Segundo nos informou a agência de notícias Acidigital, no último dia 22 de fevereiro, quatro participantes proeminentes – todas mulheres – anunciaram oficialmente que estavam deixando o controverso processo do Caminho Sinodal Alemão. As professoras de teologia Katharina Westhorstmann e Marianne Schlosser, a filósofa Hanna-Barbara Gerl-Falkovitz e a jornalista Dorothea Schmidt levantaram questões fundamentais sobre a direção e a condução do evento alemão, de acordo com o que também informou a CNA Deutsch. As quatro mulheres disseram que não podiam mais, em sã consciência, participar de um processo que “cada vez mais” separava a Igreja na Alemanha da Igreja Católica ao redor do mundo. “As resoluções dos últimos três anos não apenas questionaram os fundamentos essenciais da teologia católica, da antropologia e da prática da Igreja, mas também os reformularam e, em alguns casos, os redefiniram completamente. Não podemos e não iremos compartilhar a responsabilidade por isso”, disseram.

Ainda segundo a Acidigital, o Caminho Sinodal Alemão, programado para terminar com uma reunião final em Frankfurt, nos últimos dias 9 a 11 de março, aprovou medidas para pressionar a Igreja Católica a incorporar a ideologia de gênero e a ordenação de mulheres ao diaconato sacramental. O texto “Abordar a diversidade de gênero” foi aprovado com o apoio de 96% dos 197 delegados com direito a voto. Dos bispos, 38 votaram a favor, 13 se abstiveram e só 7 votaram contra. Segundo um padrão que se repetiu em toda a assembleia, haveria votos suficientes para não aprovar a medida se os 13 bispos que se abstiveram tivessem votado contra. Os críticos desse Caminho Sinodal dizem que a remoção do voto secreto pelos organizadores criou uma atmosfera de medo que fez com que vários bispos não votassem livremente. O texto final pede “melhorias concretas para os fiéis intersexuais e transgêneros”, que incluem mudar os registros de batismo para corresponder ao gênero com que a pessoa se identifica, ou que a “identidade de gênero” possa ser considerada para funções no ministério pastoral sem proibições. Também promove a educação obrigatória para padres e funcionários da Igreja, a fim de abordar “o tema da diversidade de gênero”. O texto até mesmo proíbe que sejam usadas as “características sexuais externas” como critério para “aceitar um homem como candidato ao sacerdócio”, medida que poderia abrir as portas para a ordenação de mulheres que “se sentem” como homens ou de homens que “se sentem” como mulheres.

O assédio a que têm sido submetidos todos aqueles que não estão de acordo com os que oficialmente se dizem “tolerantes”, fez com que alguns bispos não se animassem a defender os próprios princípios, e assim foram aprovadas conclusões que são claramente cismáticas, como por exemplo: 1. Pedir que desapareça o celibato obrigatório dos sacerdotes; 2. Que os leigos – entenda-se sobretudo as leigas – possam pregar homilias durante as Missas, celebrar batizados, e celebrar casamentos; 3. Que se possa abençoar todo tipo de casais, não importando sequer se já estejam unidos a outra pessoa pelo matrimônio na Igreja –, devendo-se conceder a bênção a casais homossexuais, casais que nem civilmente ainda estão unidos, ou casais unidos civilmente e ainda não sacramentalmente. Decidiu-se ainda que é necessário criar um tipo de liturgia especialmente adaptada a esses casos; 4. Aceitação completa da ideologia de gênero. Assume-se que o gênero – ou o sexo – já não é uma questão ligada à biologia, mas ligada à própria vontade, ao sentimento de cada um.

A situação é tal que já não se trata mais de que alguns cardeais de alto nível do Vaticano intervenham, porque o Caminho Sinodal Alemão já chegou às suas próprias conclusões, sem dar nenhuma importância ao que pensa, ou ao que pensará o Vaticano. Estamos em um momento histórico em que o Santo Padre, em vista do ministério petrino – que só ele possui – precisa intervir para, cumprindo o seu dever de confirmar seus irmãos na fé, mantenha vigente a doutrina dos apóstolos, a mesma doutrina que têm recebido um após o outro todos os pontífices, desde São Pedro. A Igreja de hoje não pode mais esperar aqueles quatro anos que esperou para condenar Lutero. As comunicações, atualmente, são brutalmente mais rápidas, e, se não houver uma intervenção imediata por parte do Papa, muitos vão considerar que há uma permissão tácita para pôr em prática tudo quanto formulou a conclusão do Sínodo alemão, e imediatamente começar-se-á a aplicar as mesmas práticas em muitos países do mundo.

O filósofo Ortega y Gasset dizia que “o que acontece conosco é que não sabemos o que nos está acontecendo”. É preciso falar das raízes do mal, do que está por trás do mal que sofremos, e, para saber por que acontece o que nos acontece, é preciso ir às causas, e examinar se temos ainda tempo de modificá-las. No fundo, o que aconteceu no Caminho Sinodal Alemão foi justamente isso: agora já não se vê mais o ensinamento como procedente da Palavra de Deus, ou da Tradição, mas como procedente do povo, que tem poder para decidir, por votação, o que é legal e o que é ilegal, o que é bom e o que é mau, inclusive em aspectos religiosos, reclamando as mudanças que considere necessárias em moral sexual, em elementos de doutrina e de fé, na recepção dos sacramentos, em quem administra os sacramentos, ou inclusive no governo da Igreja, através dos chamados “Conselhos Sinodais”, onde o bispo é tão somente uma voz a mais nesse grupo formado majoritariamente por leigos. Para os delegados do Caminho Sinodal Alemão, é no povo que reside a soberania, é do povo que emana o poder, e não há mais necessidade de escutar o que Deus tem a dizer hoje, nem o que Ele disse no passado.