Eu sou uma crítica ao material veiculado na NetFlix. Lacração, roteiros pobres, atuações sofríveis e adaptações de clássicos que parecem que foram escritos por chimpanzés sob efeito de entorpecentes.
Mas, temos que ser justos. Quando algo é bem-feito e pode ser usado como alerta para adolescentes e jovens adultos, deve ser elogiado e divulgado. Esse é o caso da minissérie Click Bait.
Clickbait é uma minissérie da Netflix, apresentada em 8 episódios, que conta como um perfil falso destruiu a vida de um fisioterapeuta. Não só a vida dele, como de todas as mulheres que acreditaram que estavam falando com o Nick, levando uma das mulheres que se apaixonou ao suicídio.
Com o suicídio da mulher, seu irmão Simon, revoltado, sequestra Nick e o obriga a gravar o vídeo segurando as placas em que parece confessar crimes de abuso sexual e assassinato, seguidas por uma última mensagem: “Chegando aos 5 milhões de visualizações, eu morro”.
Após longa conversa com o sequestrador para tentar entender o que estava acontecendo, Simon percebe que Nick não era o responsável pelas mensagens que levaram a sua irmã ao suicídio e o solta. Horas depois, Nick é achado morto. Assassinado.
Nick Brewer, um fisioterapeuta que vive uma vida aparentemente perfeita com a mulher e os dois filhos na Califórnia. Ele descobre que a esposa teve um caso com um colega de trabalho e desabafa com uma colega de trabalho. Uma senhora, que tem por volta de 70 anos, com jeito de vovó. Dawn é o seu nome.
Com a relação de confiança estabelecida, Nick permite que Dawn sincronize seu telefone com o computador, fato esse que dá início a trama cheia de reviravoltas e reflexões incomodas para os usuários de aplicativos e sites de namoro.
Solitária e sem a atenção do marido, Ed, ela usou as fotos de Nick para conversar com mulheres mais jovens. Depois que seu marido descobriu o que ela estava fazendo e a chamou de ‘doente’, Dawn entrou em uma discussão com uma das garotas e descontou toda a sua raiva e frustração na conversa. E, como resultado, a jovem tirou a própria vida.
Dawn inclusive instalou um programa que modificava a sua voz para ligar para as mulheres e dar mais veracidade ao perfil, prometendo se separar da esposa para ficar com elas, jurando amor verdadeiro e descrevendo cenas de sexo.
A família de Nick enfrenta uma batalha para descobrir quem é o assassino e dúvidas sobre a veracidade do perfil começam a surgir na trama.
No desenrolar eletrizante e dramático, romances virtuais bobos vão surgindo, expondo a fragilidade contemporânea da carência e do desespero por relacionamentos superficiais. Dentro desse labirinto, a minissérie coloca em check os relacionamentos via aplicativo e site, levando os usuários a questionarem com quem eles realmente interagem, confiam e se expõem, muitas vezes de forma sexualmente explicita, com vídeos, fotos e áudios.
Em profunda reflexão, nos questionamos até onde vai a confiança em um total desconhecido em troca de migalhas de atenção e conversas vazias. A confiança em um relacionamento inexistente. Sem toque, sem a presença, sem o olhar… Sem a simplicidade inerente das relações. Como algumas pessoas se envolvem tanto ao ponto de cometerem loucuras como dar suas senhas bancárias e, até se matarem. Com quem você realmente conversa? Você sabe em quem você deu “match” nas últimas horas?
A necessidade de atenção, a carência e o desespero por uma relação profunda está se tornando uma paranoia na sociedade, levando as pessoas a acreditarem em qualquer foto bem trabalhada das redes sociais. Falta de tempo, as falsas denúncias de assédio de sexual contra homens e a tal da liberdade sexual – mais conhecida como libertinagem sexual – criou uma sociedade amedrontada e profundamente solitária, desesperada por qualquer fragmento de sentimento correspondido. Um prato cheio para pessoas cruéis e mentalmente desajustadas como Dawn.
Na saída do labirinto desenhado pela trama, Dawn, ao ser questionada por seu marido do porquê ela ter se passado por ele, destruindo não só a vida do casal, mas como a vida de Nick, da mulher que se suicidou e do filho de Nick, que foi sequestrado pelo casal, quando descobriu tudo e, estava prestes a morrer, Dawn responde que não aguentava mais ser invisível, tanto para o marido, como socialmente e que estava se sentindo solitária.
Um sentimento de inadequação social e rejeição marital, levou a senhora atenciosa a destruir vidas e famílias. Por outro lado, pessoas extremamente carentes, que acreditaram em uma relação virtual, afirmam aos policiais que realmente conheciam Nick e que tinham um caso com ele. Não. Elas não o conheciam. Elas conversavam com um perfil falso. Nunca o tinham visto. Mas, o imaginário e o desespero por uma relação, levou essas mulheres a darem falso testemunhos, piorando ainda mais a situação da esposa que vê o seu mundo desintegrar, sem amparo emocional, lidando com a morte do marido, com a suspeita de traição e, tendo que cuidar dos dois filhos adolescentes.
Por fim, a minissérie nos coloca em um dilema pois nos leva a questionar até onde nossas ações virtuais influenciam vidas reais e, quem realmente são as pessoas que nos relacionamos nas redes sociais.
Mais um trabalho de entretenimento visando o controle social com a caça de perfis anônimos…
O ser humano hj está vivendo de aparência, da quantidade de likes, da necessidade da aprovação de pessoas que sequer ele conhece! Isso leva à essa vida vazia e essa carência!
Obrigado pela indicação, vou assistir.