Nas últimas semanas uma intensa campanha midiática acerca da guerra entre Israel e Hamas tem surtido efeito. Um dos principais resultados ao nível diplomático tem sido o reconhecimento forçado e sem estratégia prática para a criação de um Estado Palestino. Porém, esta ação não é tão simples como parece e hoje entenderemos as implicações e os planos do governo de Israel nesta questão.

A questão envolvendo a criação de um Estado Palestino é complexa e cheia de conflitos armados. Em 29 de novembro de 1947, a ONU, a pedido do Reino Unido, criou o comitê especial das Nações Unidas na Palestina, cujo foco era encontrar uma solução para o fim do mandato britânico sobre o território da Palestina, nome dado pelos romanos à região, como forma de punição aos judeus por suas revoltas nos século I e II.

Assim, a ONU apresentou o plano para a partilha do território através da Resolução 181 das Nações Unidas. O plano consistia na partição da banda ocidental do território em dois Estados — um judeu e outro árabe, ficando as áreas de Jerusalém e Belém sob controlo internacional. 53% do território seria atribuído aos 700 mil judeus, e 47% aos 1 milhão e 400 mil árabes, sendo desses 900 mil que emigraram durante o início do século XX e 500 mil viviam no local. O plano foi prontamente aceito pelos judeus, mas recusado pelas lideranças árabes.

Meses depois, em 14 de maio de 1948, poucas horas antes de se extinguir o Mandato Britânico e já em meio a uma guerra civil entre árabes e judeus, foi declarada a Independência do Estado de Israel, no dia 14 de maio de 1948. Os Estados árabes reagiram imediatamente.

Começava ali a primeira guerra árabe-israelense. Após estes diversos conflitos e guerras foram travadas em torno desta questão: guerra dos seis dias, Guerra do Yom Kippur, Guerra Civil Libanesa, Primeira e Segunda Intifada e a Operação Espadas de Ferro o qual é o atual conflito.

Durante estas décadas a tentativa de criar um Estado Palestino ficou cada vez mais complexa, devido às animosidades e o desenvolvimento urbano e populacional, com ambos os lados se acusando de apropriação territorial. Desde 2007, os territórios podem ser divididos em 2 tipos de administração. A 1ª engloba a Faixa de Gaza sob comando do Hamas. O grupo defende atos extremistas para defender os palestinos e a extinção do Estado israelense. Os conflitos recentes envolvem ofensivas entre Israel e o Hamas, com registros de ataques em 2008, 2009, 2012, 2014, 2018 e 2019. Gaza é o centro da guerra atual iniciada em 7 de outubro de 2023. A outra parte abrange a Cisjordânia, parcialmente administrada pela ANP. A Autoridade Nacional Palestina comanda a Área A do território, com seu centro administrativo localizado na cidade de Ramallah.

Na última semana, em um movimento que mistura a preocupação para acelerar o fim da guerra e, ao mesmo tempo, oportunismo de grupos revolucionários, além de preocupação midiática, alguns países reconheceram a criação do Estado Palestino, dentre estes países estão Noruega, Irlanda e Espanha. O grande desafio neste cenário, não é o simples reconhecimento da Palestina enquanto Estado, algo que sempre foi rejeitado por boa parte dos países árabes e pelo Hamas, que exigem a extinção do Estado de Israel.  Os principais problemas atualmente obstruindo um acordo são a fronteira, segurança, direitos marítimos, o status de Jerusalém e a liberdade de acesso à locais religiosos.

Em entrevista para a CNN americana, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, traçou planos realistas para atingir a paz em Gaza, fato que não recebeu a devida atenção na mídia brasileira. Depois de reiterar mais uma vez a necessidade de submeter o grupo terrorista Hamas a uma derrota completa (“caso contrário, não há futuro para Gaza, não há futuro para a paz”), Netanyahu mencionou três medidas:

1. “Promover uma desmilitarização sustentada de Gaza, e acredito que a única força capaz de impedir o ressurgimento do terrorismo, nesse caso, num futuro próximo, é Israel.”

2.“Ao mesmo tempo, eu quero uma administração civil feita por habitantes de Gaza, que não sejam do Hamas, nem comprometidas com a destruição de Israel.”

3. “A terceira coisa é uma reconstrução de Gaza, se possível feita pelos países árabes moderados e pela comunidade internacional.”

Netanyahu resumiu assim o que chamou de um “plano realista”:

“Democratização, administração civil por habitantes de Gaza não comprometidos com a destruição de Israel e reconstrução responsável”.

O primeiro-ministro também negou que pretenda ocupar o território de Gaza com colônias israelenses.

“A possibilidade de uma recolonização de Gaza nunca esteve sobre a mesa”, disse ele. “Alguns de meus apoiadores não gostam disso, mas é a minha posição.”

Ontem, 28 de maio de 2024, Pedro Sanchéz, primeiro-ministro espanhol, fez anúncio oficial, onde declara que o Reino da Espanha reconhece o Estado palestino, porém rechaçando o grupo terrorista Hamas, deixando claro que o estado Palestino reconhecido pela Espanha não pode ser governado por aquele grupo terrorista. Deixa também bem explícito que esse estado Palestino deve, obrigatoriamente, reconhecer a existência do estado de Israel. Desta forma, apesar da propaganda ideológica dentro e fora dos meios de comunicação apontar uma intransigência do governo israelense, vemos que o plano apresentado por Benjamin Netanyahu de fato é bem-visto até mesmo por governos de extrema-esquerda, como o Espanhol.