A perseguição aos cristãos tem sido uma ocorrência comum em grande parte do Oriente Médio, na China e na Coreia do Norte, mas uma perseguição igualmente violenta e rancorosa está ocorrendo no meio do caminho entre o México e a Colômbia, encoberta pelo silêncio da mídia tradicional. Trata-se da mais recente política do regime do ditador nicaraguense Daniel Ortega contra a Igreja Católica, que tem sido alvo constante de desprezo e sofre acusações de minar o regime de esquerda que instalou-se no país, apesar da história de profundo contato com teologia da libertação (TdL) e do ativismo pró-esquerda que a mesma Igreja exibiu na Nicarágua. Ortega, o revolucionário sandinista que virou ditador e voltou ao poder em 2007 depois de governar a Nicarágua por mais de dez anos na década de 1980, nunca foi favorável à Igreja Católica. Desde que o clero emprestou seu apoio aos manifestantes estudantis em 2018, no entanto, seu governo aumentou significativamente a perseguição contra os católicos e contra qualquer setor da sociedade civil que se atreva a alçar voz discordante em relação ao Estado.

Em um momento em que as relações do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, com Washington estão no ponto mais baixo, o aparato de propaganda de Vladimir Putin – que desde janeiro deste ano declarou “apoio invariável”  ao atual governo do país latino – não economizou em reportagens que incluem um parecer, emitido no último dia 15 de junho pelo partido no poder na Nicarágua, que permitiu a entrada no país, a partir de 1º de julho, de um número indeterminado de militares, navios e aeronaves do exército russo, organizando as Forças Armadas para participarem no que o regime chamou de “exercícios de intercâmbio e instrução e treinamento militar em operações de ajuda humanitária”. Ora, o que pensar desse apoio mútuo senão que a Nicarágua está cada vez mais afundando-se em um regime comunista? Depois de 30 anos no país, as Missionárias da Caridade foram expulsas da Nicarágua. “Diante da decisão da Assembleia Nacional de cancelar a personalidade jurídica da fundação das Irmãs Missionárias da Caridade de Santa Teresa de Calcutá, que ofereciam assistência aos mais pobres de nossa sociedade nicaraguense, lamentamos profundamente a dor de muitos de nossos irmãos que não terão mais a atenção que recebiam das Irmãs”, escreveu o arcebispo de Manágua, cardeal Leopoldo Brenes, em uma nota em 4 de julho. O governo de Ortega mandou fechar todas as rádios católicas administradas pela Diocese de Matagalpa, ordenou à Polícia que invadisse templos católicos que possam abrigar opositores do Estado e, além disso, enviou uma tropa de choque para deter, no último dia 03 de agosto, em plena cúria de Metagalpa, o bispo católico Dom Rolando Álvares e mais onze pessoas. Neste último Domingo, 14 de agosto, mais três sacerdotes  foram atacados pela ditatura de Daniel Ortega, sendo que um foi detido e os outros dois impedidos de sair à rua. Tudo parece estar se encaminhando para que se crie uma situação semelhante à da Coreia do Norte,  onde qualquer cristão corre o risco imediato de prisão, tortura e morte. Estima-se que 50 a 70 mil cristãos estão nas prisões e em campos de trabalho forçado nesse país da Ásia, e ali todas as igrejas são pequenas e secretas, não é possível confiar em vizinhos e familiares, pois qualquer pessoa pode denunciar a fé em Jesus para as autoridades. A vida dos cristãos na Coreia do Norte é uma pressão constante que pode resultar em violência e morte, segundo informa o site portasabertas.org.br.

Alguém objetaria: “Mas Putin não é comunista, é apenas um nacionalista”. Uma ova! Essa é a típica objeção de quem não deu-se ao trabalho de fazer uma simples pesquisa na Internet e verificar o que o Presidente russo falou em seu discurso de 24 de fevereiro deste ano, quando anunciou a invasão da Ucrância, repetindo várias vezes a expressão “colapso da URSS” (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), e sempre relacionando a esse evento consequências negativas para a atual Rússia. Isso mostra a sua crença de que se a URSS não tivesse colapsado, a partir de 1991, a Rússia encontrar-se-ia menos prejudicada, ou seja, Putin crê que o regime soviético russo ainda é o melhor regime. Isso definitivamente não é nacionalismo, mas devoção ao comunismo! Putin, no mesmo discurso, afirma que “os resultados da Segunda Guerra Mundial são sagrados”, ou seja, a ascensão da URSS, seio do comunismo, como potência mundial – um dos resultados da Segunda Guerra – é, para o atual Presidente russo, algo sagrado! Que ninguém se engane: não existe “ex-agente” da KGB (a polícia secreta da URSS). Jamais um regime comunista permitiria que alguém que tenha se tornado “não-alinhado” – sabendo o que sabe devido às tantas missões secretas – continuasse vivo, ao menos não em solo russo, que dirá então chegar à Presidência do país! Acreditar que Putin ascendeu e permanece por tanto tempo no poder sem compactuar até a alma com o comunismo é o mesmo que acreditar em uma fantasia grotesca e espúria. Putin, portanto, tendo sido agente da KGB, continua sendo e será sempre um agente a serviço da Revolução marxista.

