Caros leitores, este artigo tem por intenção trazer novamente à tona uma antiga tradição do jornalismo brasileiro: o debate salutar de ideias entre autores, jornalistas, analistas e escritores através de seus textos.

Em sua coluna quinzenal aqui no PHVox, nosso caro Paulo Papini iniciou uma série onde levanta a dúvida: Qual foi o maior Império? EUA ou Roma? Onde a primeira parte tende a responder se estamos mesmo assistindo os EUA ruir.

Como o tema é de extremo interesse de minha parte e possuo visões diferentes sobre o exposto pelo nobre Papini, irei iniciar diálogo sobre estas questões com ele. Propondo que sempre irei apresentar uma visão baseada nos pontos que ele trouxer em sua coluna quinzenal, ao final da série deixo a sugestão que ambos, Papini e eu, escrevamos um artigo de considerações finais sobre o tema. Deixando assim para vocês, caros leitores, visões amplas sobre o tema para análise.

Parte 1 – Estamos mesmo assistindo o ocaso dos EUA como maior potência do planeta?

A pergunta para esta pergunta ao meu ver é: Provavelmente sim. Todavia, isto não significa que o fato já esteja consumado e o veredito dado. Como nosso mantra no PHVox dita: “a geopolítica não é linear”. É preciso que tenhamos em mente alguns fatores que apontam que caso o rumo não seja alterado, os EUA passarão por um processo que irá diminuir e muito a sua influência e importância no mundo como um todo.

A crise não somente do sistema de justiça americano é um problema, pois esta é uma tendência global preconizada por Murray N. Rothbard em seu livro a Anatomia do Estado,  onde o judiciário seria utilizado como um cartório de chancela Estatal ou mesmo de interesses supranacionais em momentos que os Estados não estivessem alinhados com os stablishment’s políticos. No caso dos EUA, esta questão ainda possui um fator determinante em relação a outros países, pois a Suprema Corte pode simplesmente negar-se a aceitar o protocolo de uma ação judicial, como assistimos no caso do Estado do Texas nas eleições de 2020.

A crise de valores americanos, por outro lado, é onde vejo o maior e mais perigoso desafio aos Estados Unidos da América, pois é justamente este o ponto que baliza o que podemos chamar de solidez do Estado americano. Um conjunto de valores fortemente protegidos por sua constituição, onde os pais fundadores conseguiram prever atos revolucionários ainda pré-revolução francesa que iriam servir como defesa, ainda que não totalmente, mas de maneira efetiva aos princípios mais básicos propostos em seu projeto de nação ainda no século XVIII. Porém, estamos assistindo um declínio brutal de princípios nos grandes centros americanos que antes eram potencializados somente pela mídia e formadores de opiniões.

O debate público americano sempre foi apreciado e isto fazia toda a diferença; hoje, porém, impera uma lei silenciosa e não escrita chamada “cultura do cancelamento”. Em nome dela estamos assistindo o debate público ser completamente aniquilado na terra do Tio Sam.

Empresas demitem funcionários por seus posicionamentos políticos conservadores, grupos e organizações financiados por promotores do pensamento da “sociedade aberta” descarregam caminhões de dinheiros em grupos de pressão. Redes sociais simplesmente definem o que pode e o que não pode ser discutido em suas plataformas.

Os casos mais gritantes neste sentido aconteceram no ano de 2020:

  1. O Jornal The New York Post foi censurado pelas redes sociais por uma matéria que expunha o caso do laptop de Hunter Biden, as empresas de distribuição de informações alegaram que era uma fake News e teoria da conspiração trumpista. O caso, todavia, foi admitido no início de 2021 pelo próprio Hunter Biden, obviamente após a eleição de seu pai. Nenhuma empresa retratou-se com o jornal que já possui mais de um século de história e que foi criado por um dos Pais Fundadores do país.
  2. O Presidente em exercício Donald Trump, fazendo uso de sua conta oficial como Presidente nas redes sociais foi censurado e silenciado. Em uma declaração à nação na televisão como Presidente dos EUA, foi simplesmente retirado do ar, sem nenhum pudor. A medida arbitrária e inacreditável foi aplaudida por muitos americanos.

Não se trata apenas de ter um presidente bom ou ruim, trata-se de um processo muito maior, no mesmo ponto que também começou a ruína total do Império Romano: o declínio dos valores culturais.

Outro ponto levantado por Papini é a questão do direito internacional nas relações diplomáticas, reproduzo o ponto abaixo:

Amigos, no Direito Internacional Público não se pratica ato de força algum contra embaixadores, cônsules e membros de corpos diplomático em geral. Isso é uma ofensa seríssima. Basta lembrar que na Segunda Grande Guerra nazistas e soviéticos, quando iniciados os conflitos entre os outrora aliados, respeitaram os embaixadores visitantes.”

Aqui temos a abertura de um ponto crucial no declínio como potência dos EUA, a mudança das relações não somente diplomáticas, mas também das mudanças que envolvem os conflitos armados. Os EUA invadiram o Afeganistão crendo em uma incursão rápida e direta na derrubada de um outro exército uniformizado e identificado. Encontrou uma situação muito mais complicada, em uma guerra não habitual para suas forças e que teve impactos brutais por duas décadas em sua diplomacia, estratégias militares e cofres.

Porém, quero aqui chamar a atenção para o episódio de Benghazi na Líbia, onde não somente uma embaixada foi atacada, como o seu embaixador também foi assassinado. A deterioração da sociedade mundial não passa somente por abraçar os valores revolucionários de transformação cultural entre as nações, mas também pela perda dos valores diplomáticos, mas acima de tudo os valores morais.

Acredito que esta não é a maior crise exposta dos EUA, porém é a mais perigosa, pois se antes possuíam uma força moral, cultural e unidade patriótica, hoje estão fragmentados internamente, com instituições também fragmentadas e com um olhar de desconfiança mundial completamente novo ao País. Nos últimos 100 anos da história americana, nenhum país olhou para os EUA e o tratou com soberba, como fez Putin recentemente, nunca neste período aliados dos EUA precisou de visitas emergenciais para um vice ignóbil garantir promessas de proteção contra ameaças militares externas.

A queda de uma potência, quando feita por dentro, não é rápida. Costuma fazer o país sangrar aos poucos e sem que os sintomas iniciais sejam percebidos por seu povo. Quando estes acordarem pode ser tarde demais.