A cultura de massa sempre foi criticada pela intelectualidade. Tornou-se lugar comum apontar a arte submetida a processos industriais como um rebaixamento cultural. Deu-se até um nome para o produto disso: kitsch.
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Os grandes vilões, que sempre foram apontados como os responsáveis pelo florescimento do kitsch, eram os capitalistas. Foi o desejo de lucro que os críticos da cultura de massa denunciaram como o motivo de uma arte apenas preocupada em vender-se.
A lógica da cultura de massa foi identificada com a mesma lógica do processo capitalista: busca-se atingir o maior número de pessoas e, para isso, padroniza-se o produto, ajustando-o aos desejos e necessidades do consumidor.
Obviamente que esse processo de padronização leva a arte a diminuir-se, afinal, menos espaço sobra para o gênio, para o toque individual, que geralmente entram em conflito com o gosto da maioria.
Com a internet, surgiu a expectativa de que o processo da cultura de massa pudesse ser rompido. O artista, agora, não mais dependeria da lógica do mercado, à qual está submetido o capitalista financiador, e que acaba determinando como a obra deve ser oferecida ao público.
A internet trouxe a esperança de que o artista, finalmente, teria a oportunidade de ser ele mesmo, já que não mais sujeito às necessidades mercadológicas, podendo deixar transparecer sua originalidade e criatividade.
No entanto, o artista pode até não ansiar pelo lucro, mas precisa de reconhecimento. Ele não faz arte apenas para si. Todos esperam que a obra seja recepcionada e elogiada pelo público. Se as pessoas não reconhecem uma obra artística, seu destino é ser esquecida.
Diante disso, o artista acaba caindo no mesmo ciclo que movia o capitalista, ainda que por outros motivos. Ele precisa, se quiser ser visto, de alguma maneira, adequar-se ao público.
O problema é que o gosto das massas é sempre medíocre, porque equalizado pelo número. A lógica é simples: quanto mais pessoas se deseja alcançar, menos requinte, menos sutileza a arte pode ter. Para ser reconhecido pelo público, então, o artista abre mão de sua expressão genial, espontânea e verdadeiramente autoral, para ser, como era quando bancado por um financiador, um produto a ser consumido.
Dessa forma, o público guia a cultura, exigindo dela que jamais ouse ir além do que ele quer, sob pena de ignorá-la, de deixá-la ao esquecimento. Não são mais os artistas que dizem o que é melhor, são as massas que o determinam.
Quando as artes eram financiadas pelos empresários, pelo menos, podia haver a influência da autoridade, que pela força do dinheiro e do prestígio “ensinava” o público o que era bom e deveria ser consumido. Era possível, com isso, às vezes, que a genialidade aparecesse.
Agora, porém, quando não existem mais os mecenas e a arte “democratizou-se”, resta ao público decidir o que é desejável. E, sendo massa, ele sempre vai escolher o mais fácil, aquilo com que ele se identifica.
O artista que ousa ser original tem pouquíssima chance de resplandecer, porque lançará sua obra numa floresta cheia de seres bárbaros, incapazes de reconhecer a diferença estética entre uma escultura de Rodin e um anão de jardim, prontos a consumir tudo como se fossem bananas.
Sobram os corajosos, que lançam trabalhos verdadeiramente independentes e originais. E os há! Estes, porém, têm de torcer para que, pelo menos, aquela parcela do público que é capaz de compreendê-los e admirá-los os encontrem e ofereçam o mínimo de reconhecimento que todo bom artista merece.