A maioria realmente prefere ser guiada a conduzir a si mesma. O auto guiamento leva a dúvida e a incerteza, um estado de instabilidade emocional que poucos foram preparados para lidar. Situações que requerem análise, prudência, sabedoria e responsabilidade se tornaram apavorantes.
Responsabilidade, no sentido de colocar-se na posição de responder por algo, é talvez a mais nova doença catalogada na categoria de transtornos mentais. Mas isso é uma coisa de doido facilmente evitada, basta terceirizá-la. Daí, o pai transfere a educação do filho para a escola mais cara que seu dinheiro pode pagar, acreditando que faz o seu melhor; o cidadão cede suas liberdades para as “autoridades”, a fim de experimentar a doce ilusão de proteção e segurança; e o indivíduo abjura suas crenças em função de aceitação do grupo.
À medida que aumenta a transferência de responsabilidade, atiça-se o sentimento de vitimismo. Qualquer dificuldade, problema ou descontentamento se torna a mais nobre justificativa de indignação e de cobrança aos gritos, reboados aos quatros cantos: UM ABSURDO, INACEITÁVEL, A CULPA É SUA!
O conto O Alienista, de Machado de Assis, está em avançada fase de realização no mundo real. Os poucos com coragem moral e maturidade emocional para se posicionarem ante a pressão do “politicamente correto” ou do jugo da “ciência” são chamados de loucos perigosos e têm sido enviados a força para a versão reestilizada do manicômio Casa Verde. A única diferença é que dessa vez não é o Dr. Bacamarte que está internando os são, é a própria população, distraída e desinteressada, tentando apenas não enlouquecer.