Não há dúvidas que Olavo de Carvalho (1949 – 2022) foi um dos maiores pensadores e filósofos brasileiros de todos os tempos. Seus escritos despertaram mentes e corações adormecidos inclusive para os caminhos da fé católica. São incontáveis os testemunhos de pessoas que voltaram para à Fé Primeva após ouvi-lo juntamente com o padre Paulo Ricardo, bem como pessoas que alcançaram dimensões muito mais elevadas da fé ao ponderar novas perspectivas nunca lhes apresentada até então. É o caso deste que vos escreve, por exemplo.

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Porém, é notório que a maioria das pessoas que hoje citam coisas introduzidas pelo professor no debate público ou mesmo usam trechos de vídeos como porretes para um lado “A” ou “B”, desconhecem por completo o motivo pelo qual destacamos Olavo de Carvalho como filósofo. E isso é um erro grave muito aquém de qualquer falha na alfabetização que o propenso intérprete possa ter ao lidar com textos e opiniões do velho lobo da Virgínia.

Por exemplo, como vocês acham que seria, com base em sua na filosofia, a resposta para a pergunta: “Se um algum desafeto se mostrasse verdadeiramente arrependido e consciente dos erros que cometeu, propondo-se com sinceridade remediar seus erros da melhor forma que pudesse, você aceitaria de bom grado e ofereceria sua confiança e amizade novamente?” Um néscio que visse algum vídeo do professor Olavo criticando veementemente a inação e posições ambíguas do Bolsonaro, o vínculo com ditaduras sanguinárias e o narco-terrorismo (HAMAS, PCC, FARC e outros) do PT, ou as trapalhadas e absurdos proferidos por um Joel Pinheiro da vida, pensará que o professor jamais perdoaria quem quer que fosse por erros tão graves que poderiam custar a mente ou a vida de muitas pessoas. Deslocada do sentido real que essas peças se propõem e, principalmente, afastando-as da integridade de seu pensamento, Olavo de Carvalho poderá parecer um poço de grosserias, apesar de verdadeiro. Nada além. Muitos, para o bem ou para o mal, em seu favor ou contra, pensam que isso o resume.

Essa pergunta despretensiosa talvez seja o melhor termômetro para saber se alguém realmente conhece o pensamento do professor e o princípio mais basilar de sua filosofia. Vejamos o que diz o professor a respeito desse tema em uma simples postagem em sua rede social mais ativa:

“Se vocês acompanharam os raciocínios finais do filme ‘O Jardim das Aflições’, não terão dificuldade de entender o que vou explicar em seguida. Se enfatizo tanto a importância do perdão, não é só porque ele é o centro e o topo da revelação cristã, mas porque meditei personalizadamente o assunto desde um ponto de vista não religioso ou teológico, mas metafísico, e adotei como tese formal da minha filosofia a convicção de que ele é uma das chaves essenciais da estrutura mesma da realidade como um todo. No filme — assim como em muitas aulas —, expliquei que não há um intermediário entre o ser e o nada: o que quer que tenha entrado na esfera do ser por uma fração infinitesimal de segundo não pode nunca mais retornar ao nada, porque nunca esteve nele e, ao contrário, pertenceu sempre à esfera do ser. Se tentamos conceber o transcurso do tempo como estrutura total da possibilidade, entendemos o que é a eternidade, no sentido de Boécio: a posse atual e simultânea de todos os momentos. Logo, o que quer que aconteça na esfera temporal está contido na eternidade de uma vez para sempre. Isso é a irrevogabilidade absoluta do acontecer. Ao nada, nada retorna, porque do nada, nada proveio. Ora, em toda a esfera do acontecer universal, desde as partículas subatômicas até a totalidade das galáxias, e atravessando mesmo todos os mundos supracorpóreos e espirituais que possam existir, só há UM tipo de fato que, uma vez ocorrido no tempo, pode ser suprimido da eternidade. São os nossos pecados. O perdão sacramental apaga o pecado do registro do ser. O perdão divino não é somente um castigo suspenso, mas uma anulação do fato, um DESACONTECER total e definitivo. Correlato da criação ‘ex nihilo’, o perdão devolve ao nada o que nunca esteve no nada. O perdão é obra da liberdade divina e, nesse sentido, transcende a estrutura inteira da possibilidade universal. Quem quer que tenha a oportunidade de participar desse milagre, sob qualquer maneira que seja, deve aproveitá-la ao máximo, porque nada, nada, nada deste mundo lhe dará, na medida das forças humanas, compreensão mais luminosa do mistério da existência.”[1]

Em outra de suas aulas no Curso Online de Filosofia, Olavo aponta para a criação do Homem como um instrumento universal necessário e irrevogável para o exercício da liberdade divina com relação ao perdão divino dos pecados, sendo este a única criatura capaz de receber o perdão divino. A explicação para tal afirmação é relativamente simples. No ponto mais elevada na ordem do ser e principalmente do conhecer, não é dado aos anjos a capacidade do arrependimento, uma vez que todo conhecimento a eles totalmente revelado, não havendo qualquer tipo de margem para ausência ou incompletude de informação apreendida, uma vez que essa é absolutamente integral.  Muito menos os animais a quem o conhecimento infuso, segundo sua natureza meramente instintiva, impede que eles tenham a capacidade de discernir as coisas por meio de um ausente intelecto. Portanto, para que DEUS opere o perdão divino, é necessário que haja um ser capaz de apreender a realidade que lhe é apresentada, cujas limitações de um aprendizado analógico através de sentidos materiais limite a apreensão das coisas em sua integralidade, tornado a construção de sua própria consciência um constante incremento até que esteja completa após sua morte, colocando assim uma única alma humana muitos graus acima de qualquer obra material presente na estrutura da realidade, sejam planetas, quasares, estrelas, galáxias, etc. Nada é tão grande quanto uma única vida humana, veículo e instrumento divino do exercício de sua liberdade amabilíssima de perdoar. Compreender a dimensão extraordinária do perdão divino através da obra do professor Olavo me fez uma pessoa diferente em muitos sentidos. A isso e muitas outras coisas lhe serei grato nessa vida e na próxima. Entristece-me ver tantas pessoas mentalmente desequilibradas usar sua obra para fins tão baixos e deslocado dos sentidos mais elevados que ele sempre tentou passar ao ensinar que antes de qualquer plano político mirabolante, devemos cuidar de nós mesmos e nosso próximo. Perdoar para ser perdoado, amar para ser amado, sorrir para receber o sorriso do CRISTO e da VIRGEM MARIA quando essa hora maravilhosa chegar.

Repense novamente em sua vida e se realmente o Olavo só tem a ensinar politicazinha provinciana ou se seus livros e aulas podem ser instrumentos poderosos para mudar sua vida e te deixar mais próximo de imitar AQUELE que, em suas palavras, veio ao mundo não para moralizar, mas para perdoar os pecados.


[1] fonte: https://www.facebook.com/carvalho.olavo/posts/846212725530803 (grifos meus)