Quando o inimigo tem, a seu favor, todos os instrumentos de poder que lhe permitem agir, sem ser ameaçado, a única arma que possui o potencial de atingi-lo são as palavras. Este é o motivo porque a liberdade de expressão é tão perseguida.

Por essa razão, quem se dispõe a enfrentar esse tipo de guerra precisa saber usar bem a linguagem.

Política é combate, mas, raramente, combate direto. Por isso, é um erro atuar nela fazendo uso de um palavreado descuidado, sem estratégia, sem tratamento. Em política, quem fala de qualquer jeito, geralmente, é punido: na urna, na própria disputa e, às vezes, até na justiça.

Política é confronto, mas, principalmente, um confronto retórico. Suas armas são os discursos, as manifestações públicas, as negociações e os acordos – todos meios de comunicação que exigem saber usar a linguagem para convencer, persuadir e causar impressões.

Por isso, quem se enfronha na selva política precisa saber usar muito bem a linguagem. Afinal, ela é como faca afiada, que desbasta o mata cheia de armadilhas e perigos, como é o jogo de poder.

A linguagem, como arma retórica , possui duas forças importantes: a precisão e a sutileza. Por aquela, atinge-se o inimigo no seu ponto fraco, desnuda-o, revelam-se suas fragilidades; por esta, alcança-o sem se expor, sem precisar se colocar na linha de tiro. Pela primeira, fere, sem sangrar; pela segunda, mata, sem ser percebida.

Na guerra política, pode-se falar de força, até de confrontos físicos. No entanto, mesmo os maiores tiranos e genocidas não dispensaram o bom uso da linguagem para, pelo menos, ornar suas ações com um véu justificável.

Quando o inimigo se mostra mais forte, a exigência de um bom uso da linguagem se torna ainda mais imperioso. Neste caso, saber usá-la está além de uma boa estratégia; é questão de sobrevivência mesmo.

A linguagem usada com inteligência confunde o inimigo mais poderoso, impedindo-o de agir, arrastando-o para uma luta onde todos são iguais, a saber, o campo do debate público. Também, é pela linguagem que se esquiva daquele que tem a força institucional a seu favor, atacando-o sem que, muitas vezes, nem ele perceba. É a chance de humilhá-lo sem que ele possa manifestar-se, sob pena de assumir a humilhação.

Por tudo isso, quem se envereda pelo mundo da política e não aprende a usar bem a palavra é indesculpável. Fazer isso é como por-se no front sem armas. Pode parecer corajoso, mas jamais será sábio, muito menos heróico.