Essa discussão[1] é tão antiga quanto a humanidade.

Se analisarmos as culturas antigas, como na mitologia grega, por exemplo, notaremos que no engendramento do mundo, as entidades se dividiam em titãs – os caóticos – e a prole de Zeus que habitava o Olimpo – os deuses ordenados. Nesta classificação, já é possível compreender uma divisão de caráter moral: os titãs são como demônios destruidores da raça humana e os deuses como que forças benéficas ou responsáveis por sustentar os aspectos da vida do homem e do mundo.

A mitologia grega é apenas um exemplo desse entendimento dualístico da realidade através do qual todas as religiões, pagãs ou monoteístas, irão se fundar.

Mais tarde, pensadores das mais variadas escolas da Grécia tentarão definir esses conceitos de maneira retórica, ou seja, por meio de uma argumentação sistematizada, exceptuando as metáforas tão caras aos mitos religiosos.

O pensamento que mais se propagou a respeito de uma interpretação dualística da existência foi o maniqueísmo e suas influências, como o budismo, por exemplo. O maniqueísmo é a corrente provinda de Maniqueu, filósofo do século III d.C que afirma, de maneira conclusiva, que a matéria (ou seja, o corpo, o mundo e seus aspectos corpóreos e efêmeros) será sempre má, sendo originária do Diabo e, contrariamente, o espírito (a parte eterna da existência) é sempre bom, criado por Deus.

No que se diz respeito ao espírito, entenda que se refere à alma ou à mente. Entretanto, este pensamento dualista se afasta tanto de doutrinas religiosas, como o cristianismo ocidental, quanto de diversas filosofias, pelo fato de categorizar a existência de maneira radical e polarizada.

Segundo o pensamento advindo de Platão, pensador da Grécia, a existência é como uma malha onde o Imutável (o espírito) habita num mundo mutável (a matéria) e, ainda que o primeiro seja superior em relação ao segundo, necessita habitar nesta “casca” para cumprir sua tarefa em vida, gerando, portanto, a existência.

O platonismo será difundido e assimilado por diversas correntes tanto ocidentais quanto orientais. Este pensamento utiliza-se da chave dialética para suas análises. Ou seja, há a unidade dentro da multiplicidade e um intercâmbio entre aspectos efêmeros e eternos na nossa existência, ainda que o homem, como ser racional, deva sempre atentar às coisas reais (era como Platão chamava a esfera espiritual) para a busca da felicidade e, como no mito da caverna, se libertar da prisão do engano que a matéria poderia lhe arrebatar.

Portanto, respondendo à pergunta de maneira dialética, o mundo pode ser ruim se analisado pelos seus aspectos perecíveis, caóticos e efêmeros presentes na matéria. Entretanto, como ensinou Aristóteles (outro grande pensador derivado da escola platônica) o maior nunca caberá no menor, querendo dizer com isso que a ordem, ou o espírito ordenador, jamais será orientado pelo aspecto mais fraco que é a matéria, o caos e a desordem.

O mundo é sustentado por uma ordem, o que chamavam de cosmo, e esse grande Logos (Inteligência, em grego), sustenta nossas vidas assim como sustenta os astros (o micro e o macro). Essa ordem é boa e tende a prevalecer mesmo com todos os aspectos miseráveis e contingenciais de que o mundo é composto.


[1] Geralmente escrevo sobre arte mas nesta ocasião havia a necessidade de responder à pergunta que se faz o título deste artigo. Vale alertar o leitor que se trata de um texto introdutório com linguagem bastante objetiva destinado a jovens do ensino médio.