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Notas metafísicas sobre a solidão para uma direita política

Há uma pergunta melancólica que tomou conta do meu ser durante esse tempo de afastamento das redes sociais e dos debates “politicistas”. Uma pergunta que pode parecer demasiada ridícula para o número de certezas inabaláveis que são apresentadas todos os dias pelos nossos pensadores do apocalipse. Ei-la:

Ainda é possível, no mundinho dos homens-massa, permanecer-se só?
Creio eu que esta pergunta não permeia o imaginário dos nossos intelectuais direitistas em geral. Por um motivo deveras simples: muitos deles estão tão preocupados na implantação e na busca de um regime abstrato perfeitíssimo que esqueceram-se do nosso drama composto (o desejo de ordem do corpo que sempre busca a ordem da alma), da Queda das nossas almas e da nossa busca incessante por respostas transcendentes – ora satisfatórias ora não. Essa mutabilidade trágica da existência que faz-se presente vinte e quatro horas por dia na mente do homem solitário.

Parece-me, por muitas vezes óbvio, que o caminho para sustentarmo-nos no mundo moderno não está na adesão cega e absoluta dos tentáculos do Jardim das Delícias. Senão que, imbuídos de um caráter único da personalidade, fruto da ação de Deus no mundo físico, deparamo-nos com a tensão entre as dores espirituais do Jardim das Oliveiras e o mero contentamento sensível no Jardim das Aflições. Nosso Senhor Jesus Cristo, no topo da Cruz, no mais alto nível da História, deixou-nos o ensinamento perceptível para a reta razão: apenas o homem sozinho, diante da Verdade irrefragável do Ser, pode ter a consciência do Todo quando depara-se com o Juízo. Contudo, como os homens acharam-se no direito de “tomarem” o lugar de Deus pelos processos temporais, se perdeu na barafunda dos Signos. Pois tudo aquilo que preenche o referente pelo qual o sujeito apreende os predicados fora substituído pelo enganoso mundo do verbo humano. Em outras palavras, são vendidas facilidades falsas para uma felicidade ainda mais falsa através de chavões e falas de efeito. As pessoas, como um todo, não se deram conta que esse modus operandi ainda é o mesmíssimo da Serpente no Jardim do Éden. Do mesmo modo, a tal guerra cultural, tão alardeada aos quatro cantos do globo terrestre, que nada mais é que a tentativa da suplantação da Cidade dos Homens sobre a Cidade de Deus, transformou-se na arma perfeita para perdição das almas com a desculpa de “vencer” os revolucionários. Essa “vitória” equivocada, pensada por conservadores assanhados, passa longe da totalidade da realidade. Ora, Cristo, ao sacrificar-se pelos nossos pecados e deixar seus Sacramentos, sua Doutrina, e seu Amor pelo mundo, venceu a guerra cultural naquele momento. Portanto, não há outro caminho nesta guerra que não seja voltarmo-nos às verdades da fé e seus preâmbulos racionais. Somente grupos massificados podem pensar em outras categorias para esgotar o Ato dogmático de Jesus e seus ensinamentos e suplantá-los com a absolutização das potências da razão pura.

A tentativa de desordenar nossas potências inferiores e superiores pela razão pura não tem nada de cristão, mas de modernismo racionalista. Raciocinar o mundo como princípio e fim, ignorando a experiência de Deus pelos seus efeitos na criação, culminou nas piores ações disto que chamamos de Humanidade. E, nos acontecimentos contemporâneos, essa mesma Humanidade busca, perdidamente, trazer o Paraíso para o plano espaço-temporal.

Apenas almas solitárias, desprovidas de ilusões quanto às enganações carnais, percebem o engodo monumental dessas premissas humanistas e trata logo de superá-las, dialeticamente, pela sua afirmação como Pessoa participativa do Verbo Encarnado. E participar do Verbo Encarnado não se dá de outra forma senão que pela θεωρία (theoria – contemplatio – contemplação). O ato de contemplação, contém em si, todos os acidentes da matéria e das formas. É o momento único entre o Ente (composto de corpo e alma, Essência e Ato de Ser) e seu Criador (Actus Purus). Diante disto nada mais importa. Nada mais nos preenche. É nesse momento que trazemos as questões e respostas mais importantes. É nesse momento que imploramos para que Deus, além de nos perdoar pelas nossas faltas e tentativas dúbias de ser como Ele, nos leve para junto d’Ele como filhos miseráveis que somos.

Não é icônico que os grandes Santos e sábios da História tiveram, em boa parte de suas vidas, a solidão como ato formal de suas vivências? Como pudemos ignorar, na modernidade – tão vendida como Idade da Razão –, a grandeza dessa atitude perante a realidade? Como pudemos ignorar o método por excelência dos grandes homens em sua busca pela Verdade? Como ousamos jogar panos quentes nas questões metafísicas mais essenciais para nos refugiarmos no campo da sensibilidade subjetivista?

Todas essas perguntas, decorrentes da primeira feita no início deste texto, mostram a perplexidade de um homem que resolveu esquecer-se por alguns minutinhos para priorizar o que está em seu em torno. Imaginem se vocês, por algum acaso, fizessem o mesmo? Seria uma espécie de retorno ao que perdemos nos períodos tradicionais da nossa civilização: se não podemos responder todas as perguntas de uma vez só, não podemos trazer respostas absolutas do Cosmos como se este fosse Messiânico em si mesmo.

Aquietem-se e perguntem mais. Pois para um homem humilde e solitário Deus dá todas as respostas, seja nesta vida ou na Eternidade.

 

– Daniel Ferraz – Proeminente estudioso do movimento revolucionário global e da tradição da Santa Igreja Católica. É apresentador no Canal Daniel Ferraz no youtube.

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