Brasil. Mas é uma civilização europeia, não creio que se possa esperar nada de realmente novo dele, sob o ponto de vista social. O Brasil é uma precariedade, mas é novo, e dele se pode esperar uma solução nova, um avanço novo, uma criação social nova, uma civilização nova. É verdade que para muito longe. Ou para nunca porque os homens do Brasil pra combater a civilização cristã querem se civilizar à europeia. A exemplo do Japão que trocou uma civilização pelo progresso.´´[3]

Apesar de ser um movimento essencialmente paulista, o entusiasmo despertado pela efervescência dos seus slogans conquistou intelectuais de outros estados. De Minas Gerais por exemplo, o então jovem Afonso Arinos de Mello Franco manifesta suas afinidades com o movimento e toma um merecido e caridoso pito do seu conterrâneo, o igualmente talentoso, Eduardo Frieiro: ´Outro ponto que haveria muito que dizer é o que alude à revolução poética e artística iniciada com a Semana de Arte Moderna, em São Paulo, e que teve logo depois no Sr. Afonso Arinos um dos seus mais vivos agitadores. Em meio das tendencias contraditórias que se notavam no movi mento, o ensaísta julga descobrir um traço de unidade na diversidade. E então escreve: ´´Esta unidade consiste precisamente no esforço que todos nós praticamos, , cada um no seu campo, para ligar a floração intelectual do Brasil às suas raízes profundas, que são os valores reais, expressivos, representativos da nossa formação brasileira.´´

É isso, os moços imaginam que o mundo começa com eles. O Sr. Afonso Arinos crê piamente, ou parece crer, que o nacionalismo literário, o interesse intelectual pelas coisas brasileiras, teve início na ruídos Semana de Arte Moderna e tudo ficou a dever aos oito ou dez rapazotes que agitavam o espírito modernista. Todo o esforço das gerações passadas, sobretudo das românticas, cem anos de preparação nacionalista, as lutas políticas, os estudos científicos, a obra de pensamento devida aos historiadores, filósofos, oradores,literatos, publicistas, jornalistas, a voz dos poetas, desde a Independência e antes da Independência, tudo isto nada significa ao senso crítico do Sr Afonso Arinos!´[1]

 

Antropofagia – um nacionalismo canibal

´Um destes muito bestial, sua bem aventurança é matar e ter nomes, e esta é sua glória por que mais fazem.. A lei natural não a guardam, porque se comem; são muito luxuriosos, muito mentirosos, nenhuma coisa aborrecem por má e nenhuma louvam por boa; têm crédito em seus feiticeiros: aqui me encerrais tudo´ Manuel da  Nóbrega – Dialogo sobre a Conversão dos Gentios

 

A releitura da História e a re-atribuição de personagens e ações do passado para corroborar uma narrativa `moderna` é uma das marcas do movimento revolucionário. O uso da figura do índio como o ´Bom Selvagem´, o elo que uniria a todos os seres humanos por ser este o Ser original, não corrompido, é uma das bases do Manifesto Antropofágico Oswald de Andrade publicado em 1926. Nele, Oswald retoma um dos principais problemas, se não o principal, enfrentado pelos missionários na colonização, a prática fortemente disseminada entre os nativos do canibalismo. A sociedade moderna acostumou-se por tratar a antropofagia como uma referência simbólica ou como um problema de ordem criminal-legal que, até devido a sua raridade no universo criminológico brasílico contemporâneo, estampa de tempos em tempos às manchetes policiais e depois morrem no eco perpétuo das novidades midiáticas. No campo acadêmico existe a ambição de uma divisão de campos entre a psicologia e psiquiatria de um lado, com uma abordagem mais individual do fenômeno, e a antropologia social de outro que tenta abordar o tema em um campo mais geral e historiográfico analisando sua prática ritual e o contexto social em que a mesma se dá. Fato é que o comer carne humana é algo cuja repugnância seria um dos poucos valores compartilhados entre sociedades tão distantes como a do Brasil atual e a sociedade Cristã Ibérica do século XVI.

O grupo Antropofágico tinha uma ideia bastante rudimentar do tema[2], o uso sugestivo do canibalismo tinha inteção de ser uma analogia cultural. A cultura do Brasil se alimentaria de todas às demais e ia, como a mistura de todas elas, criar algo novo, algo brasileiro. Claro que o referido grupo de intelectuais identicavam-se com os índios guerreiros que iam buscar o alimento, nunca com a vítima, seja ela portuguesa ou mesmo indígena. Esqueceram-se propositalmente que a civilização em Piratininga só foi possível por conta da erradicação de tal prática. Os seus gabinetes e bibliotecas às margems dos Senas ou Tietés só puderam ser erguidos e impressos por meio da estabilidade civilizatória que muitos lá criticam, assim como seus escritos, aulas e palestras só puderam e podem ser levados a cabo com a garantia de que eles não serão banquete em alguma ceia canibal. O ´Manifesto Antropofágico´de Oswald de Andrade de 1928, alardeando que:

´ Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as

religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.

Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.´ e continuando com: ´Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.

