Há uns meses escrevi sobre as propagandas e o esvaziamento da linguagem, inclusive em propagandas políticas. Desta vez, trato do marketing enquanto mera técnica utilitária, afastando-se da arte.
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A industrialização e a pós-industrialização trouxeram um grande problema para o mercado — e também uma solução —: a concorrência. E para sair na frente da concorrência vale a máxima “a propaganda é a alma do negócio”. Mas não só as empresas concorrem entre si para venderem seus produtos, as pessoas também desejam ser “consumidas”, em suas opiniões, conteúdos, conhecimentos, entretenimento, etc., e aí também se apropriam da máxima “a propaganda é a alma do negócio”.
Nesse espírito, o marketing digital é a disciplina do século, não está nos currículos escolas defasados, mas está na boca do povo, em menor ou maior grau. Alguns até diriam que o marketing seria uma “nova” forma de arte. Que a propaganda é coisa velha é indiscutível, dariam volumes para dissertar sobre isso. Mas que seria uma arte, a discussão pode ser interessante e, como artista, arrisco a dar um pitaco por ora. Tentarei não ser pedante.
No sentido bruto, etimológico, sim, seria uma arte. “Arte” em grego é techne: técnica, manual. Mas num sentido mais abstrato e poético não. Por mais que haja técnica no marketing, de modo geral, não há intenção alguma de alcançar o belo, o transcendente, de expressar íntimos sentimentos, individuais ou universais. O “eu lírico” no marketing não existe.
As peças de propaganda, em sua aparente ordem e originalidade, são de uma mera formatação evanescente (pura técnica, manualzinho, fórmulas), vazias, sem transcendência, tendo o belo como mero acessório, não como fim, utilitarista tanto quanto a arquitetura bauhaus. Historicamente muitas artes foram utilitárias, desde a pintura rupestre como ritual ao mais elevado poema para registrar feitos heróicos, mas o marketing, a propaganda, são puro utilitarismo. Em resumo, o tal marketing pessoal utilizado por indivíduos de todo tipo na internet é mera ferramenta de fingimento, para PARECEREM belos, PARECEREM virtuosos, PARECEREM sábios, etc. O marketing é a antiarte da humanidade anti-humana.
De fato a propaganda não tem uma finalidade artística. Ela é uma ferramenta neutra, que se utiliza de técnicas artísticas para divulgação de ideias e promoção de vendas. Inclusive pode ser usada pelos próprios artistas para divulgarem suas artes. Não há mal algum na ferramenta em si. Já o marketing está acima da propaganda. Ele é estratégia, não ferramenta. Norteia e adequa produto, preço, praça, promoção e tantos outros Ps. O marketing digital abarca o marketing de influência, marketing de conteúdo, e-mail marketing, inbound e outbound marketing… A finalidade do marketing, através da propaganda e outras ferramentas, é a venda. Certamente uma peça publicitária jamais será arte, e nem tem o intuito de ser. Mas não deixam de ser inteligentes e muitas vezes belas, emocionantes e sagazes, como o são as obras de arte.