Pouca gente é capaz de entender uma pessoa que se diga livre de ambições. A mentalidade medíocre acredita que o que dá sentido à existência são suas conquistas pessoais ou, pelo menos, a perseguição delas.
Para uma mente mediana é muito difícil compreender uma alma que se dispõe apenas a cumprir sua vocação, independentemente dos resultados que possam dela advir.
A vocação é a convicção de um chamado, não apenas para fazer algo, mas para se encaixar na existência de determinada maneira. Responder a esse chamado significa dispor-se a aceitar viver neste mundo de uma forma peculiar, que é a única forma que faz sentido para essa pessoa.
Isso é incompreensível para quase todo mundo porque a mente comum, mesmo a que esteja entre as mais inteligentes, só consegue entender as missões universais, o cumprimento que vale para todas as pessoas igualmente. Os encaixes especiais, que escapam das responsabilidades e, algumas vezes, dos valores comuns, são vistos como desvios, não como missões específicas. A não ser que esses desvios levem a resultados que se conformem à expectativa coletiva – neste caso, a peculiaridade é tolerada por um bem maior.
No entanto, há espíritos que, seja qual for a consequência disso, só encontram sua razão de existência quando se dispõem a viver de certa maneira, a cumprir certos tipos de tarefas, a buscar certas coisas para as quais nem eles mesmos, muitas vezes, entendem o motivo. Por isso, a vocação tem muito de disposição de fé, de confiança que esse encaixe no cosmos existe por algum motivo que pode ser que sequer seja vislumbrado ou compreendido. A vocação pode se manifestar simplesmente pela certeza de que se deve dedicar a algo sem nem saber por quê.
De qualquer forma, o mundo nunca esteve preparado para os vocacionados especiais. Inclusive, condenou alguns deles. O que o mundo, porém, não pode negar é que sem eles praticamente todas as grandes conquistas da humanidade não teriam acontecido.