A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.´

Só pôde pregar a revolta contra a civilização porque existia uma civilização. Tradição cultural que possibilitou ao Sr. Oswald de Andrade a sociedade, a economia, a filosofia , ou seja a ampla estrutura que garantiria a ele e seus parceiros anti-Vieira os recursos burgueses para impressionar ´todas as girls´em suas sofisticadas garçonnières em uma São Paulo que então se verticalizava.

Conclusão:

´´É que o grande drama de vida e de morte para os povos não é o que decide pelas armas a sorte dos Estados; nem a de regimes políticos. O grande drama é o que decide a sorte das culturas. É a guerra entre culturas´´ Gilberto Freyre – Uma cultura Ameaçada: A Luso Brasileira

Citando o intelectual luso Eduardo Lourenço, Rubem Barboza Filho fala que: ´Um objeto sublime está fora do tempo e do espaço, e por isso mesmo só temos dele uma experiência negativa. Ele é uma presença em estado puro que excede a nossa capacidade de pensar e de imaginar, mas nos fascina e hipnotiza ao ponto de nos levar à desesperante experiência do Nada. Sem dúvida os  nossos  modernistas  de  1922  não  chegaram  a  esta  experiência alarmante, mas transformaram – pelo menos inicial-mente – o Brasil neste objeto indizível e atordoante, exigindo uma nova língua, uma nova imaginação para decifrá-lo e dizê-lo. E com isso, assegura Lourenço, expulsaram do Brasil a sua história, ou melhor, perderam o Brasil como história e a sua origem efetiva. ´[1]

A adoção do Modernismo e dos cânones da semana de arte moderna pela academia não foi um mero acidente. A Universidade de São Paulo recebeu uma influência enorme dos modernistas paulistas não só na parte da crítica literária, mas da própria identidade intelectual que foi moldada nas obras e manifestos aqui abordados. A criação de uma São Paulo diferenciada do Brasil, com uma cultura própria e com necessidades e ambições também próprias é um dos pontos que colaboraram para a consequente institucionalização do modernismo. Os grandes projetos, os marcos urbanos como o grandioso Monumento às Bandeiras de Brecheret no parque do Ibirapuera em São Paulo, reescrevem a história com uma hierarquia. No monumento por exemplo os Bandeirantes (São Paulo) estão na frente, na vanguarda, com os seus cavalos, abrindo caminho para colonos e índios (nesta ordem).

O conceito de nacionalismo que foi trazido pelo movimento modernista continua a ser um modelo no Brasil. O culto a um passado idílico que foi abalado pela chegado do português, a relativização do período colonial e o resgate algumas referências até então pouco relevantes ou obscuras que vão legitimar a releitura da história sob a nova perspectiva.  Os Tiradentes, Filipe dos Santos, Frei Canecas não por coincidência, figuras que pleiteavam uma independência regional, ano podendo ser chamados de secessionistas pois para eles não existia a figura de Brasil. Para os Modernistas a figura de um Brasil ainda era fragmentada, era uma questão de uma elite que não tem identidade e de um vácuo cultural que precisava ser preenchido por eles.

Os diversos movimentos que foram criados a partir das bases da Semana, e pulverizados pelas diversas lideranças e tendencias como o Pau Brasil, o verde-amarelismo e a Escola da Anta, a Antropofagia, etc marcam a adoção de uma arte abertamente militante, subordinada e agora com a missão civilizatória de mudança, de representar hoje um futuro que guarda todas às respostas, que dita os temas e limites do que seria belo, justo e bom.

[1] Filho, Rubem Barboza ´Ouro Preto: Barroquismo e Representação Urbana, Arquitetônica e Estética da Linguagem dos Afetos´ Perspectivas, São Paulo, v. 51, p. 11-57, jan./jun. 2018 https://periodicos.fclar.unesp.br/perspectivas/article/view/12993/8535

[1] Inaugurado em 1911, tendo como modelo o teatro da Ópera de Paris.

[2] Berriel, Carlos ´Tietê, Tejo, Sena – A Obra de Paulo Prado´ Edt. Unicamp, Campinas, 2013.

[3] Berriel, Carlos Ob. Cit.

[1] Carpeaux, Otto Maria ´Modernismo Ontem e Hoje´ em ´Ensaios Reunidos – Volume I, 1942-1978´ UniverCidade Editora / Topbooks , 1999

[1] Carvalho, José Murilo A Ortodoxia Positivista no Brasil: Um Bolchevismo de Classe Média – ´Pontos e Bordados: Escritos de História e Política´ Editora UFMG, Belo Horizonte, 1999

[2] Laet, Carlos ´O Futurismo´ Jornal do Brasil, 07/08/1910 em ´Carlos de Laet – Crônicas´ Seleção, organização e prefácio de Homero Senna . ABL – Coleção Afranio Peixoto, 61. Segunda Edição. Rio de Janeiro. 2000

[3] Rocha, João Cezar de Castro ´O Brasil Mítico de Marinetti´ Folha de São Paulo, Caderno Mais, 12/05/2002 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1205200204.htm O referido livro é o “Manifestos de Marinetti e Seus Companheiros”