Há alguns dias, recebi de um amigo a cópia de uma carta que um prelado brasileiro escreveu aos sacerdotes que estão sob sua jurisdição. Na citada carta, esse prelado repreende os consagrados que não realizaram a vacinação contra o coronavírus, imputando-lhes por isso “irresponsabilidade” e “erro”, e instando-os, em um tom de escrita notadamente severo e inflexível, a rever suas escolhas.

Ora, é preciso lembrar àquele senhor prelado que: 1. A atual vacina contra o coronavírus (Covid-19) – seja qual for a marca à qual pertença – é notoriamente experimental, pois não houve tempo hábil para que a fabricação alcançasse níveis adequados de segurança e eficácia; 2. Nem os fabricantes das vacinas, nem os governos – em qualquer nível – responsabilizam-se por qualquer efeito colateral, ou óbito resultante da aplicação desse imunizante; 3. Há relatos, em várias partes do mundo, de efeitos colaterais graves e de óbitos atribuídos ao uso dessas vacinas; 4. O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 15, diz que “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”1; 5. O Código de Nuremberg, formulado em agosto de 1947 por juízes dos EUA para julgar os médicos nazistas acusados, dispõe, entre seus preceitos sobre experimentos em seres humanos, que: “o consentimento voluntário do ser humano é absolutamente essencial. Isso significa que as pessoas que serão submetidas ao experimento devem ser legalmente capazes de dar consentimento; essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem qualquer intervenção de elementos de força, fraude, mentira, coação, astúcia ou outra forma de restrição posterior; devem ter conhecimento suficiente do assunto em estudo para tomar uma decisão – n° 1”2; “o pesquisador deve estar preparado para suspender os procedimentos experimentais em qualquer estágio, se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que a continuação do experimento provavelmente causará dano, invalidez ou morte para os participantes (Código de Nuremberg, 1949) – nº 10”3.

A atitude tirânica do referido prelado – que em absoluto é um especialista em experimentos médicos em seres humanos – é parte de um fenômeno bem observável nos dias de hoje entre alguns membros e pastores da Igreja Católica, que, baseando-se em seu próprio pensamento, ou por simples convicção política, têm buscado influenciar e cooptar fiéis, recusando o necessário alicerce na verdade, e agindo com um autoritarismo que contrasta com o que eles dizem aos outros de si mesmos, ou seja, “dialogantes”, “inclusivos”, “misericordiosos”. É um fenômeno semelhante à esquizofrenia, onde uma pessoa tem a mente dividida, marcada por surtos em que o mundo real acaba substituído por delírios e alucinações. Há somente o que deplorar nessa onda de confusão eclesial, que é fruto da presença, dentro da Igreja Católica, de uma Outra Igreja, parida por filhos bastardos e que é um monstro, na acepção mais pura da palavra (ou seja, “qualquer ser ou coisa contrária à natureza; anomalia, deformidade” – Dicionário eletrônico Houaiss).

Existe hoje, portanto, a Igreja Católica de sempre e a Outra – se usarmos os mesmos termos que Gustavo Corção, em seu artigo para O Globo, de 29 de dezembro de 1977. Essa Outra Igreja assemelha-se a uma imagem no espelho, posto que não é a Igreja verdadeira, não é a original, não é a querida por Jesus Cristo, mas tem a aparência dela.

Os membros da Outra Igreja, naturalmente heterodoxos, dizem-se democráticos, preocupados com o povo, mas agem como o absolutista Luís XIV, também conhecido como “Luís, o Grande” ou “O Rei Sol”, que foi o Rei da França e Navarra de 1643 até sua morte. A ele é atribuída a famosa frase: “L’État c’est moi” (= “O Estado sou eu”). O absolutismo à moda do Rei Sol, ou seja, subjetivista, sem outro alicerce que não o de si mesmo e o dos próprios caprichos, é uma das marcas visíveis dos pastores e demais adeptos da Outra Igreja, apesar de considerarem-se mutuamente pregoeiros da paz, da tolerância e do diálogo.

