Os meios de comunicação “tradicionais” — rádio e TV — são veículos de mão única. Por conta disso, por anos as pessoas acreditavam cegamente em suas informações. Sou do tempo em que existia um jargão: “Se saiu no Jornal Nacional, pode acreditar”. Já minha avó, até hoje, replica: “A notícia saiu na Voz do Brasil, é verdade!”
Muito embora boa parte da população desconfiasse de determinadas notícias, era impossível lutar contra o sistema. Quem teria condições de enfrentar a “Vênus Platinada”? (apelido da rede Globo). Mas com o advento da internet, o cenário mudou: os meios de comunicação, que antes apenas estavam na incumbência de formar — nem sempre, de INFORMAR — aos poucos, perderam sua credibilidade. E os jornalistas caíram do pedestal de “donos da verdade” e “inquestionáveis”.
Sabemos que a internet, com seu bônus, também trouxe seu ônus: crimes cibernéticos de todo tipo e a disseminação de notícias falsas apenas para alavancar a audiência são alguns dos contratempos provenientes do avanço tecnológico. Contudo, a maior conquista foi a quebra da hegemonia da grande mídia e de certos grupos políticos.
Com o passar dos anos, a imprensa tida como “tradicional” — cada dia mais envolvida em pautas progressistas — perdeu espaço para youtubers, podcasters e jornalistas independentes. E isso se refletiu em números: “Desde 2005, mais de um quarto dos jornais dos EUA morreu; até 2025, um terço deles será história. Mais de 30.000 repórteres, editores, fotógrafos e cinegrafistas perderam o emprego”, diz o editorial do jornal Pittsburg Post-Gazette.
Trago o trecho da obra “Pós-verdade”, de Matthew D’ancona, que explica sofre o problema oriundo da falta de credibilidade:
“Esse colapso da confiança é a base social da era da pós-verdade: todo o resto flui desta fonte única e deletéria (…) todas as sociedades bem-sucedidas dependem de um grau relativamente alto de honestidade para preservar a ordem, defender a lei, punir os poderosos e gerar prosperidade.”
A grande mídia quer resolver este problema; talvez o leitor pense: “Ah, os jornais vão ser mais transparentes, honestos…”. Infelizmente, não. Aqueles que se julgam pela “democracia” querem calar aqueles que não fazem parte de sua patota. Prova disso é um projeto de lei — de autoria democrata — que visa regulamentar o jornalismo nos Estados Unidos.
Apresentado em 3 de Outubro de 2021, a intitulada Lei de Concorrência e Preservação de Jornalismo visa regular a criação e distribuição de notícias com o intuito de que os anúncios sejam pagos apenas a estes, e não a outros que não se enquadrem neste perfil. A imprensa americana reclama que, graças às Antitrust Laws, os jornais dos EUA não podem negociar como um grupo.
Vamos entender o que são e como funcionam as Antitrust Laws:
“As Antitrust Laws têm o mesmo objetivo básico: proteger o processo de concorrência em benefício dos consumidores, garantir que haja fortes incentivos para as empresas operarem com eficiência, manter os preços baixos e manter a qualidade alta.”
Dentro das Antitrust Laws, há a Lei Sherman e a Lei Clayton.
LEI SHERMAN: proíbe “todo contrato, combinação ou conspiração para restringir o comércio“ e qualquer “monopolização, tentativa de monopolização, conspiração ou combinação para monopolizar.”
LEI CLAYTON: A Seção 7 da Lei Clayton proíbe fusões e aquisições em que o efeito “pode ser substancialmente para diminuir a concorrência ou tender a criar um monopólio.” Conforme alterada pela Lei Robinson-Patman de 1936, a Lei Clayton também proíbe certos preços, serviços e subsídios discriminatórios nas negociações entre comerciantes.
Percebam como as Antitrust Laws tratam daquilo que foi a gênese da formação norte-americana: a liberdade. Contudo, a tal Lei de Concorrência e Preservação de Jornalismo visa algo completamente diferente: eles querem que as negociações sejam feitas com grupos “privilegiados”, que estão definidos no texto.
