O homem natural é um universo fechado em si mesmo. O mundo exterior não faz parte dele, mas é captado por ele, de maneira indireta. Indireta porque intermediada por seus órgãos dos sentidos, que enviam sinais para seu cérebro toda vez que entram em contato com algum elemento do mundo, transformando-o em uma sensação específica, chamada percepção.

A percepção, porém, não tem contexto, nem uma explicação sobre a natureza das coisas, suas funções ou sua relação com os outros elementos da realidade. São meras sensações diretas, objetivas, pontuais. Percebe-se a dureza da pedra, mas isso não diz o que a pedra é, nem sua função no mundo.

Obviamente que, com a repetição da experiência, o homem é capaz de inferir que, se uma sensação em relação a algum objeto é sempre igual, então, ela deve estar informando alguma característica daquele objeto. E se objetos semelhantes transmitem sensações iguais, então mesmo aqueles objetos que não temos contato, mas que são semelhantes aos que eu tive, terão características semelhantes.

Nesse acúmulo de experiências, o homem ainda pode perceber que os elementos da natureza se encontram, quase sempre, dispostos da mesma maneira, ocupando o mesmo espaço e se manifestando do mesmo jeito. Nisso, ele pode inferir também que essas manifestações são algo próprio a esses objetos e concluir que essas são suas funções. Se uma árvore entrega, periodicamente, o mesmo tipo de fruto, a função daquela árvore deve ser dar aquele fruto.

Todavia, apesar de toda a capacidade humana de fazer inferências a partir de suas observações, nada pode garantir que elas estarão sempre corretas. Isso porque os órgãos dos sentidos não podem captar tudo, pois há elementos invisíveis, quânticos, transcendentais que estão além da percepção humana. Ignorando-os, por estarem limitados a suas percepções, as chances de erro na interpretação das coisas são enormes.

É aqui que entra o papel da revelação divina. Ela existe para trazer informações sobre a parte da realidade que o homem não pode obter por meio de suas capacidades intrínsecas. A revelação mostra ao homem aquilo que ele não pode ver por si mesmo, para que, inclusive, possa entender melhor aquilo que vê por si mesmo.