E o que isso tudo tem a ver com o Brasil? Bem, praticamente todos os países da América Latina estão retornando, com o apoio de Putin, ao controle de regimes socialistas, e o que está acontecendo com os católicos na Nicarágua é um exemplo do que pode acontecer em nosso país, caso as próximas eleições presidenciais, no mês de outubro, tenham como vitorioso o candidato da esquerda – apoiado, aliás, pelos adeptos da TdL –, que, inclusive, há pouco mais de dois anos, após os vários casos de incêndios criminosos em igrejas no Chile, perpetrados por militantes da esquerda local, disse que é preciso imitar o Chile: “atacar, e não apenas se defender”. Ora, que tipo de ataque será esse, senão a repetição dos costumeiros ataques da esquerda contra tudo o que consideram “opressor”, ou “contra o povo”? Ou seja, no horizonte aparecem mais ameaças que podem atingir os católicos, os quais serão apenas os primeiros a sofrerem o que sofrerão todos os demais cristãos e integrantes de grupos que se opuserem a um governo esquerdista.

Mas não é de hoje que a Nicarágua sofre desventuras por causa da influência dos entusiastas do marxismo. Clérigos e teólogos de várias Congregações e nacionalidades começaram, de maneira mais evidente nos anos de 1980, a dedicar-se à “luta de classes”, conforme narra Malachi Martin, em seu livro “Os jesuítas: A Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica”: “Rapidamente, dezenas e dezenas de jesuítas começaram a trabalhar, com a paixão e o zelo que sempre lhe foram característicos, pelo sucesso dos sandino-comunistas na Nicarágua; e quando os sandinistas tomaram o poder, aqueles mesmos jesuítas assumiram cargos cruciais no governo central e atraíram outros para participarem em vários níveis regionais. Enquanto isso, em outros países centro-americanos, os jesuítas não apenas participavam no treinamento de quadros marxistas em guerrilhas, mas alguns se tornaram também guerrilheiros. Inspirados pelo idealismo que viam na Teologia da Libertação, e encorajados pela independência inerente à nova ideia da Igreja como um grupo de comunidades autônomas, os jesuítas achavam que tudo era permitido – e mesmo estimulado – desde que promovesse o conceito da nova ‘Igreja do povo’. Aqueles homens eram o sonho e o ideal dos verdadeiros teólogos da libertação. Pois eles eram os combatentes, os quadros que levaram a Teologia da Libertação de teoria para o que chamavam de práxis – a implementação da revolução popular pela libertação econômica e política. Daquela práxis, insistiam os teólogos da libertação, ‘lá de baixo, entre o povo’, viria toda a verdadeira teologia, para substituir a velha teologia que certa vez fora imposta autocraticamente ‘de cima’ pela hierarquia da Igreja Romana” (pp 14-15).

Em nenhum momento os expoentes latino-americanos da TdL fizeram qualquer referência às mais de 100 milhões de vítimas do comunismo no mundo inteiro, nem tampouco relativizaram esse caminho revolucionário, objetiva e claramente condenado por inúmeros documentos do Magistério da Igreja Católica. Os adeptos da TdL, uma espécie de “guerrilheiros eclesiásticos”, empenharam-se todos esses anos em discutir política e propagar ideologia, sem emitir um mínimo juízo crítico sobre o pensamento revolucionário, sobre as contradições entre as ditaturas comunistas e a fé católica. O sofrimento e o desespero por que passa agora o povo da Nicarágua são fruto, em grande medida, de um desgraçado conceito sobre o que vem a ser o cristianismo, em particular o catolicismo.