Reclamar da perda de pequenas parcelas de liberdade soa como instransigência. Afinal, há certos direitos que, ao abrirmos mão deles, parecem não fazer nenhuma falta. São pequenas liberdades vistas como pequenos luxos que, ao serem retirados, não aparentam suprimir nada de substancial.

No entanto, permitir que pequenas liberdades sejam arrancadas sem um motivo convincente é o que pavimenta o caminho para o totalitarismo. Se não somos capazes de defender nossas liberdades triviais, mesmo aquelas que nos parecem irrelevantes, chegará o dia que todas elas nos serão tiradas.

Logo, a defesa da liberdade não deve ser um princípio, ou seja, não deve variar conforme o conteúdo afetado. Não é porque certo direito não nos é importante e, talvez, nos pareça renunciável, que é certo achar normal ter de abrir mão dele.

Um direito suprimido dificilmente é retomável; uma obrigação imposta dificilmente é retratada. Além disso, a necessidade governamental por impor regras é insaciável e ininterrupta. Por isso, cada lei que suprime liberdades, por menos relevantes essas liberdades nos pareçam, é um passo adiante na longa marcha estatal para dentro do nosso espírito.

Uma pequena liberdade suprimida significa o Estado tirando de nós um pouco do que somos, do que pensamos, do que fazemos, até tornar-nos meros autômatos, seres pasteurizados, formatados para sermos aquilo que os poderes deste século acham que devemos ser.

Por isso, a liberdade a ser preservada não é a liberdade específica, aquela importante segundo a minha perspectiva, mas a máxima liberdade possível e aceitável. Ainda que a liberdade alheia me desagrade, o certo é defendê-la até o fim.

A verdade é que, em um tempo onde nossas liberdades nos são tiradas, não todas de uma vez, mas gradativamente, lutar por cada uma delas é urgente. De fato, esta é a única luta que importa, pois ela representa a verdadeira resistência contra os grandes poderes do nosso tempo.