Retórica, no sentido amplo, é um tema que além de interessante é muito importante, principalmente em tempos tão caóticos. De fato, a estética do discurso, a “fala bonita e pomposa”, pode ser hipnotizadora ao ponto de embaraçar a capacidade de analisar a estrutura do argumento e a intenção do falante, coisa que poucos se atentam para isso.

Pois é, muitos ficam tão atraídos pelo esteticismo que se esquecem de verificar o conteúdo da fala, de observar se as premissas são válidas e se foram aplicadas no contexto social e temporal adequados, se dizem respeito às conclusões propostas e se o falante não está usando técnicas de manipulação, como programação neurolinguística. Além de todos esses filtros cognitivos, deve-se verificar a relevância da informação, a fim de não gastar horas a fio com coisas irrelevantes.

Toda vez que alguém se apresenta com palavreado complicado ou contando estorinhas com forte apelo emocional, parar de prestar atenção no conteúdo e analisar a intenção do falante é fundamental para não ser enganado. Por trás de toda fala existe um propósito dominante que guia toda a argumentação ao longo do discurso. Para implantar uma ideia na cabeça de alguém, faz-se necessário suspender a descrença dela, o filtro cognitivo que impede a pessoa de acreditar em tudo o que vê e ouve.

Objetivos maliciosos ou frágeis logicamente precisam ser mascarados por camadas estéticas, desviando, assim, das barreiras da consciência. A falta de clareza de propósito é essencial para enganar o ouvinte, o vocabulário excessivamente complicado e o arranjo sintático truncado distraem e confundem, enquanto que o apelo aos sentimentos exacerbados, quando bem feitos, cria uma atração incoercível. No tocante a este último, a persuasão por intermédio das emoções ou sensações físicas (sensualidade) normalmente possui uma “veia artística”, sendo amplamente empregada no meio revolucionários com todas aquelas danças esquisitas, performances teatrais grotescas e canções bizarras.

Trazer à consciência a importância de não se distrair com a retórica pode ser a grande estratégia para rejeitar o erro, para recusar uma culpa imerecida ou evitar grandes problemas. Isso deveria ser uma seríssima preocupação entre todos. Depois de ligado o alerta contra os faladores pomposos, afirmo ao nobre leitor que deixará de admirar muita gente, o que vai provocar certa vergonha, pois, afinal, ninguém se sente confortável ao admitir que era aconselhado por pessoas non-sense ou por enganadores sofisticados. Livrar-se de embusteiros é dar a si mesmo um precioso presente.