Há muito afirmo, na esteira de grandes pensadores e amigos, que o maior problema social da outrora Terra da Santa Cruz não é outro senão a profunda crise de inteligência, a baixa capacidade de realizar a acomodação do intelecto com a realidade. “Somos o país mais burro e violento do mundo”, nos lembra o “Velho da Virginia”. Tal burrice e violência têm uma raiz comum: o ódio ao conhecimento e à verdade objetiva. Não por acaso Santo Tomás de Aquino coloca tal prática como uma das seis formas de pecado contra o DIVINO ESPÍRITO SANTO, uma vez que desprezada a verdade, rejeitamos a primazia de DEUS em ordenar todas as coisas e governá-las, tomando para nós o propenso “direito” de dizer o que é ou não é em absoluto.

A “era digital” expõe diversos desafios para o equilíbrio e a sanidade mental. A quantidade de informações disponíveis e difusas exigiriam um poder sintético e organizacional dignos de um Sócrates para catalogar-se de forma correta tudo rigorosamente de acordo com o que realmente é. É justamente neste tempo, onde há fartura de dados disponíveis, que temos gerações inteiras com graves mazelas mentais de toda ordem possível. No Brasil essa condição é potencializada por um ensino desejoso em formar militantes doutrinados e anti-humanos desprovidos da compaixão mínima consigo mesmo, incapazes de enxergar até mesmo sua própria natureza e sinais corpóreos evidentes, entregando-se assim à escravidão da vontade — a mais difícil de se libertar. Isso gera uma estranha e diabólica “alquimia” parindo tristes episódios incompreensíveis para gerações anteriores, onde a frustração e a negação resultantes da ânsia para tudo se transformar naquilo que é desejado torna-se fontes de renda quase inesgotáveis para vendedores de ansiolíticos e antidepressivos. Alguém ousaria pensar que mesmo Bocage ou o Marquês de Sade considerariam uma pessoa que afirme de forma peremptória e convicta que “mulheres também têm pênis” estaria gozando perfeitamente te todas suas faculdades psíquicas?

Se algo pode remediar tal situação execrável e desesperadora — mesmo como um remédio pontual para tratar meros sintomas — é a volta mais que imediata a consciência do mundo real em que vivemos e seus princípios basilares tão bem expressados nas obviedades da vida. Aqueles mesmos pequenos extratos da sabedoria popular normalmente aprendidos uma vez, que só vamos lembrar quando algo de errado ocorre justamente por não os observarmos. São os famigerados óbvios ululantes.

O óbvio só o é graças a três absolutos: absolutamente verdadeiro, absolutamente evidente e absolutamente compreensível. Isso o torna reprodutível e aplicável em qualquer circunstância e sob qualquer contexto. Em favor demonstrativo, tomemos como exemplo uma das obviedades mas ignoradas na atualidade: o bom e velho dito popular “quando um não quer, dois não brigam”. Essa frase simples nos traduz uma das mais absolutas verdades metafísicas existes: a necessidade da vontade[1] para a potência se tornar um ato.

Quando olhamos para o cenário da política nacional, desejamos certos eventos simplesmente por serem a nossa vontade, ignorando completamente os muitos fatores e meios anteriormente necessários — começando pela vontade dos agentes envolvidos. Seja no espectro político da esquerda, seja na direita, seja no centro, por baixo ou por cima, a penhora da sanidade mental aos caprichos voluntariosos nos torna insensíveis ao que realmente está acontecendo. Justamente aí que mora o grande perigo, pois quando um grupo grande de histéricos e voluntariosos veem-se diante da eterna expectativa gerada pela grande expectativa muitas vezes depositadas em esperanças fajutas, fabricadas pela imaginação e/o fomentada por estelionatários desejosos de algum benefício ou da frustração de um desejo não atendido, portas são abertas para uma enormidade de perigos reais. Seja um aproveitador ou um vigarista a vender sonhos até um grave estado revolucionário[2], o que vem a reboque é sempre algo traumático para todo e qualquer povo conforme fartamente documentado pela história.

Se há uma constância neste vale-de-lágrimas que chamamos mundo é a atratividade do mal justamente por apropriar-se de aspectos do bem enquanto oferece-nos caminhos mais fáceis e doces, enquanto a realidade se impõe, doa a quem doer, necessitando assim da nossa anuência e adequação. Sem uma mente forte, dotada da capacidade para reconhecer a situação real que muitas vezes exige a renúncia dos nossos caprichos individuais em detrimento ao que é verdadeiro e bom, torna-se praticamente impossível resistir à tentação de odiar com todas as forças quem nos lembra o fato imutável de que o mundo quase nunca é da forma que desejamos. Tal qual DEUS, seu criador e mantenedor, simplesmente é.

Aqui chegamos naquele ponto onde qualquer passo em falso nos leva a um pulo no abismo. Disse Nelson Rodrigues: “Só o ódio é promocional. E é preciso odiar mais do que os outros. E berrar mais. O próprio sacerdote justifica e absolve certas ‘violências’. Há a ‘carnificina santa’. É assim no Brasil e no mundo.” A receita predita pelo mestre da crônica soa quase como uma profecia para o Brasil do final de 2022. Aquém dos lados envolvidos e espectros de influência político-partidária, sabemos que algo não está correto. Para o bem ou para o mal, ocorrem eventos catastróficos e muitos outros se avizinham. O preço da liberdade para o povo nunca foi tão caro e será inflacionado ainda mais com o passar dos dias, conforme indecisões vão passado e nada é feito por um dos lados desse claro conflito. Muitos são os caminhos que podemos tomar. Porém, a má notícia é que todos eles levarão inevitavelmente a uma tragédia. O que precisamos agora é escolher qual dessas iremos viver: a da obviedade — que implica aceitarmos a dura realidade de que “quando um não quer, dois não brigam” — ou a que virá da frustração do desejo não realizado. Escolha a sua e colha os frutos cuja única certeza é serem bem amargos.


[1] Essa vontade pode ocorrer em diversos níveis, sendo a vontade divina seu último e absoluto.

[2] Condição que pode acometer uma pessoa que, desprendida da realidade e desejosa que a mesma se adeque à sua vontade, procura impô-la de qualquer forma, sob quaisquer meios possíveis, rompendo a fronteira da sanidade aonde todos que vão contra seu desejo são automaticamente alvos a serem destruídos.