Para um escritor, há fases desérticas, quando parece que sua criatividade adormece e seus textos apresentam-se burocráticos, sem vida, protocolares. São esses o períodos mais tristes para quem escreve, quando a sensação é de que sua maior força do espírito apaga-se, quando sua energia vital diminui.
Há escritores que sofrem, porque são dependentes da inspiração. Esperam que ela, como uma entidade, surja de repente e insufle nele as palavras e ideias que tomarão a sua mente e jorrarão no texto, quase como uma possessão mediúnica.
Não vou negar que, algumas vezes, isso acontece. Tem dias que as letras são vomitadas como um reflexo fisiológico. O escritor, nesses momentos, quase não pensa, mas apenas permite com que o fluxo das ideias transponha-se de sua cabeça até o texto.
No entanto, não é sempre assim. Alguém que tenha a escrita como uma atividade regular não pode depender da inspiração. Quando ela surgir, obviamente, será bem vinda e enriquecerá seu ofício, mas é preciso saber o que fazer quando Momo decide se afastar.
O escritor, se quiser tornar-se independente da inspiração, precisa manter o hábito da escrita. Isso significa forçar-se a escrever mesmo naqueles dias quando parece que nada de bom e útil irá sair de sua redação.
A escrita regular concentra o espírito nas letras, na disposição das palavras, na associação das imagens. Como uma máquina lubrificada, faz com que a mente se mantenha iluminada para manipular os argumentos, permitindo com que as ideias fluam com muito mais facilidade e fluidez.
A inspiração – aí, sim – quando encontra o hábito, torna tudo ainda mais produtivo, pois parte de algo que já está funcionando bem, elevando-o à excelência.