O espanto se alastra porque em tudo a Outra Igreja parece ser semelhante à verdadeira, e, propositalmente, essa Outra não se separa da Igreja Católica, justamente porque deseja destruí-la a partir de dentro, valendo-se de instrumentos como a ambiguidade e a confusão. Uma infiltração de duração secular tem sido a arma silenciosa dessa espécie de “cupim”, que está hoje na plena execução do seu plano de “roer” a Igreja Católica por dentro, com a esperança de que ela desmorone. Os frutos amargos dessa infiltração estão sendo colhidos de forma mais dramática nesta geração, e os fiéis estão tendo dificuldade para saber em quem confiar, especialmente quando o assunto é doutrina. Assemelham-se a “ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). A Igreja Católica na América Latina experimenta hoje o resultado calamitoso de uma contestação reiterada – para dizer o mínimo – da liturgia, dos sacramentos, da interpretação da Sagrada Escritura, da catequese, das devoções populares, etc., infligida pelos os adeptos da Teologia da Libertação, que já há algum tempo parecem ter-se refugiado numa espécie de crença eco-feminista.

Como explicar a um penitente – o qual, por culpa de maus Párocos, e às vezes até de Bispos, ou mesmo Cardeais, muitas vezes não teve a necessária instrução para dar as “razões da sua esperança” (Cf. 1Pd 3,15) – que existe por aí uma Outra Igreja, sem que esse penitente se escandalize, sem que ele comece então a relativizar a sua pertença à Igreja verdadeira? Esse é apenas um dos grandes desafios que o demônio nos impõe hoje em dia, valendo-se dos tentáculos do comunismo e do globalismo: uma espécie de cisma informal. Quanto aos desdobramentos da pandemia de Covid-19, por exemplo, determinar o fechamento dos templos religiosos é o mesmo que dar um testemunho público de que no ser humano não existe uma dimensão transcendente, que precisa ser alimentada tanto quanto a dimensão imanente. É óbvio que é preciso tomar precauções de higiene, mas o lockdown dos templos religiosos, na minha opinião, definitivamente não faz parte da solução do problema. E se fechar os templos não serve à cura, resta-nos concluir que é apenas um experimento, um ensaio para a execução dos planos de poder totalitário anticristãos, tanto do comunismo quanto do globalismo.

Não podemos nos iludir, estamos em um tempo de guerra, e numa guerra todo soldado importa, mesmo aqueles que fazem os trabalhos mais simples, ou menos perceptíveis. Não subestimem os próprios dons, não superestimem os próprios limites, busquem a superação, disciplinem o corpo e exercitem a mente. Nunca acreditem que já aprenderam o suficiente. Tenham paciência. Conformem-se com a necessidade de sacrifícios. Aprendam a trabalhar em equipe. Aceitem que, como em toda guerra, muitas das pessoas que amamos serão abatidas pelo inimigo, e assumam que apesar disso precisamos seguir em frente, deixando-nos guiar pelo Cristo, que é Caminho, Verdade e Vida. Honrem a memória dos que tombarem dignamente na luta, e assegurem o bem aos que ainda nascerão. Lutem com sabedoria e estratégia pela preservação de direitos e liberdades individuais. Que os católicos recorram à poderosíssima intercessão da Virgem Maria, leiam repetidamente o Catecismo, a Bíblia, a vida e o ensinamento dos santos, para que não sejam enganados por falsas doutrinas. Rezem o quanto puderem e, acima de tudo, nunca esqueçam que, no momento em que tudo parecer perdido, aí então é que estará próxima a vitória definitiva de Cristo.

Frustrar-se-ão os adeptos dessa Outra Igreja, se confiarem na vitória de seus falsos ensinamentos, da ressignificação de tudo o que é católico e da desconstrução da sã doutrina de Cristo, pois é o próprio Cristo quem nos garante que nada destruirá a Sua Igreja: “as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).

O joio ainda está misturado ao trigo, mas a verdade sobre o que realmente pensam e tramam os corações está cada vez mais evidente, e em breve tornar-se-á óbvia. O cristão católico não deve temer o tempo presente; deve, ao contrário, confiar na ação de Deus. Nesse sentido, são consoladoras as palavras do Profeta Ezequiel: “Assim fala o Senhor Deus: ‘Eu mesmo me ponho contra os pastores. Vou reclamar deles as minhas ovelhas e lhes cassar o ofício de pastor. Os pastores não vão mais apascentar-se a si mesmos. Resgatarei as minhas ovelhas de sua boca, não mais lhes servirão de alimento’.” (Ez 34,10)