Vamos aos grupos citados na lei:
O termo “criador de conteúdo de notícias” significa
( A ) qualquer organização de notícias impressa, transmitida ou digital que
( i ) possui uma equipe editorial profissional dedicada que cria e distribui notícias originais e conteúdo relacionado a assuntos locais, nacionais ou internacionais de interesse público, pelo menos semanalmente; e
( ii ) é comercializado através de assinaturas, publicidade ou patrocínio; e
( B ) ( i ) fornece notícias originais e conteúdo relacionado, com o conteúdo editorial consistindo em pelo menos 25% de notícias atuais e conteúdo relacionado; ou
( ii ) transmite notícias originais e conteúdo relacionado de acordo com uma licença concedida pela Federal Communications Commission sob o título III da Lei de Comunicações de 1934
O termo “distribuidor de conteúdo on-line” significa qualquer entidade que
( A ) opera um site ou outro serviço online que exibe, distribui ou direciona os usuários a artigos de notícias, obras de jornalismo, ou outro conteúdo na Internet gerado por criadores de conteúdo de notícias de terceiros; e
( B ) não possui menos de 1.000.000.000 de usuários ativos mensais, no total, de todos os seus sites ou serviços online em todo o mundo.
Ou seja: se você não se enquadrar em nenhum destes dois grupos, além de ser desprovido de qualquer credibilidade, não terá direito de receber verbas oriundas de anúncios. E isso está fazendo a extrema-imprensa, que é verborrágica ao falar em “diversidade” e “liberdade”, defender que seu grupelho volte ao patamar de “grupo inquestionável”.
Percebe-se que o modus operandi da imprensa americana é o mesmo da mídia tupiniquim. No editorial do Pittisburg Post-Gazette, os “intelectuais de diploma” juram de pés juntos que todo este movimento é para “preservar a democracia”: “A democracia não pode funcionar sem um público informado”. Informado apenas pela grande imprensa, traduz-se.
No Brasil, o eleito Luiz Inácio Lula da Silva já tocou a trombeta: regulamentação da mídia será prioridade nos primeiros cem dias de governo. Por que a pressa? Porque uma mídia independente incomoda os que possuem plano de poder.
Mais uma vez: é necessário filtrar aquilo que é verídico do que não é. E como jornalista, digo que não somos “ungidos”, não somos os donos da verdade. Embora o profissional possua uma base técnica, ele não é absoluto; não faltam casos de jornalistas diplomados que falsificam informações para obter prestígio (ou massagem no ego). Um caso público é o de Jayson Blair, que plagiou mais de 673 artigos publicados pelo New York Times. Para estes, há o Código de Ética e a lei para punir. Contudo, o que não se pode defender é a censura com a desculpa esfarrapada de “defender a democracia”; e é isso que a patota da grande imprensa está propagando.
Como jornalista afirmo sem medo de errar: há uma vaidade transbordante nesse meio. Ninguém quer ceder sua agenda de contatos, ninguém quer ser repórter de rua, ninguém quer dividir o “furo” da notícia; agora, todos querem a bancada do horário nobre apenas para ler telepronter e escrever obras explicando como fazer uma boa entrevista, afinal isso não dá trabalho. E uma parcela significativa quer que o governo seja o seu “papai”. Pouquíssimos são aqueles que prestam um bom serviço à sociedade (conto nos dedos da mão de Lula!).
Em tempos de pós-verdade, o jornalista deve retornar ao que aprendeu na faculdade, mas parece ter se esquecido: falar com o povo. É bom sair da clausura da redação e conversar com pessoas, sair um pouco da bolha das redes e falar com o cidadão comum. Os profissionais que hoje são deveras respeitados — Roberto Cabrini, Alexandre Garcia, Augusto Nunes, entre outros — basearam sua carreira neste aspecto. Jornalismo sem povo cria a falsa sensação de que o profissional é deus e que deve residir no Monte Olimpo da notícia — e ai de quem discordar de sua “autoridade”!
Excelente reportagem, por abarcar toda cronologia e leis que buscaram dar liberdade editorial, comparando a essa tal “Lei de concorrência e preserva…”, o que? O jornalismo CARCOMIDO da Velha Mídia!!! Eh, bom Jair pra cima deles.