Excerto do Boletim Parnaso, publicado em 20 de outubro de 2023. Clique aqui para ler o boletim na íntegra.
Já que falamos em poesia, em Homero, que tal tratarmos agora de um personagem poético de Homero? Heitor é, talvez, meu personagem predileto da Ilíada. Digo talvez pois outros tantos são bem interessantes, Eneias, Pátroclo, Diomedes, Ulisses e o próprio Aquiles. Mas Heitor é especial, tanto que, esse nome foi eleito para ser o nome de meu filho, caso fosse menino, mas aí veio Cecília para a nossa alegria, e Heitor virou apenas o nome de meu diário — pasmem.
Mas o leitor pode perguntar: por que você disse “personagem poético”? Ele não existiu de verdade? A resposta curta é: é possível que sim. Mas não há registros documentais de tal existência. Porém, há achados da cidade de Tróia e evidências de uma grande guerra na cidade, podendo ser observada hoje no sítio arqueológico de Troia, localizado na Turquia. Bem, por isso criei a seção personagem, ao invés de tratar de Heitor como biografia, pois me deterei na obra de Homero.
Heitor é um dos príncipes de Tróia, filho do rei Príamo, irmão de Paris, o causador da guerra de Tróia, ao levar Helena, esposa do espartano Menelau. Na pintura acima, de Angelica Kauffmann, Heitor está “dando um puxão de orelha” em Paris, por não estar lutando na guerra, mesmo sendo o seu causador. Estas foram as palavras do nobre Heitor:
Estranha criatura! Não te fica bem estares para aí amuado. As tropas morrem em torno da cidade e da íngreme muralha, em combate; e é por ti que a guerra e o grito da refrega lavram em volta da cidade. Tu próprio te zangarias com outro qualquer que visses a tentar retirar-se da guerra odiosa. Vá, levanta-te, antes que a cidade se abrase em fogo ardente — Ilíada, canto VI, vv. 326–331
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Acho que a Angelica Kauffmann pintou muito bem esse momento. Heitor não era perfeito, tinha seus momentos de fraqueza, mesmo sendo o melhor dentre os troianos. Mas aqui elenco algumas de suas virtudes admiráveis em um líder.
Coragem e habilidade: Heitor foi um homem capaz de morrer pelo seu povo, mesmo não tendo culpa pela guerra, e sua capacidade de liderar e inspirar eram sem comparação, superando, a meu ver, o próprio rei, seu pai. Devoção à família: a relação com sua esposa, Andrômaca, e seu filho, Astíanax, é descrita como amorosa e afetuosa. O diálogo do casal é uma das coisas mais lindas que se tem na Ilíada, recomendo que leiam, também está no Canto VI. A devoção que Heitor tinha à sua família se estendia a todo o povo de Tróia. Nobreza e honra: Além de carregar a responsabilidade de proteger o seu povo, Heitor era nobre e honrado para com seus inimigos, respeitando-os como oponentes e demonstrando compaixão pelos caídos em batalha.
Heitor é morto defendendo a sua cidade. É derrotado por Aquiles em um duelo. Além de motivado por vingança, Aquiles recebeu armas e auxílio dos deuses. Mesmo sendo o melhor dos Troianos, não tinha como vencer facilmente. O funeral de Heitor é doloroso, dramático. Com a morte dele, morria toda Tróia.
Que personagem inspirador, tenha ele sido real ou não, estou certo de que deva ter mexido com o imaginário de muitos na antiguidade — assim como hoje.
Excelente artigo. Sempre gostei do Heitor, apesar de conhecê-lo apenas dos cinemas. Gostaria de ler Ilíada. Outro personagem que me toca bastante neste sentido é o Leonidas de Esparta. Também tinha uma relação linda com a esposa e seu povo. Na bíblia vejo um personagem que sinto ser parecido com eles também: Urias. O que esses homens todos tem em comum com Cristo ? O final deles é trágico neste mundo, mas sempre que vejo suas histórias, meu coração se inflama de amor. Curioso isso. Talvez não estejam tão mortos assim no final …