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O apelo à tal ética formal universal que surge da mentalidade de que é possível agrupar todo mundo por meio da supressão dos pontos controversos é algo muito em voga nos tempos atuais. Para agradar a todos, o expediente de discursos e conversações em que somente se toca no que a plateia aceita é o meio mais certeiro e simples. Tal postura representa a supremacia da retórica sobre a dialética. O sinal transmitido é claro: concordar com tudo que o outro acredita.
Esse modo de lidar é também uma afronta à ciência, pois esta pressupõe que uma fração da realidade seja “cortada” para que, em profundidade, se estude, analise e retire conclusões que necessariamente precisam retornar para o todo (a realidade), a fim de testar os achados. Essa mesma ética formal é a redução da pesquisa para os lugares comum já definidos, é o fim da verdade.
Mas se o confronto é a alma da dialética, e da ciência, será possível existir espaço para uma convivência entre opositores? Com certeza sim, pois que todo sistema tirano busca exatamente essa tal ética universal, o fim das dissidências. A unicidade de pensamento é própria das utopias imaginadas por ditadores, cuja a restrição da liberdade de pensamento é o meio para alcançar tal empreendimento.
“A verdade nunca é descoberta num espaço vazio; a descoberta é um ato de diferenciação praticado em um ambiente bastante tenso de opiniões; e, se a descoberta se refere à verdade da existência, chocará o ambiente num amplo leque de suas mais arraigadas convicções.”
Eric Voegelin, A nova ciência política, p.55.
Isso demonstra o erro de confrontar e discordar num mero formalismo, a fim de evitar a tensão dos choques de ideias, apenas falar e “lavar as mãos” foi o que fez Pôncio Pilatos, que entregou nosso Senhor, o Verbo encarnado, para os injustos. Então, verifica-se que até a aceitação das situações precisa de limites.
O fim da diferenciação e a falta de seriedade para lidar com assuntos graves são ingredientes da massa bolorenta que avoluma o politicamente correto, a secularização da religião e o fim da virtude. As pessoas estão optando pelo ranço invejoso que visa a reprimir os que se destacam para não terem que lidar com suas frustrações, onde isso vai chegar!
Por fim, comparar sem uma régua que dê a envergadura das coisas também é um problema, a falta de referencial e de hierarquia degrada até a mais nobre intenção. A homenagem ao banditismo só porque ele é bem-sucedido é caso que não pode ser ignorado, o sucesso dos marginais não deve ser louvado, mas acontece porque o referencial deixou de ser Deus e muitos valores foram subvertidos, coisa que poucos perceberam (deve ser por causa do agito do hit do tipo “senta, senta, senta”). Falta, além do resgate da diferenciação, a busca honesta por uma doutrina que dê segurança para quem caminha. É incrível como se chegou ao estado de confusão mental que leva ao costume de falar “gratidão” (absorção de doutrina oriental) e falar da Santa Maria sem entender nenhuma das duas doutrinas, de dizer que é conservador e partilhar de ideais esquerdistas, de dizer que é cristão e apoiar abortos em casos excepcionais. O enfrentamento contra isso são a divulgação da verdade, o estudo sério e a incessante busca da vida virtuosa.
Coincidência ou não, ontem li um artigo do Prof. Olavo de Carvalho, de 2001, falando sobre o mesmo comportamento da atualidade, onde a simplificação da lingua, incapacitando a descrição da realidade, trás o uso excessivo de figuras de linguagem, que acabam por reduzir o debate de idéias ao mero confronto de opiniões e no final a desumanização do opositor.